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POLÊMICA
Lula vai propor ao Congresso um modelo em que a palavra final sobre liberação do produto caberia a um conselho político
Ministros poderão decidir sobre transgênico
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
É inspirado na legislação da
Austrália o modelo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá propor ao Congresso para liberar o plantio e a comercialização de transgênicos no país e tentar conter o racha que o tema provoca no governo. A palavra final
caberia, como no caso australiano, a um conselho de ministros.
A alternativa construída pela
Casa Civil cria uma nova instância
- claramente política- para a
decisão, acima da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e dos órgãos ambientais e de saúde.
O ministro José Dirceu (Casa
Civil), que teve papel decisivo na
liberação da comercialização da
safra de 2002/2003 e no plantio de
uma nova safra de soja transgênica, a ser comercializada até dezembro do ano que vem, vai comandar a comissão, de acordo
com a proposta.
Inicialmente rejeitado pelos demais ministérios, o modelo australiano será levado à decisão de
Lula como a única capaz de evitar
vencedores e vencidos na polêmica dos transgênicos.
Se houver algum ministro vitorioso não será Marina Silva (Meio
Ambiente) nem Roberto Rodrigues (Agricultura), mas o chefe da
Casa Civil.
O debate do projeto de lei que
vai definir o futuro dos organismos geneticamente modificados
se arrasta há meses e criou duas
correntes opostas no governo,
sem chance aparente de conciliação.
A primeira, comandada pelo
Ministério da Agricultura, quer
que a CTNBio arbitre a liberação
de produtos transgênicos.
A segunda, liderada pelo Ministério do Meio Ambiente, quer a
decisão nas mãos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), encarregado dos estudos
de impacto ambiental.
Pareceres técnicos
Na proposta levada a Lula, a comissão de biossegurança daria
pareceres técnicos. Mas eles não
seriam definitivos.
Caso o plantio e a comercialização de determinado organismo
geneticamente modificado tivessem o aval da CTNBio, o assunto
seria encaminhado à comissão de
ministros, que levaria em conta
aspectos políticos, comerciais e
até éticos para a tomada final de
decisão.
A CTNBio, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, liberou o plantio comercial da soja
transgênica em 1998, mas a decisão, que ainda dependeria de um
registro no Ministério da Agricultura para ser colocada em prática,
foi suspensa por liminar concedida pela Justiça. Até hoje o julgamento não foi concluído.
Nesse intervalo, o país contrabandeou sementes transgênicas
da Argentina para o plantio de soja, que só está liberado em caráter
emergencial para comercialização até dezembro de 2004.
Problemas iguais
A Austrália enfrentou um debate semelhante na liberação do
plantio e comercialização da canola transgênica. O país é o segundo maior exportador mundial
de canola. A comercialização da
primeira safra foi liberada apenas
em julho. De tão recente, o modelo australiano nem chegou a constar do estudo levado pelo Ministério das Relações Exteriores para
as discussões internas do governo
sobre como os demais países administravam o licenciamento de
organismos geneticamente modificados.
A expectativa da Casa Civil é
que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva decida na próxima semana a redação final do projeto de lei
a ser encaminhado ao Congresso.
Uma nova reunião de ministros
deve ser marcada para quarta-feira.
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