São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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EDUCAÇÃO E TRABALHO

Expansão do ensino privado aumenta em mais de 100% a oferta de cursos como administração e direito

Mercado recebe hoje o dobro de formados

DA SUCURSAL DO RIO

Dados do Censo da Educação Superior do Ministério da Educação ajudam a explicar por que ficou mais difícil conseguir o emprego desejado com um diploma. De 1992 a 2002, praticamente dobrou (aumento de 99%) o número de formados que as instituições de ensino superior colocam no mercado. Em 1992, 234 mil pessoas concluíram algum tipo de curso superior. Dez anos depois, esse número foi de 466 mil.
O crescimento foi ainda maior em áreas que já concentravam um grande número de formados. É o caso dos cursos de direito e administração. Em 1992, 26 mil pessoas concluíram o curso de direito, número que aumentou 110% e chegou a 54 mil em 2002.
No caso do curso de administração, o crescimento foi na mesma ordem de grandeza: o mercado recebia 25 mil recém-formados e passou a receber 55 mil, ou seja, uma variação de 123%.
O crescimento do ensino superior nesse período aconteceu principalmente nas instituições privadas. Foram feitas 1,9 milhão de novas matrículas de 1992 para 2002, sendo 1,5 milhão (ou seja, 78%) no setor privado.
Para Marcio Pochmann, secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo, isso acabou privilegiando a oferta de vagas em cursos de menor custo. "O crescimento aconteceu principalmente em cursos em que a formação exige apenas uma sala de aula e um professor", afirma.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, vê prejuízos nessa expansão pelo setor privado. "O Brasil já tem 492 mil advogados cadastrados na OAB e não tem condição de absorver toda essa demanda de formados em cursos de direito", diz. "O que mais me preocupa, no entanto, é a qualidade do ensino. Vários novos cursos foram instalados de forma mercantilista, enquanto as universidades públicas não conseguiram ampliar as vagas", completa.
Paulo Renato Souza, que foi ministro da Educação no período em que esse crescimento foi mais intenso (1995-2002), diz acreditar que é normal que o setor privado acabe se orientando pela demanda por determinados cursos.
Ele discorda da afirmação de que em seu período o setor público deixou de se expandir e que a expansão do setor privado tenha acontecido sem qualidade.
"O setor privado, e assim deve ser, se orienta pela demanda. O governo cumpriu o seu papel de oferecer vagas em áreas onde há menos demanda, como física e química. Não se pode obrigar o setor privado a criar cursos onde não há procura, a não ser que ele seja subsidiado", afirma.
De acordo com o ex-ministro, é importante que as universidades, públicas ou privadas, se preocupem com a empregabilidade de seus formados. "As instituições deveriam fazer um serviço de acompanhamento dos alunos para saber quantos estão empregados", afirma.
(ANTÔNIO GOIS)

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