|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO E TRABALHO
Expansão do ensino privado aumenta em mais de 100% a oferta de cursos como administração e direito
Mercado recebe hoje o dobro de formados
DA SUCURSAL DO RIO
Dados do Censo da Educação
Superior do Ministério da Educação ajudam a explicar por que ficou mais difícil conseguir o emprego desejado com um diploma.
De 1992 a 2002, praticamente dobrou (aumento de 99%) o número de formados que as instituições
de ensino superior colocam no
mercado. Em 1992, 234 mil pessoas concluíram algum tipo de
curso superior. Dez anos depois,
esse número foi de 466 mil.
O crescimento foi ainda maior
em áreas que já concentravam um
grande número de formados. É o
caso dos cursos de direito e administração. Em 1992, 26 mil pessoas
concluíram o curso de direito, número que aumentou 110% e chegou a 54 mil em 2002.
No caso do curso de administração, o crescimento foi na mesma ordem de grandeza: o mercado recebia 25 mil recém-formados e passou a receber 55 mil, ou
seja, uma variação de 123%.
O crescimento do ensino superior nesse período aconteceu
principalmente nas instituições
privadas. Foram feitas 1,9 milhão
de novas matrículas de 1992 para
2002, sendo 1,5 milhão (ou seja,
78%) no setor privado.
Para Marcio Pochmann, secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade
de São Paulo, isso acabou privilegiando a oferta de vagas em cursos de menor custo. "O crescimento aconteceu principalmente
em cursos em que a formação exige apenas uma sala de aula e um
professor", afirma.
O presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, vê prejuízos nessa expansão pelo setor privado. "O
Brasil já tem 492 mil advogados
cadastrados na OAB e não tem
condição de absorver toda essa
demanda de formados em cursos
de direito", diz. "O que mais me
preocupa, no entanto, é a qualidade do ensino. Vários novos cursos
foram instalados de forma mercantilista, enquanto as universidades públicas não conseguiram
ampliar as vagas", completa.
Paulo Renato Souza, que foi ministro da Educação no período
em que esse crescimento foi mais
intenso (1995-2002), diz acreditar
que é normal que o setor privado
acabe se orientando pela demanda por determinados cursos.
Ele discorda da afirmação de
que em seu período o setor público deixou de se expandir e que a
expansão do setor privado tenha
acontecido sem qualidade.
"O setor privado, e assim deve
ser, se orienta pela demanda. O
governo cumpriu o seu papel de
oferecer vagas em áreas onde há
menos demanda, como física e
química. Não se pode obrigar o
setor privado a criar cursos onde
não há procura, a não ser que ele
seja subsidiado", afirma.
De acordo com o ex-ministro, é
importante que as universidades,
públicas ou privadas, se preocupem com a empregabilidade de
seus formados. "As instituições
deveriam fazer um serviço de
acompanhamento dos alunos para saber quantos estão empregados", afirma.
(ANTÔNIO GOIS)
Texto Anterior: Pregão virtual dá noções do mercado Próximo Texto: Saiba mais: Setor público sente falta de professores Índice
|