São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Leite recua e puxa inflação para baixo

IPCA fica em 0,18% em setembro, menor índice desde agosto do ano passado e abaixo da expectativa do mercado

Para IBGE, dólar baixo e menor reajuste de preços como energia e telefone compensaram pressão dos alimentos, que já se alivia

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Pressionada nos últimos meses especialmente pelo aumento do preço do leite e seus derivados, a inflação cedeu em setembro e o IPCA ficou em 0,18% -a menor marca desde agosto do ano passado (0,05%) e mais baixa taxa para o mês desde 1998 (-0,22%). Em agosto, o índice foi de 0,47%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado ficou abaixo das previsões de mercado, que apontavam para 0,25%. Boa parte do declínio da inflação foi provocadA pela desaceleração do subgrupo leite e derivados, cujos preços médios caíram 1,2%, após quatro meses de altas expressivas.
Com o fim da entressafra e a diminuição do consumo, o preço do leite esbarrou no teto, segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
A queda do leite fez com que os alimentos registrassem retração de 0,44% em setembro. Em agosto, haviam subido 1,39%. Também se desaceleraram os preços de feijão carioca, frango e carnes.
Sem a pressão dos alimentos, a inflação acumulada no ano freou a escalada dos meses anteriores. Com o resultado de setembro, o IPCA ficou em 2,99% no ano e em 4,15% nos últimos 12 meses.
Diante dos sinais do fim da intensa pressão dos alimentos, do câmbio baixo e da contribuição favorável de diversos preços administrados, Nunes dos Santos diz que a inflação tende a "convergir para números mais baixos" e pode até mesmo ficar abaixo de 4% neste ano, centro da meta do governo.
"Não fosse o câmbio, a pressão dos alimentos poderia ter sido maior neste ano."
Outro fator que ajudou a conter a inflação, afirma, são os reajustes menores de tarifas públicas e preços administrados. De janeiro a setembro, a energia elétrica já registra queda de 4,43%. A gasolina, por sua vez, caiu 2,68% no período. O álcool teve baixa de 10,10%.
Nos próximos meses, diz, não estão previstas altas expressivas de serviços públicos, o que praticamente afasta o risco de o IPCA fechar acima de 4%.
Apesar de considerar o resultado de setembro bom, o economista Luiz Roberto Cunha vê a possibilidade de uma nova rodada de aumentos de preços de alimentos. Isso porque a tendência de alta no atacado deve chegar ao varejo, ainda que com menor intensidade.
Pelos dados divulgados ontem pela FGV, os preços agropecuários subiram 3,57% no atacado nos primeiros dez dias de outubro e impulsionaram o IPA (Índice de Preços por Atacado), que registrou alta de 1,14% no período.
Para 2008, diz Cunha, também existe a preocupação com um novo "choque agrícola", embora numa magnitude menor do que o deste ano.
Já Carlos Thadeu de Freitas Filho, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, considera que o IPCA surpreendeu positivamente em setembro e tende a fechar o ano próximo a 4%.

Copom
O resultado do IPCA de setembro, diz Freitas Filho, abre espaço para, ao menos, mais um corte da taxa de juros de 0,25 ponto percentual. "O BC perceberá que não há risco inflacionário e reduzirá a Selic." O Copom se reunirá na próxima semana.
"A queda do preço do leite mostra que não existe esse argumento de excesso de demanda. Isso é algo localizado. Não existe motivo para interromper a queda dos juros", avalia Freitas Filho.


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