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Leite recua e puxa inflação para baixo
IPCA fica em 0,18% em setembro, menor índice desde agosto do ano passado e abaixo da expectativa do mercado
Para IBGE, dólar baixo e menor reajuste de preços como energia e telefone compensaram pressão dos alimentos, que já se alivia
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Pressionada nos últimos meses especialmente pelo aumento do preço do leite e seus derivados, a inflação cedeu em setembro e o IPCA ficou em
0,18% -a menor marca desde
agosto do ano passado (0,05%)
e mais baixa taxa para o mês
desde 1998 (-0,22%). Em agosto, o índice foi de 0,47%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
O resultado ficou abaixo das
previsões de mercado, que
apontavam para 0,25%. Boa
parte do declínio da inflação foi
provocadA pela desaceleração
do subgrupo leite e derivados,
cujos preços médios caíram
1,2%, após quatro meses de altas expressivas.
Com o fim da entressafra e a
diminuição do consumo, o preço do leite esbarrou no teto, segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices
de Preços do IBGE.
A queda do leite fez com que
os alimentos registrassem retração de 0,44% em setembro.
Em agosto, haviam subido
1,39%. Também se desaceleraram os preços de feijão carioca,
frango e carnes.
Sem a pressão dos alimentos,
a inflação acumulada no ano
freou a escalada dos meses anteriores. Com o resultado de setembro, o IPCA ficou em 2,99%
no ano e em 4,15% nos últimos
12 meses.
Diante dos sinais do fim da
intensa pressão dos alimentos,
do câmbio baixo e da contribuição favorável de diversos preços administrados, Nunes dos
Santos diz que a inflação tende
a "convergir para números
mais baixos" e pode até mesmo
ficar abaixo de 4% neste ano,
centro da meta do governo.
"Não fosse o câmbio, a pressão dos alimentos poderia ter
sido maior neste ano."
Outro fator que ajudou a conter a inflação, afirma, são os
reajustes menores de tarifas
públicas e preços administrados. De janeiro a setembro, a
energia elétrica já registra queda de 4,43%. A gasolina, por sua
vez, caiu 2,68% no período. O
álcool teve baixa de 10,10%.
Nos próximos meses, diz, não
estão previstas altas expressivas de serviços públicos, o que
praticamente afasta o risco de o
IPCA fechar acima de 4%.
Apesar de considerar o resultado de setembro bom, o economista Luiz Roberto Cunha
vê a possibilidade de uma nova
rodada de aumentos de preços
de alimentos. Isso porque a
tendência de alta no atacado
deve chegar ao varejo, ainda
que com menor intensidade.
Pelos dados divulgados ontem pela FGV, os preços agropecuários subiram 3,57% no
atacado nos primeiros dez dias
de outubro e impulsionaram o
IPA (Índice de Preços por Atacado), que registrou alta de
1,14% no período.
Para 2008, diz Cunha, também existe a preocupação com
um novo "choque agrícola",
embora numa magnitude menor do que o deste ano.
Já Carlos Thadeu de Freitas
Filho, do Grupo de Conjuntura
da UFRJ, considera que o IPCA
surpreendeu positivamente em
setembro e tende a fechar o ano
próximo a 4%.
Copom
O resultado do IPCA de setembro, diz Freitas Filho, abre
espaço para, ao menos, mais
um corte da taxa de juros de
0,25 ponto percentual. "O BC
perceberá que não há risco inflacionário e reduzirá a Selic."
O Copom se reunirá na próxima semana.
"A queda do preço do leite
mostra que não existe esse argumento de excesso de demanda. Isso é algo localizado. Não
existe motivo para interromper
a queda dos juros", avalia Freitas Filho.
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