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Folga no sistema elétrico deve baixar tarifa
Crise e chuvas fartas reduzem geração de térmicas; conta ao consumidor, que chegou a R$ 2,3 bi em 2008, ficará agora em R$ 230 mi
Reservatórios das usinas
hidrelétricas atingem
volume inédito na década;
na região Sul, nível chega
a 94% da capacidade
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A folga no sistema elétrico
brasileiro neste mês de outubro, auge do chamado período
seco, é a maior em dez anos, informa o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o responsável por gerenciar o abastecimento do país. Além de reduzir ainda mais o risco de apagão para 2010, a chuvarada será
notícia positiva para os consumidores no ano que vem.
A crise econômica e o volume
de chuvas reduziram ao mínimo a geração térmica complementar no período de estiagem, de abril a outubro. Com isso, a conta a ser rateada pelos
consumidores no ano que vem
será de apenas R$ 230 milhões.
Em 2008, a geração térmica
-usada para garantir o abastecimento numa economia que
crescia ao ritmo de 6% ao ano-
trouxe para as tarifas uma conta de R$ 2,3 bilhões. Este custo
foi pago nos últimos reajustes
anunciados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no primeiro semestre.
Em relação aos reservatórios
das hidrelétricas, onde está armazenada a maior parte da
energia elétrica brasileira, a situação é inédita na década.
As regiões Sudeste e Centro-Oeste estão neste momento
com os níveis de reservatório
nas hidrelétricas a 69,6% da capacidade total e com volume de
chuva 80% superior à média
histórica. A área é a mais importante do país em termos de
armazenagem de energia para
o sistema -concentra 190 mil
MW dos 270 mil MW da capacidade de geração do Brasil.
No Nordeste, segunda maior
área de armazenagem de energia, o volume dos reservatórios
(que incluem Paulo Afonso, Sobradinho e outras) é de 67,7%,
com nível de chuva 3% superior
à média histórica. No Norte, o
nível de chuva está 5% acima da
média, e o dos reservatórios está a 52,1% da capacidade total.
Nas duas regiões, os volumes
são os melhores da década.
No Sul, as tragédias provocadas pela chuva indicam o que
está ocorrendo. Os reservatórios, agora no auge do período
seco, já alcançam 94,1% da capacidade, o que exige das usinas a liberação de água pelos
vertedouros para aliviar o peso
sobre as barragens. Segundo o
ONS, a afluência atingiu 150%
acima da média histórica. "Por
um lado, esse volume de chuva
encheu os reservatórios, mas
também tem provocado todos
esses problemas para as populações do Sul", diz Hermes
Chipp, diretor-geral do ONS.
Volume semelhante a região
só viu no início desta década,
entre 2000 e 2002, quando o
resto do país enfrentou o apagão. Na ocasião, o Sul poderia
ter socorrido o Sudeste e o Centro-Oeste -não o fez por falta
de linhas de transmissão capazes de transferir a energia armazenada nos reservatórios.
O excepcional volume de
chuvas no Brasil fez a geração
complementar com térmicas a
gás ser muito menor que a previsão inicial. O gasto estimado
no início do período seco, em
abril, era de R$ 800 milhões.
Ficou em R$ 230 milhões.
Desse valor, R$ 100 milhões
se referem à geração térmica
ordenada pelo ONS para garantir a reserva de água nos reservatórios. Os outros R$ 130 milhões foram gastos para assegurar a transferência de 6.000
MW médios de energia do Sudeste para o Sul.
Isso foi necessário entre abril
e junho, quando a região Sul, diferentemente da situação atual,
enfrentou grande estiagem decorrente do fenômeno climático La Niña. "Em julho, o fenômeno mudou para El Niño, o
que resultou num volume de
chuvas muito grande e interrompeu a necessidade de transferência de energia de um sistema para outro", diz Chipp.
Sobra de energia
O ONS calcula que o país tenha hoje sobra de 5.000 MW
médios de energia até 2013. Esse bloco de energia é formado
pela redução de 2.000 MW médios do consumo previsto para
2009 e pela energia de reserva
comprada das usinas de biomassa (na maioria, de açúcar e
álcool) e das unidades a óleo
combustível que entraram no
último leilão de oferta para
"entrega" em cinco anos.
O governo pretende atribuir
esse "conforto" ao novo modelo do setor. Primeiro, pelos leilões de hidrelétricas que estão
sendo feitos. O próximo será o
da usina de Belo Monte (PA).
Segundo, pelo mecanismo conhecido como "nível-meta" dos
principais reservatórios, do
Nordeste e do Sudeste/Centro-Oeste. Por ele, o ONS projeta
um cenário de pior seca da série
histórica e avalia qual terá de
ser o nível de reserva de água
nos dois sistemas.
Para este ano, os reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste deveriam alcançar o
fim do mês a 48% -hoje, estão
a 69%. No Nordeste, deveriam
chegar a 33% na mesma data
-estão a 67%. O inconveniente
está no custo eventual embutido nesse critério. O ONS fica
autorizado pelo CMSE (Comitê
de Monitoramento do Setor
Elétrico) a ordenar a geração
térmica a gás natural ou a óleo
combustível que for necessária
para alcançar o "nível-meta"
dos reservatórios.
Com chuva abundante, como
agora, será uma conta módica.
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