São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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Folga no sistema elétrico deve baixar tarifa

Crise e chuvas fartas reduzem geração de térmicas; conta ao consumidor, que chegou a R$ 2,3 bi em 2008, ficará agora em R$ 230 mi

Reservatórios das usinas hidrelétricas atingem volume inédito na década; na região Sul, nível chega a 94% da capacidade

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A folga no sistema elétrico brasileiro neste mês de outubro, auge do chamado período seco, é a maior em dez anos, informa o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o responsável por gerenciar o abastecimento do país. Além de reduzir ainda mais o risco de apagão para 2010, a chuvarada será notícia positiva para os consumidores no ano que vem.
A crise econômica e o volume de chuvas reduziram ao mínimo a geração térmica complementar no período de estiagem, de abril a outubro. Com isso, a conta a ser rateada pelos consumidores no ano que vem será de apenas R$ 230 milhões.
Em 2008, a geração térmica -usada para garantir o abastecimento numa economia que crescia ao ritmo de 6% ao ano- trouxe para as tarifas uma conta de R$ 2,3 bilhões. Este custo foi pago nos últimos reajustes anunciados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no primeiro semestre.
Em relação aos reservatórios das hidrelétricas, onde está armazenada a maior parte da energia elétrica brasileira, a situação é inédita na década.
As regiões Sudeste e Centro-Oeste estão neste momento com os níveis de reservatório nas hidrelétricas a 69,6% da capacidade total e com volume de chuva 80% superior à média histórica. A área é a mais importante do país em termos de armazenagem de energia para o sistema -concentra 190 mil MW dos 270 mil MW da capacidade de geração do Brasil.
No Nordeste, segunda maior área de armazenagem de energia, o volume dos reservatórios (que incluem Paulo Afonso, Sobradinho e outras) é de 67,7%, com nível de chuva 3% superior à média histórica. No Norte, o nível de chuva está 5% acima da média, e o dos reservatórios está a 52,1% da capacidade total. Nas duas regiões, os volumes são os melhores da década.
No Sul, as tragédias provocadas pela chuva indicam o que está ocorrendo. Os reservatórios, agora no auge do período seco, já alcançam 94,1% da capacidade, o que exige das usinas a liberação de água pelos vertedouros para aliviar o peso sobre as barragens. Segundo o ONS, a afluência atingiu 150% acima da média histórica. "Por um lado, esse volume de chuva encheu os reservatórios, mas também tem provocado todos esses problemas para as populações do Sul", diz Hermes Chipp, diretor-geral do ONS.
Volume semelhante a região só viu no início desta década, entre 2000 e 2002, quando o resto do país enfrentou o apagão. Na ocasião, o Sul poderia ter socorrido o Sudeste e o Centro-Oeste -não o fez por falta de linhas de transmissão capazes de transferir a energia armazenada nos reservatórios.
O excepcional volume de chuvas no Brasil fez a geração complementar com térmicas a gás ser muito menor que a previsão inicial. O gasto estimado no início do período seco, em abril, era de R$ 800 milhões. Ficou em R$ 230 milhões.
Desse valor, R$ 100 milhões se referem à geração térmica ordenada pelo ONS para garantir a reserva de água nos reservatórios. Os outros R$ 130 milhões foram gastos para assegurar a transferência de 6.000 MW médios de energia do Sudeste para o Sul.
Isso foi necessário entre abril e junho, quando a região Sul, diferentemente da situação atual, enfrentou grande estiagem decorrente do fenômeno climático La Niña. "Em julho, o fenômeno mudou para El Niño, o que resultou num volume de chuvas muito grande e interrompeu a necessidade de transferência de energia de um sistema para outro", diz Chipp.

Sobra de energia
O ONS calcula que o país tenha hoje sobra de 5.000 MW médios de energia até 2013. Esse bloco de energia é formado pela redução de 2.000 MW médios do consumo previsto para 2009 e pela energia de reserva comprada das usinas de biomassa (na maioria, de açúcar e álcool) e das unidades a óleo combustível que entraram no último leilão de oferta para "entrega" em cinco anos.
O governo pretende atribuir esse "conforto" ao novo modelo do setor. Primeiro, pelos leilões de hidrelétricas que estão sendo feitos. O próximo será o da usina de Belo Monte (PA). Segundo, pelo mecanismo conhecido como "nível-meta" dos principais reservatórios, do Nordeste e do Sudeste/Centro-Oeste. Por ele, o ONS projeta um cenário de pior seca da série histórica e avalia qual terá de ser o nível de reserva de água nos dois sistemas.
Para este ano, os reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste deveriam alcançar o fim do mês a 48% -hoje, estão a 69%. No Nordeste, deveriam chegar a 33% na mesma data -estão a 67%. O inconveniente está no custo eventual embutido nesse critério. O ONS fica autorizado pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) a ordenar a geração térmica a gás natural ou a óleo combustível que for necessária para alcançar o "nível-meta" dos reservatórios.
Com chuva abundante, como agora, será uma conta módica.


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