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Europa busca solução para guerra de patentes
DO ENVIADO ESPECIAL
A União Européia trabalhava
intensamente ontem com a esperança em encontrar uma fórmula
capaz de satisfazer tanto Brasil como EUA na guerra das patentes,
que se tornou o ponto quente da
Conferência Ministerial da OMC.
A proposta européia tenta equilibrar o desejo norte-americano
de não renegociar o acordo chamado Trips (Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, na sigla em inglês),
que, entre outras coisas, protege
patentes, com a firme disposição
brasileira de ter instrumentos para assegurar remédios a preços
acessíveis.
A chave da questão está na expressão "saúde pública", que
consta na proposta de texto apresentada por Brasil e Índia e apoiada por 50 países. O texto diz que
"nada no acordo Trips deve impedir que os membros tomem
medidas para proteger a saúde
pública". Os EUA acham "saúde
pública" um conceito amplo demais, que poderia permitir até a
violação de direitos sobre livros
de textos de medicina.
Pascal Lamy, o comissário europeu para o Comércio, concorda
que a expressão é ampla demais.
Em encontro com a delegação
brasileira, brincou: "Até o Viagra
pode se transformar em problema de saúde pública". "Não no
Brasil", respondeu o ministro
brasileiro da Saúde, José Serra,
encarnando o típico espírito machista latino-americano.
A hipótese de compromisso
com a qual se trabalha é simples:
retira-se do texto sobre Trips e
saúde pública o primeiro parágrafo, exatamente o que diz "nada no
acordo...". Mas fica o período seguinte, que reafirma o compromisso com o acordo, mas diz que
ele "deve ser interpretado e implementado de forma a respaldar
o direito dos membros da OMC a
proteger a saúde pública e, em
particular, assegurar acesso a remédios para todos".
Na delegação brasileira, há
quem ache que essa fórmula seria
aceitável, mas opiniões assim só
surgem nas conversas informais.
Para publicação, com nome e sobrenome, todos dizem que o primeiro parágrafo é inamovível.
"É o elefante político", ou seja, o
que dá peso ao texto, diz por
exemplo o embaixador Luiz Felipe Seixas Correa, secretário-geral
do Itamaraty.
Esquema geral
Trips e saúde pública são um
dos seis assuntos que serão objeto
de grupos separados de discussão, por serem tidos como tema
realmente polêmico. O grupo de
Trips é presidido pelo México,
que está sob marcação cerrada do
Brasil.
Na noite de sexta-feira, a delegação mexicana foi procurada para
receber o recado de que o assunto
Trips não se presta para brilhar.
Ou seja, os mexicanos, muito próximos hoje dos Estados Unidos,
não deveriam conduzir os trabalhos de modo a favorecer a posição de Washington.
Ontem, houve nova reunião,
com idêntico objetivo.
Mas os Estados Unidos não estão mortos. Fazem tanta pressão
que a delegação de Zimbábue já
avisou a brasileira de que Quênia
mudou de posição, depois que
seu ministro do Comércio passou
por Washington.
A discussão sobre Trips no Comitê Plenário, ao qual devem reportar-se todos os seis grupos de
trabalho, só começaria na noite de
ontem.
As demais questões consideradas relevantes são: "temas de Cingapura" (política de concorrência, transparência em compras
governamentais, investimentos);
regras (onde entra o antidumping); ambiente e comércio; implementação (dos acordos anteriores, inquietação central de países em desenvolvimento); e agricultura.
(CR)
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