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Momento dá oportunidade para Brasil ganhar espaço, diz Stiglitz
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Em outros tempos, os países
que não faziam parte do seleto
clube G7 eram convidados somente para o almoço durante
as cúpulas mundiais, rememora Joseph Stiglitz, 65, economista americano vencedor do
prêmio Nobel. "Claro, as decisões eram tomadas antes do almoço", ri ele, "o que revelava
muita arrogância e má-vontade
em escutar outras vozes".
Que desta vez tenha-se convocado o G20 para tentar resolver os gigantes problemas da
economia mundial é um bom
sinal, na sua avaliação. E a
oportunidade que surge deve
ser aproveitada. "Estamos, agora, em um momento único da
história. As fontes de liquidez
estão na Europa, na Ásia e na
América Latina, e a falta de liderança dos EUA pode abrir
um espaço para países como o
Brasil mostrarem as suas idéias
sobre o novo caminho a ser seguido", disse Stiglitz em entrevista coletiva à imprensa após
dar uma palestra em São Paulo,
ontem, na Expo Management.
Endurecer na OMC (Organização Mundial do Comércio)
contra os subsídios agrícolas é
recomendável.
"A governança econômica
atual não reflete a distribuição
de forças na economia mundial
do século 21",continuou. Por
esse motivo, não bastaria -ainda que seja possível- simplesmente reformar o FMI (Fundo
Monetário Internacional), como as nações emergentes pleiteiam. É necessário criar outro
órgão. "A Europa pediu aos
asiáticos que colocassem mais
dinheiro no FMI. Se eu fosse
eles, diria que não. Não faz sentido contribuir com uma entidade na qual eles não têm participação efetiva e os EUA possuem poder de veto."
Para o economista, tradicional crítico da forma como a globalização é conduzida e do que
ele chama de "fundamentalismo de mercado", havendo "interesse geral de que todos joguemos mais ou menos pelas
mesmas regras", as propostas
devem ir além da transparência, que, na visão das autoridades dos países ricos, é o grande
objetivo a ser perseguido. "É
essencial proteger a segurança
dos ativos financeiros e criar
uma instância que fiscalize a
saúde das instituições."
Dentre todas as entidades, a
mais bombardeada por Stiglitz
são os bancos centrais. "Este
episódio mostra como é falido o
seu modelo de acreditar que a
estabilidade de preços é suficiente para garantir o crescimento e a prosperidade. Eles já
perderam boa parte da sua eficiência em estimular a economia. Até [o presidente do BC
dos EUA, Ben] Bernanke reconheceu isso, falando que precisamos de um pacote fiscal."
O futuro dos EUA
"Substituir [George W.] Bush
é fácil. Ele foi tão ruim que
qualquer um pode realizar coisas melhores", caçoa o economista. "No entanto, [Barack]
Obama terá que administrar
toda a expectativa. Por mais
que faça tudo certo, ele não
conseguirá mudar a situação
rapidamente. As dificuldades
que os EUA enfrentam hoje são
resultado de anos de erros."
Uma resposta apropriada, segundo Stiglitz, teria que englobar algum tipo de socorro aos
mutuários que estão perdendo
as suas casas. Além disso, seria
necessário um pacote de entre
2% a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) americano, ou US$
300 bilhões a US$ 400 bilhões,
que contemplasse uma ajuda
aos desempregados e aumentos de gastos com infra-estrutura. "E acompanhar de perto
se os recursos de restituições
de impostos são mesmo despendidos pelos cidadãos."
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