São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Nos EUA, rede de varejo pede concordata

Circuit City, segunda maior no ramo de eletroeletrônicos, recorre à Lei de Falências porque fornecedores não vendem a crédito

Empresa usa o chamado Capítulo 11 para evitar as ações judiciais de credores; GM deverá adotar mesma ação nas próximas semanas


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Em mais um dia de más notícias para o setor corporativo norte-americano, a Circuit City, segunda maior rede dos EUA de varejo de eletroeletrônicos, pediu concordata ontem e encabeçou as previsões de resultados negativos em vários segmentos até o final do ano.
As expectativas desfavoráveis atingiram ainda gigantes como Goldman Sachs, Google, e a empresa de logística DHL, além de, mais uma vez, a General Motors.
Embalada positivamente na parte da manhã pela notícia de que o governo chinês destinará US$ 586 bilhões para sustentar seu mercado interno, a Bolsa de Valores de Nova York não resistiu à série de más notícias.
O índice Dow Jones caiu 0,82%%, o S&P 500, 1,27%, e o da Bolsa eletrônica Nasdaq fechou em baixa de 1,86%.
O pedido de concordata da Circuit City surpreendeu outras grandes redes de eletrônicos e varejo. Os últimos dois meses do ano são os melhores períodos de venda dessas companhias, quando esperam retomar algum fôlego com volumes maiores de negócios.
Entre os motivos comunicados ao mercado, a empresa citou um forte enxugamento de linhas de crédito de seus fornecedores, queda no capital de giro e nas vendas gerais.
Com base na Lei de Falências dos EUA, a Circuit City evocou o chamado "Chapter 11" (Capítulo 11), que a protege de ações judiciais de credores enquanto tentará a reabilitação ou reorganização. De acordo com o pedido de concordata, a empresa tinha US$ 3,4 bilhões em ativos e US$ 2,3 bilhões em dívidas com mais de 100 mil credores no final de agosto.
O principal problema no momento, segundo a companhia, é que seus grandes fornecedores estão se recusando a vender a crédito.
A Circuit City informou que fechará 155 lojas nos EUA (de um total de 721) e demitirá cerca de 20% de seus funcionários (um corte que pode afetar até 7.300 trabalhadores). As ações da companhia caíram 99% desde o início do ano passado.
A Circuit City está no mercado há 59 anos e foi a maior empresa a pedir concordata nos EUA desde 2002, quando a Kmart (varejo) tomou a mesma decisão após os resultados desastrosos que se seguiram à recessão de 2001 no país.
A maior empresa desse mesmo setor nos Estados Unidos é a Best Buy, com faturamento de cerca de US$ 30 bilhões por ano, quase três vezes mais do que o da Circuit City.
No setor financeiro, as ações do Goldman Sachs caíram mais de 12% durante o dia, depois que o banco Barclays divulgou relatório comentando que o banco corre o risco de registrar novas e substanciais perdas neste trimestre. O conjunto das ações do setor financeiro foi o que mais perdeu valor na Bolsa de Nova York ontem.
O Barclays também divulgou previsão de perdas de até 25% na receita com publicidade para o site de buscas Google, o que depreciou as ações da empresa.
Já a DHL anunciou que demitirá 9.500 pessoas nos EUA depois de vários anos tentando tirar fatias de mercado das concorrentes UPS e FedEx.
Na sexta-feira, o Departamento do Trabalho dos EUA já havia anunciado um salto de 6,1% para 6,5% no desemprego nos EUA, além de uma revisão, para cima, no número de demitidos em 2008 -para um total de 1,2 milhão de pessoas.
Previsões do Deutsche Bank em relação à General Motors também tiveram ontem forte efeito negativo sobre as ações da montadora. A empresa já havia declarado na semana passada que está ficando sem caixa. O Deutsche previu que o preço das ações da GM pode chegar próximo a zero em menos de um ano, o que derrubou em 22,94% os papéis ontem. No ano, eles já recuaram 86,72% (leia mais sobre GM abaixo).
Muitos analistas já esperam que a GM siga, nas próximas semanas, o mesmo caminho da Circuit City, e que recorra ao "Chapter 11" para buscar a proteção da Lei de Falências.
"Se a GM conseguir evitar a falência, acreditamos que sua trajetória futura assumirá forma semelhante à de uma falência", disse Rod Lache, do Deutsche Bank, que rebaixou ontem de "manter" para "vender" a recomendação em relação aos papéis da empresa.


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