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LUÍS NASSIF
A biodiversidade e o Brasil
Tema delicado, por envolver
aspectos ambientais e uma discussão científica que ainda não
se esgotou, a biotecnologia já foi
a responsável por mudanças relevantes na economia mundial.
Nesta semana o "Wall Street
Journal" divulgou balanço dramático de como a Alemanha
perdeu a liderança na indústria
petroquímica. É processo que
tem início com o final da Segunda Guerra, quando a grande indústria química alemã é dividida e as patentes são disponibilizadas aos demais países.
Mas o golpe final, segundo o
jornal, é quando explode a biotecnologia e, pressionada pelos
ativistas ecológicos, a indústria
alemã demora a investir na
área e perde a liderança definitivamente para a indústria
americana.
O caso da americana DuPont
é significativo de como decisões
estratégicas, no momento certo,
podem modificar panoramas
que pareciam estratificados para sempre.
A empresa nasceu em 1802, a
partir de uma fábrica de pólvora de E.I. du Pont, no Estado de
Delaware, nos Estados Unidos.
Ao longo do século, foi responsável por alguns feitos da indústria petroquímica mundial. Em
1926 lançou o celofane impermeável, em 1931 criou a borracha Neoprene, em 1938, o teflon,
e nos anos 60, a Lycra.
Nos últimos anos a DuPont
deixou de lado a química e passou a investir pesadamente na
biologia e biotecnologia, buscando o foco no atendimento
das grandes carências mundiais
-tanto nutritivas quanto de
saúde, como as grandes doenças
contemporâneas, como osteoporose, colesterol e aids, e na
nutrição preventiva.
A empresa decidiu mudar
quando estava no auge do sucesso. Seus dirigentes deram-se
conta de que a empresa estava
fundada em produtos cuja curva de crescimento tendia a se esgotar. O cenário de médio prazo
apontava para uma situação
dramática de oferta de matérias-primas de fontes renováveis em 2010.
A estratégia consistiu em adquirir empresas que já tinham
avançado na área da biotecnologia, como a PTI (Protein
Technologies International),
em 1997, e em 1999 a Pioneer
Hi-Bred International, líder
mundial no fornecimento de sementes e desenvolvimento de
tecnologia genética vegetal. No
Brasil, a empresa responde por
45% da área plantada de milho
transgênico. Recentemente a
Pioneer adquiriu as variedades
e o programa de melhoramento
genético de soja da Sementes
Dois Marcos, sediada em Cristalina (GO).
Para enfrentar a resistência
dos verdes, a empresa passou a
trabalhar com o conceito da
plena informação, informando
sobre os produtos transgênicos,
identificando-os e procurando
debater nos fóruns técnicos. Hoje, a empresa está presente em
65 países, conta com 92 mil funcionários, tem um faturamento
anual de US$ 25 bilhões e investe US$ 1 bilhão anual em pesquisa.
Em que a história da DuPont
interessa ao Brasil? Apesar dos
pesados investimentos na indústria petroquímica, especialmente nos anos 70, o Brasil perdeu o bonde. Excesso de proteção oficial desestimulou os investimentos em pesquisa, que
permitissem criar uma indústria de padrão internacional.
A biodiversidade brasileira é
vista, hoje em dia, como um
enorme potencial, por parte de
empresas como a DuPont, que
investem nas chamadas "ciências da vida". É a segunda oportunidade que o país pode ter
nessa área. Por enquanto, falta
um programa consistente, que
possa dirigir o potencial científico brasileiro para essa área.
É hora de o Ministério de
Ciência e Tecnologia parar com
ações dispersas e centrar fogo
nas áreas em que o país disponha de vantagens comparativas
claras.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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