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Câmbio flutuante faz 10 anos com teste
Em 15 de janeiro de 99, país tentava desmontar a "bomba-relógio" da quase paridade com o dólar, responsável pelo sucesso do real
Agora, desvalorização do real com agravamento da crise reaviva discussão sobre a necessidade e o grau de intervenção no câmbio
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez anos atrás, o Brasil parou
para tentar desarmar uma
"bomba-relógio" montada pouco após o Plano Real. Era a política de bandas cambiais, que
mantinha o dólar quase fixo e
havia sido um dos pilares do sucesso do combate à inflação,
mas que, em janeiro de 1999,
parecia ter os dias contados por
conta do desequilíbrio nas contas externas e da sangria das reservas internacionais.
Hoje, o câmbio livre é quase
uma unanimidade entre economistas brasileiros de diferentes escolas, que, no máximo,
divergem sobre o grau de intervenção na flutuação. E a flutuação do real tem mais um teste,
após ficar entre as moedas que
mais sofreram diante da crise
global, com uma variação de
46,6% desde o piso de R$ 1,559
em 1º de agosto de 2008.
Em janeiro de 1999, porém,
soltar as comportas do câmbio
era tão "assustador", segundo
as palavras do ex-presidente do
Banco Central Francisco Lopes, que o então presidente
Fernando Henrique Cardoso
optou por sua proposta de tentar "administrar" o que depois
se comprovou incontrolável. A
escolha pela proposta de Lopes
culminou na demissão de Gustavo Franco, então titular do
BC, que preferia esperar um
pouco mais para deixar o sistema de bandas cambiais.
"Nem o FMI nem nós tínhamos um consenso do que fazer.
Eu diria que a tendência era a
gente flutuar, sim, a moeda,
mas todo mundo tinha muito
medo do que poderia acontecer", disse Franco.
Diante do impasse, o governo
fez então uma maxidesvalorização do real de 8,3%, no dia 13
de janeiro, por meio da hoje folclórica "banda diagonal endógena" do professor Chico Lopes, que criava um espaço
maior de variação do dólar.
O resultado foi um desastre
tão grande que a tentativa de
controlar a desvalorização durou 48 horas. A ação surtiu um
efeito oposto ao esperado e gerou uma corrida ainda maior
contra o real, que "derreteu"
17,36% em dois dias. No dia 15
de janeiro, o real estava em
queda livre e o país parecia
mergulhado em um abismo.
Mas a taxa de câmbio flutuou.
"Por que nós não saímos já
com o plano de flutuação? Porque, se eu tivesse proposto um
plano de flutuação, não tinha
sido feito nada. A ideia de flutuar era assustadora no governo. Nós tínhamos muita dúvida
sobre qual efeito que teria na
inflação", disse Lopes.
Em dois meses, o dólar disparou 73,6%, pulando de R$ 1,21
para R$ 2,10. Falava-se que o
Plano Real havia acabado e que
a inflação bateria em 60% no
ano -o IPCA fechou em 8,94%.
Bombardeado, Chico Lopes
foi demitido e substituído por
Armínio Fraga, então gestor de
fundos de George Soros. À época, a economista Maria da Conceição Tavares afirmou que
FHC havia posto a "raposa para
tomar conta do galinheiro".
Testado pelo mercado, Fraga
chegou subindo os juros de
29% para 45% ao ano. Depois,
instituiu a política de meta de
inflação e convenceu governo,
mercado e FMI de que o foco da
política do BC seria garantir a
estabilidade da moeda, seja
qual fosse a taxa de câmbio.
"O maior temor era que se repetisse o que aconteceu no México em 1995, quando a inflação
disparou após a desvalorização
do peso. Mas tínhamos a convicção de que as raízes do problema haviam sido identificadas. Minha leitura era que o
país tinha um problema bem de
livro-texto [de economia]: a necessidade de fazer um ajuste
fiscal. Acreditava que, aliada a
uma política monetária que
oferecesse confiança, o quadro
se reverteria", disse Fraga.
Crítico da política cambial, o
ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira defende um sistema administrado de câmbio
flutuante, com forte intervenção. "O câmbio é o preço mais
importante de um país. Além
de importação e exportação,
determina investimentos, poupança, inflação e crescimento.
Os asiáticos crescem porque
administram o câmbio", disse.
Para o ex-diretor do BC Luiz
Fernando Figueiredo, o real foi
uma das moedas que mais sofreram porque tinha se valorizado demais, tendo sido o país
um dos escolhidos para receber
dinheiro externo. "Depois de
ter performance tão má, o fato
é que temos uma taxa de câmbio muito mais adequada. O regime flutuante permitiu que,
apesar dessa volatilidade, o país
ficasse mais competitivo."
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