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São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003

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Especialistas prevêem pouco benefício ao país

ADRIANA MATTOS
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A proposta norte-americana de suspensão das tarifas de importação é "decepcionante" e "limitada". Deve beneficiar muito pouco os negócios do país porque nem sequer apresenta alterações na política de subsídios dos EUA, principal ponto de atrito entre as indústrias dos dois países. Também não faz qualquer referência às barreiras não-tarifárias (como cotas de importação), outro ponto de discordância.
Mais do que isso: uma das questões apresentadas foge à realidade. A idéia de zerar, em cinco anos, as tarifas para os produtos têxteis e de vestuário importados pelos EUA tem prazo muito longo, na visão de líderes da indústria. E, com base em recente estudo feito no Brasil, essa medida beneficia um setor (têxtil) que já é competitivo lá fora.
"Parece que os americanos estão concentrando o foco na questão tarifária, quando o nosso problema não tem nada a ver com isso. Tem, na verdade, a ver com os subsídios gigantescos e as barreiras não-tarifárias", diz Julio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Na tentativa de fechar uma proposta para fazer caminhar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o governo Bush ainda propõe zerar em cinco anos as tarifas para os produtos têxteis e de vestuário. Hoje, esse segmento já tem boa penetração no mercado norte-americano. O país exportou aos EUA, em 2001, 21% de tudo o que vendeu ao exterior nesse setor (em dólares).
"Para essa área, não é a tarifa o grande peso, mas as cotas impostas. Isso precisa ser revisto", diz Mariano Laplane, professor de economia da Unicamp (Universidade de Campinas).
Na avaliação da economista Lia Valls Pereira, coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o dilema para o governo será decidir se interessa ao país e a setores oferecer reciprocidade (de abertura de mercado) em áreas nas quais os EUA oferecem cortes de tarifas. Em sua proposta, os norte-americanos acenam com imediata eliminação de tarifas (desde que seja recíproca) em setores-chave da economia, como química, mineração e equipamentos elétricos.
""Neste momento, em que se toma como essencial aumentar o superávit da balança comercial, não sei se o governo estaria interessado em promover a liberalização de setores como o eletroeletrônico", disse Lia.
De acordo com a economista, os EUA mostraram interesse em formar o bloco ao ofertarem a eliminação de tarifas (até 2010) na área de têxtil e vestuário -setores em que os artigos de outros países sofrem grande carga tarifária para ingressar no mercado americano.
""Os americanos nada mais fizeram do que chutar a bola, dar início ao jogo. Disseram: "Está na hora de vocês [Mercosul" apresentarem sua proposta"", afirmou a professora.
A Fiesp, que representa a indústria paulista, não se manifestou sobre o assunto porque prefere aguardar mais detalhes.


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