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Especialistas prevêem pouco benefício ao país
ADRIANA MATTOS
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta norte-americana de
suspensão das tarifas de importação é "decepcionante" e "limitada". Deve beneficiar muito pouco
os negócios do país porque nem
sequer apresenta alterações na
política de subsídios dos EUA,
principal ponto de atrito entre as
indústrias dos dois países. Também não faz qualquer referência
às barreiras não-tarifárias (como
cotas de importação), outro ponto de discordância.
Mais do que isso: uma das questões apresentadas foge à realidade. A idéia de zerar, em cinco
anos, as tarifas para os produtos
têxteis e de vestuário importados
pelos EUA tem prazo muito longo, na visão de líderes da indústria. E, com base em recente estudo feito no Brasil, essa medida beneficia um setor (têxtil) que já é
competitivo lá fora.
"Parece que os americanos estão concentrando o foco na questão tarifária, quando o nosso problema não tem nada a ver com isso. Tem, na verdade, a ver com os
subsídios gigantescos e as barreiras não-tarifárias", diz Julio Gomes de Almeida, diretor do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Na tentativa de fechar uma proposta para fazer caminhar a Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas), o governo Bush ainda
propõe zerar em cinco anos as tarifas para os produtos têxteis e de
vestuário. Hoje, esse segmento já
tem boa penetração no mercado
norte-americano. O país exportou aos EUA, em 2001, 21% de tudo o que vendeu ao exterior nesse
setor (em dólares).
"Para essa área, não é a tarifa o
grande peso, mas as cotas impostas. Isso precisa ser revisto", diz
Mariano Laplane, professor de
economia da Unicamp (Universidade de Campinas).
Na avaliação da economista Lia
Valls Pereira, coordenadora de
projetos do Instituto Brasileiro de
Economia da FGV, o dilema para
o governo será decidir se interessa
ao país e a setores oferecer reciprocidade (de abertura de mercado) em áreas nas quais os EUA
oferecem cortes de tarifas. Em sua
proposta, os norte-americanos
acenam com imediata eliminação
de tarifas (desde que seja recíproca) em setores-chave da economia, como química, mineração e
equipamentos elétricos.
""Neste momento, em que se toma como essencial aumentar o
superávit da balança comercial,
não sei se o governo estaria interessado em promover a liberalização de setores como o eletroeletrônico", disse Lia.
De acordo com a economista, os
EUA mostraram interesse em formar o bloco ao ofertarem a eliminação de tarifas (até 2010) na área
de têxtil e vestuário -setores em
que os artigos de outros países sofrem grande carga tarifária para
ingressar no mercado americano.
""Os americanos nada mais fizeram do que chutar a bola, dar início ao jogo. Disseram: "Está na hora de vocês [Mercosul" apresentarem sua proposta"", afirmou a professora.
A Fiesp, que representa a indústria paulista, não se manifestou
sobre o assunto porque prefere
aguardar mais detalhes.
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