São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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Base fraca "infla" resultado, diz estudo

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Se não tivesse ocorrido a recessão de 2003, a indústria teria crescido 4,8% no ano passado, e não os 8,3% calculados pelo IBGE. Do crescimento de 8,3% registrado pela indústria no ano passado, 3,5% se devem apenas à recuperação da queda de 2003.
Os cálculos foram feitos pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) para avaliar o desempenho real da indústria no ano passado. A intenção do trabalho foi de eliminar os efeitos da base deprimida de 2003, que serve de comparação para medir o crescimento da produção do ano passado.
Para o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi, mesmo sem a influência do efeito estatístico da retração de 2003, pode se considerar que houve, de fato, um crescimento expressivo da indústria em 2004. Só que, segundo o economista, não seria certamente o maior crescimento dos últimos 18 anos. O índice ficaria mais próximo de outros resultados obtidos no passado recente.
O Iedi fez o mesmo cálculo para os principais setores da indústria. Os setores que registraram maior crescimento corrigido (sem o efeito estatístico de 2003) foram os seguintes: bens de consumo duráveis (17,0%), bens de capital (14,7%) e bens intermediários (5,4%). Já o setor de bens de consumo não-duráveis registrou uma queda de 0,8%, pelo índice corrigido do Iedi.
Segundo Gomes de Almeida, o desempenho desses setores mostra que a recuperação da economia no ano passado se deveu basicamente às exportações, ao aumento do investimento e às maiores facilidades de crédito. Isso explica o crescimento nas áreas de bens de capital e de bens de consumo duráveis.
Já a queda no setor de bens de consumo não-duráveis se deve basicamente ao fato de a renda da população não ter crescido como se esperava. "O efeito renda foi uma decepção", diz Gomes de Almeida. De acordo com o Iedi, com base em dados do IBGE, o rendimento médio da da população caiu 0,8% em termos reais no ano passado nas grandes regiões metropolitanas do país.
Para a indústria continuar no mesmo ritmo de crescimento neste ano, Gomes de Almeida diz que será fundamental a recuperação do setor de bens de consumo não-duráveis. Ao contrário do que aconteceu no ano passado, a base de comparação de 2005 será mais forte. Ou seja, para compensar esse efeito estatístico inverso, o setor de não-duráveis precisam registrar algum crescimento. Tudo depende, no entanto, da renda da população.
A política econômica do governo também será fundamental para a indústria neste ano. "A política de juros e de câmbio será mais importante agora do que no ano passado", afirma o diretor do Iedi. Atualmente, a seu ver, os juros altos e o câmbio baixo não ajudam a indústria.
Segundo Gomes de Almeida, a produção está num bom caminho. A tendência é a de se manter no atual ritmo de crescimento, de 4% a 5%, mas vai precisar da ajuda tanto dos não-duráveis como da política econômica.
Em dezembro do ano passado, os números do IBGE e outras pesquisas, como a da CNI, registraram uma pequena queda no ritmo de crescimento da produção industrial, o que foi interpretado por muitos economistas como o primeiro efeito da política de juros altos do Banco Central. Para Gomes de Almeida, essa queda pode ser compensada rapidamente, caso o BC decida retomar o processo de redução dos juros. "A indústria é muito dinâmica."

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