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Base fraca "infla" resultado, diz estudo
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Se não tivesse ocorrido a recessão de 2003, a indústria teria crescido 4,8% no ano passado, e não
os 8,3% calculados pelo IBGE. Do
crescimento de 8,3% registrado
pela indústria no ano passado,
3,5% se devem apenas à recuperação da queda de 2003.
Os cálculos foram feitos pelo Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial) para avaliar o desempenho real da
indústria no ano passado. A intenção do trabalho foi de eliminar
os efeitos da base deprimida de
2003, que serve de comparação
para medir o crescimento da produção do ano passado.
Para o economista Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, diretor do Iedi, mesmo sem a influência do
efeito estatístico da retração de
2003, pode se considerar que houve, de fato, um crescimento expressivo da indústria em 2004. Só
que, segundo o economista, não
seria certamente o maior crescimento dos últimos 18 anos. O índice ficaria mais próximo de outros resultados obtidos no passado recente.
O Iedi fez o mesmo cálculo para
os principais setores da indústria.
Os setores que registraram maior
crescimento corrigido (sem o
efeito estatístico de 2003) foram
os seguintes: bens de consumo
duráveis (17,0%), bens de capital
(14,7%) e bens intermediários
(5,4%). Já o setor de bens de consumo não-duráveis registrou
uma queda de 0,8%, pelo índice
corrigido do Iedi.
Segundo Gomes de Almeida, o
desempenho desses setores mostra que a recuperação da economia no ano passado se deveu basicamente às exportações, ao aumento do investimento e às maiores facilidades de crédito. Isso explica o crescimento nas áreas de
bens de capital e de bens de consumo duráveis.
Já a queda no setor de bens de
consumo não-duráveis se deve
basicamente ao fato de a renda da
população não ter crescido como
se esperava. "O efeito renda foi
uma decepção", diz Gomes de Almeida. De acordo com o Iedi,
com base em dados do IBGE, o
rendimento médio da da população caiu 0,8% em termos reais no
ano passado nas grandes regiões
metropolitanas do país.
Para a indústria continuar no
mesmo ritmo de crescimento
neste ano, Gomes de Almeida diz
que será fundamental a recuperação do setor de bens de consumo
não-duráveis. Ao contrário do
que aconteceu no ano passado, a
base de comparação de 2005 será
mais forte. Ou seja, para compensar esse efeito estatístico inverso,
o setor de não-duráveis precisam
registrar algum crescimento. Tudo depende, no entanto, da renda
da população.
A política econômica do governo também será fundamental para a indústria neste ano. "A política de juros e de câmbio será mais
importante agora do que no ano
passado", afirma o diretor do Iedi.
Atualmente, a seu ver, os juros altos e o câmbio baixo não ajudam
a indústria.
Segundo Gomes de Almeida, a
produção está num bom caminho. A tendência é a de se manter
no atual ritmo de crescimento, de
4% a 5%, mas vai precisar da ajuda tanto dos não-duráveis como
da política econômica.
Em dezembro do ano passado,
os números do IBGE e outras pesquisas, como a da CNI, registraram uma pequena queda no ritmo de crescimento da produção
industrial, o que foi interpretado
por muitos economistas como o
primeiro efeito da política de juros altos do Banco Central. Para
Gomes de Almeida, essa queda
pode ser compensada rapidamente, caso o BC decida retomar
o processo de redução dos juros.
"A indústria é muito dinâmica."
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