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BENJAMIN STEINBRUCH
Saber o que não fazer
Em situações de risco como
a atual, tão importante
quanto pensar no que "fazer"
é saber o que "não fazer"
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COMO COSTUMAM dizer os brasileiros, o ano só começa depois do Carnaval. Então,
2008 começou cedo, ainda na primeira semana de fevereiro, o que
não ocorria desde 1913. Será um ano
de muito trabalho. Além de bissexto,
com um dia a mais em fevereiro,
2008 terá quatro feriados em fins de
semana. Haverá 254 dias úteis, um
recorde para a década.
A despeito disso, o ano efetivamente se inicia sob ameaça de desaquecimento econômico. Janeiro até
foi um bom mês: os principais setores industriais mantiveram o ritmo
de crescimento, a produção de automóveis aumentou 24% sobre janeiro do ano passado e o comércio varejista faturou bem. Mas, infelizmente, não é esse o ritmo esperado para
o ano todo. Em 2007, a economia começou morna e se aqueceu no segundo semestre. Agora, prevê-se
que 2008, tendo começado aquecido, vai esfriar a partir de julho, por
conta do contágio da crise americana, cada vez mais desenhada.
Em situações como essa, o administrador eficiente tende a se preocupar em definir o que fazer para
prevenir-se contra a crise. Na atual
conjuntura, porém, como o Brasil
tem sido mestre em tomar medidas
na contramão da tendência mundial, seria interessante elaborar um
pouco sobre o que não fazer.
Neste ano perigoso, para não aumentar seu risco, o Brasil não deve
cair na tentação de, movido pelo
susto, acirrar o conservadorismo.
Essa é uma recomendação óbvia e
básica. Até o FMI (Fundo Monetário Internacional), templo da ortodoxia, já bateu nessa tecla. O diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn,
sugeriu ao Primeiro Mundo e aos
países emergentes que adotem políticas fiscais expansionistas, com aumento de gastos públicos e reduções
de impostos, uma receita keynesiana pouco comum na história do
Fundo. A sugestão, portanto, é para
que os governo tomem medidas que
os economistas chamam de anticíclicas, para estimular a demanda e
compensar a tendência natural de
contração econômica.
O aumento dos juros básicos, por
exemplo, idéia que já ronda as cabeças monetaristas do país, é inadmissível e desnecessário no momento.
O corte de investimentos públicos,
com o objetivo de manter o superávit fiscal em níveis exageradamente
elevados, deve ser combatido.
O crédito, que segue trajetória de
crescimento e passou de 30,7% do
PIB em 2006 para 34,7% em 2007,
foi o principal motor da recuperação
da economia no ano passado. Não
pode ser desestimulado. O Banco
Central, na contramão, já tomou
uma medida nesse sentido ao estabelecer depósito compulsório de
40% sobre os recursos captados para as operações de leasing dos bancos. O BNDES, que em 2007 aumentou seus desembolsos em 24%, para
R$ 64,9 bilhões, não pode deixar cair
a oferta de recursos, porque tem a
missão incentivar investimentos.
Também não deve passar pela cabeça do governo a idéia de elevar impostos, como fez no início do ano para compensar as perdas decorrentes
do fim da CPMF. Os R$ 20 bilhões
perdidos pelo Tesouro são recursos
ganhos pela economia para manter
seu ritmo neste ano de perigo.
O esforço sincero para cortar gastos supérfluos e compensar a CPMF
perdida não pode levar à redução
dos dispêndios na área social. Programas como o Bolsa Família e orçamentos de saúde e educação, por
exemplo, são intocáveis. E gastos
eleitoreiros com vistas ao pleito municipal, inaceitáveis.
Para resumir, em situações de risco como a atual, tão importante
quanto pensar no que "fazer" é saber
o que "não fazer".
BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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