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Crise afeta mais a classe alta, diz FGV
Pesquisa sobre rendimento do trabalho mostra encolhimento na classe AB após setembro; a C foi mais poupada
Para pesquisador, classes mais baixas conseguiram manter, até dezembro,
o crescimento da renda verificado nos últimos anos
DA SUCURSAL DO RIO
A crise atingiu em cheio a
classe de renda AB e poupou a
C, tida como a classe média brasileira pela FGV (Fundação Getulio Vargas). A cada 100 pessoas que estavam na classe AB
nas seis maiores metrópoles do
país em 2007, 81 permaneceram no mesmo estrato de janeiro a setembro de 2008. De outubro a dezembro, quando a
turbulência se instalou com
mais força, esse número caiu
para 75 pessoas.
Ou seja, 6 pessoas migraram
nesse período para outro estrato social mais baixo. Já a classe
média foi poupada e 81 pessoas
permaneceram, tanto entre janeiro e setembro como entre
outubro e dezembro, na faixa C
de rendimento.
Desde 2004, historicamente
cerca de 80 a cada 100 pessoas
se mantêm na classe AB de um
ano para o outro, número que
caiu para a faixa de 75 após a
crise, segundo o estudo da FGV
batizado "Crônica de uma Crise Anunciada: Choques Externos e a Nova Classe Média."
"Essa é uma crise contra os
ricos e pró-pobres tanto em
termos de países como de pessoas", disse Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV e autor do estudo.
Segundo ele, o rendimento
cresceu mais nas faixas de menor renda, o que contribuiu para essa realidade. E afetou mais
os mais ricos também porque
eles tinham aplicações financeiras e estão empregados em
ramos afetados primeiro pela
crise, como a indústria.
Ao olhar o fechamento do
ano de 2008 e um intervalo
mais longo de tempo, porém, a
classe AB ainda ganhou participação no total da população.
Passou de 10,66% em dezembro de 2003 para 15,33% para
dezembro de 2008. Já a classe
C avançou de 42,99% para
53,81% nesse mesmo período.
Se cresceu o peso dos mais ricos, necessariamente as classes
D e E perderam espaço na estrutura socioeconômica. A D
passou de 16,41% em dezembro
de 2003 para 13,18% em dezembro de 2008. Já na E, a participação cedeu de 29,95% para
17,68% nesse período.
Segundo Neri, a renda cresceu mais entre os mais pobres e
a desigualdade caiu, o que explica o crescimento da classe
média e a perda das faixas mais
baixas. O rendimento subiu
43% de 2003 a 2008 na classe
C, enquanto avançou apenas
11,1% na AB. "O bolo cresceu
para todos, mas mais para os
que tinham renda menor."
Pela metodologia da pesquisa, estão na classe AB famílias
com rendimento do trabalho
superior a R$ 4.807. A classe C
abriga a faixa de renda entre R$
1.115 e R$ 4.807. Na D, o intervalo é de R$ 804 a R$ 1.114.
Abaixo de R$ 804, a família é
classificada como classe E.
A pesquisa tem como base os
dados desagregados da PME
(Pesquisa Mensal de Emprego
do IBGE), que só investiga o
rendimento do trabalho -não
inclui transferências de renda
do governo, aposentadorias,
aluguéis e aplicações financeiras.
(PEDRO SOARES)
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