São Paulo, terça-feira, 12 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REUNIÃO DO BID

Presidente improvisa em discurso e também critica o Fundo, no caso da Argentina, e o protecionismo dos EUA

"Não somos analfabetos", diz FHC ao FMI

France Presse
O presidente Fernando Henrique Cardoso discursa na reunião do BID em Fortaleza


MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Na presença de funcionários do governo norte-americano e do FMI (Fundo Monetário Internacional), o presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem críticas fortes ao Fundo e aos EUA durante cerimônia de abertura do encontro anual dos governadores do Bid (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Fortaleza.
FHC bateu no FMI ao reclamar da falta de resposta da instituição a pedidos do governo brasileiro para a mudança de certas regras contábeis internacionais. Segundo o presidente, "até hoje, as respostas que deram foram como se alguns de nós fôssemos analfabetos. Não somos."
A partir de discurso preparado por sua assessoria, FHC improvisou e pediu ainda ao FMI que "não nos enganem" e apelou ao Fundo para que reduza suas exigências para concluir um acordo com a Argentina.
O presidente criticou ainda os EUA por agirem de uma maneira e pregarem de outra no campo comercial. Segundo ele, não se pode exigir a abertura dos mercados dos demais países e, ao mesmo tempo, fechar "ainda mais os seus, como resultado de pressões internas protecionistas."
As críticas ao FMI ressuscitam tema levantado no ano 2000 pelo senador José Serra, pré-candidato presidencial do PSDB. Serra dissera que o critério adotado pelo FMI para o cálculo do déficit público prejudica investimentos na área social e "só vale para os trouxas do hemisfério Sul".
O critério em questão faz com que o Fundo inclua, no cálculo do déficit público de seus países membros, empréstimos e investimentos de empresas públicas.
O Brasil quer que o FMI, a exemplo do que fazem os países europeus, desconsidere esses empréstimos e investimentos do cálculo do déficit, permitindo que empresas como as da área de saneamento possam pegar dinheiro emprestado para investir.
"Por que congelar a nossa possibilidade de financiar o desenvolvimento, por meio de manobras meramente contábeis, se não é assim que se faz na Europa?", perguntou o presidente. "Qual é a razão? Já apelamos ao Fundo Monetário algumas vezes para pedir esclarecimentos. Por que fazem isso? Até hoje, as respostas que deram foram como se alguns de nós fôssemos analfabetos. Não somos. O presidente do Peru, pelo menos é economista, sabe ler. Eu não sou. Sou sociólogo."
FHC também mencionou, como algo negativo, o critério do FMI de computar como dívida o valor inteiro de certos empréstimos, que, embora concedidos a países, ainda não foram totalmente desembolsados.
Quanto à Argentina, FHC apelou ao Fundo para que não exijam demais do país, só o risco de fecharam uma "carta falsa", em vez de uma "carta de intenções".
FHC também criticou diretamente o protecionismo norte-americano. Segundo ele, "as salvaguardas ao aço, que afetarão parte das exportações brasileiras para os EUA, o aumento dos subsídios agrícolas e as limitações dos negociadores norte-americanos no projeto do "fast track" estão na contramão dos esforços de criação de uma verdadeira Alca."



Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.