São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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Agora, relator da ONU elogia álcool nacional

DE GENEBRA

Depois de fazer pesadas críticas à produção de álcool e acusar o governo brasileiro de provocar um desastre humanitário ao estimular a plantação de cana-de-açúcar para a fabricação do combustível, o relator especial da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, voltou atrás.
Na apresentação que fez ontem de seu relatório, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, Ziegler mudou o discurso e elogiou o Brasil. Ressaltou as diferenças entre o álcool feito de alimentos, como o milho e a beterraba, e o produzido a partir da cana.
"A situação no Brasil é diferente da de outros produtores de biocombustíveis, como os Estados Unidos e a Europa. O Brasil não queima alimentos, mas cana-de-açúcar."
O sociólogo suíço, que ficou conhecido pelos livros que escreveu sobre lavagem de dinheiro dos bancos de seu país e se envolveu em polêmicas -ele alertara para o fato de que a produção de álcool provocaria um genocídio e negara que Cuba seria uma ditadura-, agora acredita que o álcool brasileiro é bom para a sociedade.
"O programa brasileiro de promoção de biocombustível tem um forte componente social", disse Ziegler ontem. "Ele está beneficiando camponeses antes marginalizados. Produtos como mamona, babaçu e dendê são processados pelos mais pobres camponeses."

Mudança radical
O discurso de agora é bem diferente do que Ziegler fazia em outubro, quando apresentou seu relatório. Em entrevista concedida à Folha em dezembro, ele chamou a cana-de-açúcar de um "monstro", que promovia o trabalho em condições desumanas e se apropriava de terras e recursos hídricos que deveriam ser usados para a produção de alimentos.
"Em vez de o PT promover a agricultura familiar, volta ao açúcar, que significa concentração de terras nas mãos das multinacionais e das oligarquias. É muito mais do que um problema de produção. Socialmente, o Brasil sofre um enorme retrocesso, volta ao período colonial", afirmara na época.
Ontem, ele explicou a mudança radical. "Pesquisei melhor o assunto, ouvi os argumentos do governo brasileiro e concluí que o biocombustível do Brasil não e uma ameaça ao direito à alimentação."
A diplomacia brasileira em Genebra comemorou a metamorfose e disse que recebeu de Ziegler a promessa de que as mudanças serão incorporadas ao relatório original. (MN)


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