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Agora, relator da ONU elogia álcool nacional
DE GENEBRA
Depois de fazer pesadas
críticas à produção de álcool
e acusar o governo brasileiro
de provocar um desastre humanitário ao estimular a
plantação de cana-de-açúcar
para a fabricação do combustível, o relator especial da
ONU (Organização das Nações Unidas) para o Direito à
Alimentação, Jean Ziegler,
voltou atrás.
Na apresentação que fez
ontem de seu relatório, no
Conselho de Direitos Humanos da ONU, Ziegler mudou
o discurso e elogiou o Brasil.
Ressaltou as diferenças entre o álcool feito de alimentos, como o milho e a beterraba, e o produzido a partir
da cana.
"A situação no Brasil é diferente da de outros produtores de biocombustíveis, como os Estados Unidos e a Europa. O Brasil não queima
alimentos, mas cana-de-açúcar."
O sociólogo suíço, que ficou conhecido pelos livros
que escreveu sobre lavagem
de dinheiro dos bancos de
seu país e se envolveu em polêmicas -ele alertara para o
fato de que a produção de álcool provocaria um genocídio e negara que Cuba seria
uma ditadura-, agora acredita que o álcool brasileiro é
bom para a sociedade.
"O programa brasileiro de
promoção de biocombustível tem um forte componente social", disse Ziegler ontem. "Ele está beneficiando
camponeses antes marginalizados. Produtos como mamona, babaçu e dendê são
processados pelos mais pobres camponeses."
Mudança radical
O discurso de agora é bem
diferente do que Ziegler fazia
em outubro, quando apresentou seu relatório. Em entrevista concedida à Folha
em dezembro, ele chamou a
cana-de-açúcar de um
"monstro", que promovia o
trabalho em condições desumanas e se apropriava de
terras e recursos hídricos
que deveriam ser usados para a produção de alimentos.
"Em vez de o PT promover
a agricultura familiar, volta
ao açúcar, que significa concentração de terras nas mãos
das multinacionais e das oligarquias. É muito mais do
que um problema de produção. Socialmente, o Brasil sofre um enorme retrocesso,
volta ao período colonial",
afirmara na época.
Ontem, ele explicou a mudança radical. "Pesquisei
melhor o assunto, ouvi os argumentos do governo brasileiro e concluí que o biocombustível do Brasil não e uma
ameaça ao direito à alimentação."
A diplomacia brasileira em
Genebra comemorou a metamorfose e disse que recebeu de Ziegler a promessa de
que as mudanças serão incorporadas ao relatório original.
(MN)
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