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Governo prepara medidas para conter queda do dólar
Entre as ações previstas, estaria a tributação de investidor externo em renda fixa
Expectativa é que anúncio saia hoje; objetivo é evitar
uma queda acentuada na balança comercial, o que
poderia afetar a economia
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo quer conter a valorização do real ante o dólar para
tentar evitar uma queda acentuada na balança comercial,
que poderia trazer repercussões negativas na economia nos
próximos anos. Para isso, a
equipe vai adotar medidas para
desestimular a entrada de capital estrangeiro de curto prazo e
aumentar a lucratividade de
exportadores.
Ontem, o ministro Guido
Mantega (Fazenda) trabalhava
com duas medidas: 1) elevar a
tributação do investidor externo nas aplicações de renda fixa,
principalmente de títulos públicos, via aumento do IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras) no ingresso dos recursos; e 2) elevar o montante
de moeda estrangeira que o exportador pode deixar lá fora.
Segundo assessores de Mantega, o anúncio estava programado para hoje, quando devem
ser divulgadas também as linhas básicas de uma política industrial focada no estímulo às
exportações.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que autorizou a adoção das medidas na semana
passada, orientou sua equipe a
não baixar nenhum pacote que
pudesse ter um impacto "brusco" na taxa de câmbio. Ele avalia que o cenário internacional
recomenda cautela. Seu temor
é que uma desvalorização acentuada do real possa gerar pressões inflacionárias e forçar o
Banco Central a elevar os juros.
Impacto suave
A equipe econômica avalia
que as medidas, publicadas na
edição de ontem do jornal "Valor", terão um "impacto suave"
e servirão para acomodar a taxa
de câmbio. Na prática, uma tentativa de minimizar a forte valorização do real que tem ocorrido nos últimos anos.
No mercado, a expectativa é
baixa em relação a qualquer decisão na área cambial. O dólar
está fraco no mundo todo, e o
ritmo da economia brasileira
estimula as importações.
Neste ano, a moeda norte-americana acumula queda de
5,23% ante o real. Ontem, fechou cotada a R$ 1,684.
Uma das medidas em estudo
já foi adotada em 2006, mas até
hoje não teve impacto na taxa
de câmbio. O Banco Central já
havia permitido que as empresas deixassem 30% de sua receita com exportações fora do
país. Agora, há a possibilidade
de adotar uma liberdade total
ou subir o limite para até 70%.
A avaliação é que, mesmo que
não tenha impacto imediato no
câmbio, a medida funcionaria
como um estímulo aos empresários, reduzindo custos e melhorando a eficiência das empresas. Isso se traduziria em
mais competitividade no futuro, especialmente num momento em que eles não puderem mais contar com a alta dos
preços no mercado externo.
Entre as recomendações feitas por Lula a sua equipe, estão
ainda não alterar as regras para
saída do capital estrangeiro do
país nem as das aplicações em
Bolsas de Valores, o que poderia gerar insegurança.
Lula deu sinal verde, porém,
para aumentar a tributação das
operações dos investidores externos em renda fixa com prazos inferiores a até um ano. A
equipe econômica concluiu
que esse tipo de investimento
ganhou dois estímulos fiscais:
já era isento de Imposto de
Renda desde o começo de 2006
e, após 30 dias, ficava livre também do IOF.
Importações
Lula não defende medidas
para conter as importações.
Em reunião na semana passada, ele destacou que o aumento
das compras externas favorece
não só o combate à inflação como dá um choque de produtividade nas empresas brasileiras
-que estão comprando máquinas e equipamentos no exterior
aproveitando o dólar barato para modernizar suas linhas de
produção.
De acordo com o presidente,
sua equipe precisa estimular as
exportações, o que tentará ser
atingido com a nova política industrial. Com anúncio oficial
detalhado prometido para o
início de abril, seu foco deve ser
o corte de impostos para as empresas exportadoras. Entre as
metas da política industrial, está aumentar a participação brasileira no comércio mundial de
1,16% para 1,25% até 2010.
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