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Brasil é "vítima acidental" da crise global, diz Roubini
Economista defende maior intervenção dos governos para combater a crise
Para ele, Brasil está em melhores condições na crise, deve elevar gasto público e ao mesmo tempo se comprometer com reformas
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO
O Brasil é uma "vítima acidental" da crise econômica global, que ainda vai piorar, evoluindo para uma "recessão global severa". A opinião é do economista mais badalado destes
tempos econômicos sombrios,
o turco-americano Nouriel
Roubini, em São Paulo para disputadas palestras.
"O Brasil está em condições
muito melhores hoje", pondera
Roubini, que ganhou a alcunha
de "Mr. Doom" (Sr. Apocalipse)
por causa das previsões catastrofistas que vem fazendo, com
precisão muito acima da média
nesta era de incertezas.
Em evento ontem em São
Paulo do BTG, a nova empresa
de investimentos de André Esteves e Persio Arida, ele disse
que o Brasil deve ter neste ano
um crescimento próximo de
zero ou, mais provavelmente,
"ligeiramente negativo".
Embora ressalte que a situação brasileira é menos desconfortável que a de vizinhos como
Venezuela e Argentina e que
ainda existe "bastante espaço"
para corte de juros por aqui, diz
que o país enfrenta "problemas
[externos] sobre os quais não
tem controle". E adverte que o
governo brasileiro, com os problemas históricos do país, não
deveria apenas elevar seus gastos para combater a crise, mas
ao mesmo tempo se comprometer com "reformas estruturais" para reduzir a burocracia,
o custo da mão-de-obra e o peso dos impostos sobre a atividade econômica, além de melhorar a infraestrutura física.
Roubini defende mais gastos
estatais contra a crise, "a única
demanda que cresce hoje no
mundo", mas lamenta o fato de
que as ações oficiais estejam
sempre "atrás da curva", apenas reagindo aos problemas. Isso, para ele, será insuficiente
para tirar as economias do caminho da catástrofe. "É preciso
agir antes", afirma.
Roubini acha ainda tímido o
pacote fiscal do governo americano, já superando US$ 800 bilhões, pois só cerca de US$ 200
bilhões serão gastos no curto
prazo. E mais tímido ainda o da
Europa, criticando a resistência de sua maior economia, a
Alemanha, em elevar gastos.
Ele critica também o socorro
aos bancos na forma atual e diz
que talvez, "infelizmente, sejam necessárias estatizações
temporárias". Rechaça que a
maior economia do planeta seja a única culpada pela crise e
aponta para Reino Unido, Austrália, Espanha, Irlanda, países
bálticos, Cingapura e outros como responsáveis por bolhas financeiras e/ou habitacionais,
na raiz dos problemas globais.
Diz ainda que há países hoje
em situação pior que os EUA,
citando Japão, Alemanha, Coreia do Sul, o sul e o leste da Europa. E que a China está rodando com crescimento zero ou
mesmo negativo na comparação de trimestre contra trimestre anterior. "Antes se dizia
que, quando os EUA espirravam, o mundo pegava gripe. Os
EUA estão com pneumonia."
Ele acredita que, se os governos não atuarem com mais eficiência contra o "ciclo vicioso"
da economia, coisas muito piores podem acontecer, como
uma deflação global após "gasto excessivo na expansão da
produção, que agora encontra a
contração da demanda".
Resumindo seu receituário,
Roubini recomenda mais gasto
fiscal, ação mais agressiva no
resgate aos bancos e dobrar os
recursos do FMI para socorrer
países emergentes.
"Ainda é possível evitar o
pior", diz, com otimismo inesperado diante de sua fama. "Se
fizermos tudo certo, teremos
uma recuperação lenta no ano
que vem", prevê Roubini. "Se
não, depressão global", conclui,
voltando ao estilo apocalíptico.
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