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Economia se recupera no final de 2009
PIB ficou estagnado no ano passado, com queda de 0,2%, mas avançou 2% no quarto trimestre na comparação
com o 3º
Consumo, estimulado por desonerações e crédito, atenuou a crise; queda no investimento e na indústria segurou a economia
PEDRO SOARES
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A crise global restringiu investimentos, reduziu exportações, abalou a indústria e desacelerou o consumo em 2009.
A turbulência empurrou a
economia brasileira para perto
da estagnação: o Produto Interno Bruto (a medida da produção e da renda nacional) registrou variação negativa de 0,2%
no ano passado, a primeira contração desde 1992.
Naquele ano, o país vivia ainda sob a hiperinflação de mais
de 20% ao mês e se via às voltas
com o impeachment do então
presidente Fernando Collor de
Mello -evitado pela renúncia
do mandatário.
Embora tenha vindo com sinal negativo, o resultado de
2009 é encarado mais como de
interrupção do crescimento do
que de encolhimento, pelo IBGE. "Variações entre mais
meio ponto e menos meio ponto são equivalentes a zero",
afirmou Rebeca Palis, gerente
de Contas Nacionais do IBGE,
ao anunciar o PIB.
A avaliação é compartilhada
por analistas. "O fato econômico relevante é que houve estagnação. Essencialmente, a economia em 2009 foi igual à de
2008, ou seja, um ano perdido",
disse o economista Armando
Castelar, analista da Gávea Investimentos.
Desde o fim do ano passado,
o cenário mudou: a economia
está aquecida e cresce atualmente num ritmo entre 5% e
6% anuais, segundo especialistas. "Esse crescimento para
2010 está dado até por conta da
fraca base de comparação",
avaliou Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Já no quarto trimestre, o PIB
avançou 2% na comparação livre de influências sazonais com
o terceiro trimestre. Ante o
mesmo período de 2009, o
crescimento foi de 4,3%.
Para este ano, está prevista
uma forte recuperação da indústria -que teve queda recorde de 5,5% em 2009, a maior da
nova série do PIB, iniciada em
1996- e dos investimentos
-com retração de 9,9%, também a mais expressiva da nova
série.
Olhando para o retrovisor, a
economia padeceu em 2009
com a redução extrema do crédito, a fraca demanda mundial
e o menor otimismo de empresários -e de consumidores, em
menor escala.
Consumo
Medidas como a desoneração de tributos em artigos como carros, geladeiras, fogões e
móveis e a expansão do crédito
em bancos públicos conseguiram atenuar esses efeitos e impulsionar o consumo das famílias -que cresceu 4,1%, o menor nível desde 2004 (3,8%).
Foi esse consumo, mesmo
abaixo da média recente, que
impediu uma freada mais forte
da economia. O governo também ampliou gastos como forma de fazer política anticíclica:
seu consumo aumentou 3,7%
em 2009.
Sob a ótica da produção, o setor de serviços, menos sujeito
às crises e embalado pelo consumo interno, avançou 2,6%
em 2009 e atenuou a queda do
PIB.
A crise travou também o comércio exterior do país: as exportações recuaram 10,3%. As
importações cederam com
mais intensidade: 11,4%. Desse
modo, o país teve a primeira
contribuição positiva do setor
externo para a economia desde
2005, com acréscimo de 0,1
ponto percentual.
Indústria e investimentos
Já a queda da indústria foi
tão forte que o setor perdeu peso no PIB: de 27,3% em 2008
para 25,4% em 2009. O mesmo
ocorreu com os investimentos
-cuja taxa como proporção do
PIB cedeu de 18,7% em 2008
para 16,7% em 2009.
No sentido inverso, serviços
e consumo das famílias ganharam participação na economia
do país.
Para 2010, a indústria e os investimentos devem liderar o
crescimento, em boa medida
graças à enfraquecida base de
comparação.
Nem mesmo a prevista alta
da taxa básica de juros, dizem
especialistas, vai abortar o crescimento deste ano -seus efeitos, preveem, serão mais notados em 2011.
"O consumo ainda deve permanecer forte, mas não vai sustentar o nível do último trimestre, quando tivemos antecipação de consumo por conta da
expectativa do fim dos incentivos fiscais. Permanece elevado,
porém, porque vem sustentado
por uma classe média emergente, que quer consumir e que
não teve a renda abalada pela
crise", avalia Bernardo Wjuniski, economista da Tendências
Consultoria.
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