São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2010

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Investimentos caem ao pior nível desde 96

Indicador que reflete se os empresários estão confiantes recuou 9,9% no ano; quarto trimestre, contudo, teve forte avanço

Maior retração ocorreu no primeiro semestre de 2009, de 14,5%, refletindo efeitos da crise global; operações do BNDES foram recorde

DA SUCURSAL DO RIO

Assustados com a crise e sufocados pela falta de crédito, empresários engavetaram projetos em 2009, o que resultou na maior queda nos investimentos para a ampliação da capacidade produtiva desde 1996, início da série do IBGE. A compra de máquinas e equipamentos e as construções, identificadas como formação bruta de capital fixo, encolheram 9,9%.
O indicador reflete se os empresários estão seguros com os rumos da economia para investir no aumento da capacidade de produzir. Um país com capacidade produtiva aquém do que o crescimento econômico exige pode enfrentar, adiante, pressão inflacionária.
A maior retração nos investimentos ocorreu no primeiro semestre do ano: -14,5%, reflexo do pessimismo exacerbado.
Mas o sentimento mudou, mostram os dados do quarto trimestre: os investimentos em capacidade produtiva cresceram 6,6% em relação ao terceiro. "Essa taxa equivaleria a crescer 29,6% em um ano", diz o economista Armando Castelar, da Gávea Investimentos.
"São projetos que já estavam para acontecer antes da crise. Haviam sido engavetados e agora serão postos em prática", diz o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências.
Com o tombo na formação bruta de capital fixo, a taxa de investimentos (quanto do PIB é destinado à ampliação da produção e criação de infraestrutura) retrocedeu de 19%, em 2008, para 16,7% do PIB. É a menor taxa desde 2006, quando ficou em 16,4%.
"Para sustentar crescimento de 5% ao ano, a taxa de investimento deveria estar na casa de 23%", diz Castelar. No curto prazo, o risco inflacionário é pequeno porque o país ainda está voltando a ocupar a capacidade produtiva que havia ficado ociosa com a crise.
O pior resultado dos últimos 14 anos ocorre no momento em que o BNDES atingiu seu recorde em financiamentos, de R$ 137 bilhões, recurso usado pelo governo como medida para combater a falta de crédito.
A busca por empréstimos para elevar a produção se divide, no banco, em dois momentos. No primeiro semestre, as consultas (primeira etapa de um financiamento) caíram 50%.
A virada para o segundo semestre coincidiu com a melhora na expectativa dos empresários com a oferta, pelo banco, de nova linha de crédito com juros reais próximos a zero para compra de máquinas e equipamentos. Em 2010, o orçamento global do BNDES deverá ser de R$ 120 bilhões. O volume não é revertido integralmente em aumento da capacidade produtiva, diz Castelar.
Primeiro porque boa parte do montante não financia máquinas, mas fusões e aquisições entre empresas. Segundo porque, com os juros mais baixos, empresários transferem para o banco projetos que eles teriam condições de bancar sozinhos, assim reservando o caixa para outras finalidades. (SAMANTHA LIMA E PEDRO SOARES)


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