São Paulo, quinta, 12 de março de 1998

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BOI GORDO
Empresa admite atraso no pagamento de 183 contratos, no valor de R$ 3,1 milhões
Gallus confessa dívida e diz que paga em 60 dias

ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

A Gallus Agropecuária deve R$ 3,1 milhões para 183 investidores que fizeram contratos de parceria para engorda de animais com a empresa.
O balanço foi divulgado ontem pelo advogado Aníbal Alves da Silva, 32, que assumiu o o cargo de diretor-executivo da empresa no início da semana.
Silva diz que a Gallus passa por um processo de reestruturação e pretende "liquidar todos os débitos em 60 dias".
Segundo ele, a Gallus está procurando os investidores com a proposta de fazer uma "confissão de dívida, dando bens da empresa como garantia real e prazo máximo de 60 dias para fazer o pagamento".
Os atrasos nos resgates dos contratos foram, conta Silva, causados pela inadimplência de supermercados que compram a produção de frigoríficos, laticínios e avícolas do grupo. Mas não soube dizer o nome dos supermercados nem o valor das dívidas.
Segundo Silva, a empresa não tinha condições de informar ontem o número exato de fazendas e empresas que compõem o grupo, nem o número de animais -bois, aves e suínos- que mantém em suas propriedades.
A Gallus contratou uma firma de auditoria credenciada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para fazer um levantamento do patrimônio da empresa, das contas que têm a pagar e dos créditos a receber.
"O patrimônio é 15 vezes maior que o valor das dívidas", explica o diretor. Ele não apresentou documentos, mas estima que o patrimônio da Gallus atinja cerca de R$ 160 milhões.
A Gallus mantém em carteira, segundo Silva, 1.469 contratos com prazos de vencimento entre dezembro de 97 e março de 2003, que atingem o valor total de R$ 17,5 milhões.
Desde a semana passada a Gallus está impedida, por determinação da CVM, órgão que fiscaliza as empresas do setor, de vender os contratos de engorda, por causa das denúncias de investidores de que a empresa não estaria resgatando as aplicações.
Para proteger os interesses dos investidores, a Justiça Federal concedeu anteontem liminar que determina o bloqueio dos bens dos sócios da Gallus, Gelson Camargo dos Santos e Marli da Silva Salgado, e dos bens imóveis da empresa.
Silva diz que a empresa vai apresentar sua defesa dentro de cinco dias. Pretende mostrar que desde junho de 96 até hoje já resgatou 3.883 contratos, no valor de R$ 50, 5 milhões e que já quitou parte dos 500 títulos protestados em São Paulo.
Grupo europeu
A Gallus diz que um grande grupo investidor europeu está interessado em assumir o controle da empresa, com compra de 51% das ações. "As negociações estão adiantadas", diz Silva, que não quis revelar o nome do grupo.
Atualmente a Gallus pertence a Gelson Camargo dos Santos -dono da Framel, empresa que detém 97% das ações da Gallus- e a Fernando Caron, que é o diretor-presidente do grupo e possui 3% das ações.
Segundo Silva, Santos está afastado da administração da Gallus desde o ano passado.
Além de tentar vender a empresa, Silva conta que a Gallus está negociando linhas de crédito junto em instituições financeiras. Ele também espera a liberação de um financiamento de R$ 5,2 milhôes, que já teria sido pré-aprovado pelo BNDES.
A direção do BNDES confirma que a Gallus pediu o financiamentos, mas diz que o pedido foi arquivado por inexistência de garantias, após análise do cadastro.
Silva diz desconhecer a informação de que o financiamento não será liberado.



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