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IMPORTAÇÃO
Contêineres continham 3.500 toneladas de produtos com preços declarados inferiores aos de mercado
Receita faz a maior apreensão do Brasil
FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Santos
A Receita Federal anunciou ontem a apreensão no porto de Santos (SP) de 327 contêineres carregados com 3.500 toneladas de
mercadorias importadas. Segundo
a Receita, a apreensão é a maior já
realizada em todo o Brasil.
Dos 327 contêineres, 91 continham equipamentos eletrônicos e
de informática; 72, produtos têxteis; seis, brinquedos; 19, produtos
alimentícios; 96, mercadorias diversas; e 43 eram destinados a empresas "fantasmas".
A apreensão é o resultado da
chamada "Operação Quaresma"
da Receita Federal, que desde outubro vem rastreando as transações comerciais de empresas suspeitas de fraudes no porto.
A principal irregularidade entre
os contêineres apreendidos é o
subfaturamento: preços declarados nas guias de importação muito inferiores ao valor de mercado
dos produtos.
O objetivo dos fraudadores era
pagar menos II (Imposto de Importação), IPI (Imposto Sobre
Produtos Industrializados) e
ICMS (Imposto Sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços).
Conforme a Receita, a soma dos
valores declarados totaliza R$ 50
milhões, mas o valor de mercado
de todos os produtos é de cerca de
R$ 200 milhões.
Se os contêineres tivessem passado pela fiscalização, teriam sido
sonegados R$ 20 milhões em impostos federais (II e IPI) e R$ 15
milhões em imposto estadual
(ICMS), estimou o inspetor da Alfândega do porto de Santos, Haroldo da Costa Amorim.
Além de subfaturamento, havia
outras irregularidades, como declaração indevida (a mercadoria
dentro do contêiner não correspondia à declarada), declaração de
quantidade inferior à efetivamente
importada e classificação fraudulenta de um produto tributável como produto isento de tarifas.
O superintendente da Receita
Federal em São Paulo, Flávio Del
Comuni, afirmou que a apreensão
dos contêineres somente aconteceu depois de vencido o prazo (de
até 90 dias) para que os proprietários pagassem os impostos que
permitiriam a eles retirar as mercadorias dos depósitos no porto.
Segundo Del Comuni, a fraude é
cometida por meio da falsificação
de faturas e de notas fiscais, cujos
valores não correspondem ao preço real dos produtos.
"Estamos trabalhando com uma
lista de preços de fornecedores do
exterior e questionamos os valores", afirmou.
De acordo com o superintendente, constatada a diferença, os
impostos são cobrados com base
nos valores da lista, e muitos importadores acabam preferindo
abandonar as mercadorias a pagar
os tributos.
Del Comuni afirmou que, apesar
da tentativa de fraude, não há como denunciar as empresas à Justiça por essa prática.
"Só podemos fazer a prova de
fraude quando conseguimos a nota de venda do exportador", o que,
segundo ele, é muito difícil.
Por esse motivo, afirmou, os nomes das empresas não foram divulgados. "A Constituição exige
sigilo fiscal."
O superintendente da Receita
disse que a investigação fiscal é a
maneira de conseguir levar à prisão os fraudadores.
"Vamos buscá-los no Imposto
de Renda da pessoa física e no Imposto de Renda da pessoa jurídica.
O aperto está sendo grande. Não
queremos apreender só a carga.
Queremos prender as pessoas."
O procurador da República Carlos Alberto Gomes de Aguiar afirmou que está acompanhando o
trabalho da Receita e que vai ouvir
despachantes e importadores.
Segundo ele, os responsáveis pelas fraudes poderão ser denunciados por crime contra a ordem tributária (pena de dois a cinco anos
de prisão).
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