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MÃO-LEVE
Ladrões provocam perdas que equivalem a 1% do faturamento do setor; redes varejistas investem em segurança
Furtos roubam lucro dos supermercados
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco produtos furtados, quatro dias detida no Cadeião de Pinheiros, cinco quilos mais magra.
A dona-de-casa S.S.M., 20, foi
presa em abril após furtar um creme dental, uma escova de dentes,
um kit com três calcinhas e dois
shorts de uma unidade do Extra
no Jaguaré (zona oeste de SP).
Com a filha de três anos, ela
conseguiu passar pelo caixa, onde
pagou por alguns outros produtos. Acabou interceptada pela segurança ao sair de um banheiro
da loja equipado com alarme antifurto. Não conseguiu negociar
com os seguranças e foi levada para o 93º DP (Jaguaré).
Após quatro dias presa, a dona-de-casa conseguiu um alvará de
soltura e aguarda julgamento.
A história de M. talvez fosse diferente se os hipermercados não
estivessem travando uma verdadeira guerra contra os furtos, que
reduzem as já apertadas margens
de lucro.
Segundo pesquisa do Grupo de
Prevenção de Perdas do Provar
(Programa de Administração do
Varejo) da USP, os furtos correspondem a 61,3% das perdas totais
do setor supermercadista, que
equivalem em média a 1,6% do faturamento. Ou seja, 1% do faturamento dos setor seria perdido
com furtos.
As grandes redes alegam que o
furto por impulso, cometido ocasionalmente por clientes como
M., não é o que mais incomoda. O
que pesaria mais nas perdas é o
furto profissional, realizado com
o objetivo de vender produtos para o comércio informal ou pequenos mercados.
"Existem grupos de pessoas que
se organizam para furtar aos pouquinhos e depois vender para camelôs, por exemplo. O preço de
lâminas de barbear e protetores
solares, que são alguns dos produtos mais furtados, é relativamente alto", diz Mário Duarte, gerente de planejamento em prevenção de perdas do Pão de Açúcar. O mercado informal vende
mais barato essas mercadorias.
Os profissionais do furto usariam estratégias como entrar em
grupo no supermercado para desviar a atenção de seguranças. Utilizariam também menores, que
despertam menos suspeitas. "Alguns adotam sacolas forradas de
alumínio para inibir o sistema de
antenas de etiquetas antifurto",
diz Márcio Mota, gerente de prevenção de perdas da rede D'avó.
De acordo com empresas de segurança especializadas em varejo,
quem furta profissionalmente
vem se adaptando nos últimos
anos para burlar o aparato de segurança que os supermercados
adquiriram. "Os seguranças são
orientados a agir com muita cautela. Por isso, muitos casos não
chegam à delegacia", afirma Talma Bauer, chefe dos investigadores do 73º Distrito Policial, no Jaçanã, na zona norte de São Paulo.
Os próprios funcionários muitas vezes têm papel ativo nos furtos. Segundo a pesquisa do Grupo
de Prevenção de Perdas do Provar, o furto interno é responsável
por 29% das perdas totais, próximo aos 32,3% de clientes.
Etiquetas e câmeras
Segundo Luiz Fernando Biasetto, diretor da consultoria Gouvêa
de Souza, as grandes redes olham
o problema com atenção maior
desde o Plano Real, quando a queda dos juros fez com que elas deixassem de lucrar com aplicações
no mercado financeiro e passassem a contar principalmente com
o lucro operacional, cada vez mais
escasso nos últimos anos.
Um exemplo é o Pão de Açúcar,
que desde 99 instituiu uma diretoria de prevenção de perdas. Na
época, o prejuízo -contabilizado
pelo grupo como metade oriundo
de furtos e a outra metade de desperdício e gerenciamento inadequado de mercadorias- era de
2,2% sobre a venda bruta. No ano
passado, o número foi de 1,3%.
As mudanças trazidas pelo investimento são visíveis nas lojas
da rede, dona das bandeiras Pão
de Açúcar, Extra e Barateiro. Cerca de 25% dos 4.000 produtos
mais furtados são plastificados
com etiquetas antifurto. Nas áreas
de maior risco, o aviso: "Você está
sendo filmado".
Os custos para a aquisição do
sistema tecnológico, das etiquetas
e da mão-de-obra para o serviço
são repassados aos preços.
Consumo restrito
Além dos gastos com sistemas
de segurança, pessoal e treinamento de funcionários, as grandes redes utilizam determinadas
táticas para inibir o furto. Uma
delas é confinar, ou seja, esconder
determinados produtos. Isso é
feito principalmente com bebidas
caras e cigarros. O problema: as
vendas caem em média 40%.
Outra estratégia é colocar parte
dos produtos de maior risco, como lâminas de barbear, protetores solares e filmes fotográficos,
próximos ao caixa, de maneira
que os funcionários tenham
maior controle sobre eles.
"Isso ajuda de duas formas: incentiva o impulso da compra e
inibe o impulso do furto", afirma
Antonio Freitas, diretor de logística do Sonae (bandeiras BIG, Cândia, Mercadorama e Nacional).
No ano passado, o grupo investiu cerca de R$ 2,5 milhões apenas
em equipamentos de segurança.
"Evitamos 40 mil furtos, ou seja,
um terço da nossa média anual."
Segundo os supermercados,
não são apenas os produtos menores que desaparecem das gôndolas. As grandes redes afirmam
que itens mais difíceis de esconder, como tintura para cabelo e
até peças de carne bovina e bacalhau, também são bastante furtados. Nesses casos, os clientes escondem a carne em bolsas, sacolas ou embaixo das roupas.
O furto de carnes congeladas é
tão frequente que empresas de segurança no varejo criaram uma
etiqueta antifurto especial para
baixas temperaturas.
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