São Paulo, sábado, 12 de maio de 2007

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Real valorizado "destrói" 152,4 mil empregos em seis setores

Entre fevereiro de 2006 e fevereiro de 2007, setores que fecharam vagas, como o de vestuário e o eletroeletrônico, foram também os que mais importaram

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização do real em relação ao dólar foi responsável pela destruição de 152,4 mil empregos em seis setores da indústria entre fevereiro de 2006 e fevereiro deste ano, segundo cálculo de Marcio Pochmann, economista do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp.
Com base na PIM (Pesquisa Industrial Mensal) do IBGE e em dados de importação e exportação do Ministério do Desenvolvimento, o economista diz que os setores que fecharam vagas, como calçados e couro, vestuário, madeira e mobiliário, papel e gráfica, borracha e plástico e eletroeletrônico, foram também os que mais importaram no período.
Entre fevereiro de 2006 e fevereiro deste ano, a indústria calçadista fechou 50.035 vagas. Nesse mesmo período, a importação de calçados e couro subiu 35,3%. No setor de vestuário, a situação é parecida -foram fechadas 45.986 vagas, enquanto as importações cresceram 34%, no período. "A taxa de câmbio -US$ 1 vale R$ 2,02- afeta os setores mais sensíveis à importação. Está havendo substituição de produto nacional por importado."
Na avaliação de Pochmann, a valorização do real também é responsável pela diminuição na relação (elasticidade) entre a produção e o emprego no país. Historicamente, a cada 1% de aumento do PIB industrial, o emprego cresce entre 0,45 e 0,55 ponto percentual.
No período analisado por Pochmann, entre fevereiro de 2006 e fevereiro de 2007, a elasticidade foi de 0,33 ponto percentual -isto é, para cada 1% de aumento no PIB industrial, o emprego, que crescia até 0,55 ponto percentual, cresce agora 0,33 ponto percentual. "É o efeito da taxa de câmbio."
Nos cálculos de José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, associação que reúne as empresas que exportam e importam, a taxa de câmbio está mais defasada (em relação à inflação) do que na véspera da implantação do câmbio flutuante, em janeiro de 1999. Essa defasagem varia de 7,8% (INPC) a 39,8% (IGPM), considerando o período de janeiro de 1999 a março deste ano, segundo cálculos de Castro.
"A tendência é de a substituição de produtos nacionais por importados se espalhar para outros setores, como já se verifica nas indústrias de autopeças e de eletrodomésticos, e resultar em mais desemprego", diz.
Para os setores em que o diferencial é preço, "o real valorizado é a desgraça total", diz João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Quem faz produto diferenciado, mais caro, está numa situação melhor."
Redução mais significativa da taxa de juros poderia inverter essa situação, na avaliação dos economistas, pois isso reduziria o ingresso de capital especulativo no país e, como conseqüência, a pressão sobre a taxa de câmbio. "Embora a taxa de câmbio esteja ruim, sempre defendemos que o câmbio tem de ser flutuante. A taxa de juro é que precisa cair", diz Castro.
Como o governo já afirmou que a queda da taxa de juros será lenta e gradual, "essa situação deve persistir", diz Sabóia.


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