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Real valorizado "destrói" 152,4 mil empregos em seis setores
Entre fevereiro de 2006 e fevereiro de 2007, setores que fecharam vagas, como o de vestuário e o eletroeletrônico, foram também os que mais importaram
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A valorização do real em relação ao dólar foi responsável pela destruição de 152,4 mil empregos em seis setores da indústria entre fevereiro de 2006
e fevereiro deste ano, segundo
cálculo de Marcio Pochmann,
economista do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do
Trabalho (Cesit) da Unicamp.
Com base na PIM (Pesquisa
Industrial Mensal) do IBGE e
em dados de importação e exportação do Ministério do Desenvolvimento, o economista
diz que os setores que fecharam
vagas, como calçados e couro,
vestuário, madeira e mobiliário, papel e gráfica, borracha e
plástico e eletroeletrônico, foram também os que mais importaram no período.
Entre fevereiro de 2006 e fevereiro deste ano, a indústria
calçadista fechou 50.035 vagas.
Nesse mesmo período, a importação de calçados e couro
subiu 35,3%. No setor de vestuário, a situação é parecida
-foram fechadas 45.986 vagas,
enquanto as importações cresceram 34%, no período. "A taxa
de câmbio -US$ 1 vale R$
2,02- afeta os setores mais
sensíveis à importação. Está
havendo substituição de produto nacional por importado."
Na avaliação de Pochmann, a
valorização do real também é
responsável pela diminuição na
relação (elasticidade) entre a
produção e o emprego no país.
Historicamente, a cada 1% de
aumento do PIB industrial, o
emprego cresce entre 0,45 e
0,55 ponto percentual.
No período analisado por
Pochmann, entre fevereiro de
2006 e fevereiro de 2007, a
elasticidade foi de 0,33 ponto
percentual -isto é, para cada
1% de aumento no PIB industrial, o emprego, que crescia até
0,55 ponto percentual, cresce
agora 0,33 ponto percentual.
"É o efeito da taxa de câmbio."
Nos cálculos de José Augusto
de Castro, vice-presidente da
AEB, associação que reúne as
empresas que exportam e importam, a taxa de câmbio está
mais defasada (em relação à inflação) do que na véspera da
implantação do câmbio flutuante, em janeiro de 1999. Essa defasagem varia de 7,8%
(INPC) a 39,8% (IGPM), considerando o período de janeiro de
1999 a março deste ano, segundo cálculos de Castro.
"A tendência é de a substituição de produtos nacionais por
importados se espalhar para
outros setores, como já se verifica nas indústrias de autopeças
e de eletrodomésticos, e resultar em mais desemprego", diz.
Para os setores em que o diferencial é preço, "o real valorizado é a desgraça total", diz João
Sabóia, diretor do Instituto de
Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Quem faz produto diferenciado, mais caro, está numa
situação melhor."
Redução mais significativa
da taxa de juros poderia inverter essa situação, na avaliação
dos economistas, pois isso reduziria o ingresso de capital especulativo no país e, como conseqüência, a pressão sobre a taxa de câmbio. "Embora a taxa
de câmbio esteja ruim, sempre
defendemos que o câmbio tem
de ser flutuante. A taxa de juro
é que precisa cair", diz Castro.
Como o governo já afirmou
que a queda da taxa de juros será lenta e gradual, "essa situação deve persistir", diz Sabóia.
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