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Fortalecido, FMI exige austeridade da Europa
Com socorro à Grécia, Fundo amplia seu papel nas decisões econômicas globais e resgata receituário para países em crise
Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente, pede mais ação política do bloco; para entidade, reação europeia será moderada e desigual
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A ZURIQUE
De volta ao centro do palco
após acudir a Europa, o Fundo
Monetário Internacional bateu
e assoprou ontem fazendo lembrar sua velha forma: avisou
que está pronto para prover
crédito a outros países à beira
do abismo, mas ditou para Atenas um futuro sombrio.
O diretor-gerente da entidade, Dominique Strauss-Kahn,
lembrou que o problema da
Grécia não acaba no deficit fiscal, e será preciso tratar a falta
de competitividade para sanar
as contas e pagar aos credores.
Na prática, para um país sem
política cambial independente
por conta da moeda comum, isso significa desvalorizar toda a
sua economia achatando salários e preços.
"O programa grego é muito
duro, dolorido, mas é o modo
de voltar para os trilhos. Para a
Grécia, isso vai acontecer por
meio da melhora da competitividade", afirmou.
A recomendação -que lembra o velho receituário do Fundo, do tipo que é mal recebido
nas ruas e tem custo político-
foi feita em entrevista coletiva
em Zurique após um evento
com o Banco Central Suíço.
Strauss-Kahn capitalizou o
momento político, bem definido pouco depois pelo presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles: "A posição do FMI
no sistema financeiro cresceu
enormemente, na prevenção e
no monitoramento".
Já o francês lembrou que a
instituição debate a reformulação de seu mandato, que suas
reservas em um ano triplicaram e que, se forem necessários
pacotes a outros países, o FMI
tem "recursos disponíveis".
"Há perguntas para o futuro
sobre o tamanho do Fundo",
ponderou. "Mas admitimos
que temos de dar um passo
adiante. Isso me deixa otimista
sobre a reforma do mandato."
Indagado pela Folha sobre o
significado político de a União
Europeia ter acorrido ao FMI
após meses dizendo que não o
faria para não mostrar fraqueza, ironizou: "Melhor perguntar à União Europeia, pois não
temos a experiência política".
Mas sua frase seguinte não
deixa de ecoar as semanas de
resistência da Alemanha para
emprestar dinheiro a um vizinho que passou duas décadas
bagunçando o orçamento.
"A solidariedade dos países
da Europa foi grande o bastante para prover a maior parte do
programa [a UE entrou com €
80 bilhões, e o FMI, com € 30
bilhões]. Em qualquer outra
parte do mundo onde os vizinhos quisessem providenciar a
maior parte do pacote, ficaríamos felizes em deixar."
Performance fraca
Relatório emitido ontem pelo próprio FMI guarda poucos
elogios à UE, ressaltando apenas sua ação coordenada para
superar a crise e evitar a quebradeira no sistema bancário.
O documento descreve a recuperação europeia como moderada e desigual, atrelada sobretudo à retomada do comércio global e à política de estímulos (a mesma, diz, que ajudou a
inflar o deficit mediterrâneo).
"A performance da Europa
continua fraca se comparada
com a recuperação em outras
partes do mundo", diz o texto. E
há forte contraste entre os europeus, refletindo vulnerabilidades à dificuldade de financiamento externo e à queda na demanda por exportações.
O FMI se diz cada vez mais
preocupado com a intervenção
estatal e pede mais ação política. "O crescimento deve ganhar
fôlego em 2010-11, mas os motores tradicionais da retomada
estarão mais frágeis."
O texto, sem surpresa, também cita a alta do desemprego e
o risco aos bancos vindo da crise da dívida.
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