São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fortalecido, FMI exige austeridade da Europa

Com socorro à Grécia, Fundo amplia seu papel nas decisões econômicas globais e resgata receituário para países em crise

Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente, pede mais ação política do bloco; para entidade, reação europeia será moderada e desigual

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A ZURIQUE

De volta ao centro do palco após acudir a Europa, o Fundo Monetário Internacional bateu e assoprou ontem fazendo lembrar sua velha forma: avisou que está pronto para prover crédito a outros países à beira do abismo, mas ditou para Atenas um futuro sombrio.
O diretor-gerente da entidade, Dominique Strauss-Kahn, lembrou que o problema da Grécia não acaba no deficit fiscal, e será preciso tratar a falta de competitividade para sanar as contas e pagar aos credores.
Na prática, para um país sem política cambial independente por conta da moeda comum, isso significa desvalorizar toda a sua economia achatando salários e preços.
"O programa grego é muito duro, dolorido, mas é o modo de voltar para os trilhos. Para a Grécia, isso vai acontecer por meio da melhora da competitividade", afirmou.
A recomendação -que lembra o velho receituário do Fundo, do tipo que é mal recebido nas ruas e tem custo político- foi feita em entrevista coletiva em Zurique após um evento com o Banco Central Suíço.
Strauss-Kahn capitalizou o momento político, bem definido pouco depois pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: "A posição do FMI no sistema financeiro cresceu enormemente, na prevenção e no monitoramento".
Já o francês lembrou que a instituição debate a reformulação de seu mandato, que suas reservas em um ano triplicaram e que, se forem necessários pacotes a outros países, o FMI tem "recursos disponíveis".
"Há perguntas para o futuro sobre o tamanho do Fundo", ponderou. "Mas admitimos que temos de dar um passo adiante. Isso me deixa otimista sobre a reforma do mandato."
Indagado pela Folha sobre o significado político de a União Europeia ter acorrido ao FMI após meses dizendo que não o faria para não mostrar fraqueza, ironizou: "Melhor perguntar à União Europeia, pois não temos a experiência política".
Mas sua frase seguinte não deixa de ecoar as semanas de resistência da Alemanha para emprestar dinheiro a um vizinho que passou duas décadas bagunçando o orçamento.
"A solidariedade dos países da Europa foi grande o bastante para prover a maior parte do programa [a UE entrou com € 80 bilhões, e o FMI, com € 30 bilhões]. Em qualquer outra parte do mundo onde os vizinhos quisessem providenciar a maior parte do pacote, ficaríamos felizes em deixar."

Performance fraca
Relatório emitido ontem pelo próprio FMI guarda poucos elogios à UE, ressaltando apenas sua ação coordenada para superar a crise e evitar a quebradeira no sistema bancário.
O documento descreve a recuperação europeia como moderada e desigual, atrelada sobretudo à retomada do comércio global e à política de estímulos (a mesma, diz, que ajudou a inflar o deficit mediterrâneo).
"A performance da Europa continua fraca se comparada com a recuperação em outras partes do mundo", diz o texto. E há forte contraste entre os europeus, refletindo vulnerabilidades à dificuldade de financiamento externo e à queda na demanda por exportações.
O FMI se diz cada vez mais preocupado com a intervenção estatal e pede mais ação política. "O crescimento deve ganhar fôlego em 2010-11, mas os motores tradicionais da retomada estarão mais frágeis."
O texto, sem surpresa, também cita a alta do desemprego e o risco aos bancos vindo da crise da dívida.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Análise: UE está despreparada para apertar o cinto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.