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Governo não usará "desconto" em meta fiscal
Cálculo do superavit primário não deixará de fora os gastos do PAC; se economia se aquecer demais, meta pode até ser elevada
Estratégia visa combater a inflação por meio de corte do gasto público e reduzir
o aperto que o BC fará na
sua política monetária
VALDO CRUZ
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula decidiu cumprir a "meta cheia" do superavit
primário -que equivale a 3,3%
do PIB em 2010-, sem descontar do seu cálculo os investimentos do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Estuda, aliás, aumentar essa
meta caso a economia interna
se aqueça mais e a crise europeia afete o país.
A medida visa combater a inflação por meio da redução dos
gastos públicos diante do forte
crescimento da economia do
país neste ano -a previsão do
governo é que ela cresça entre
5,5% e 6,5%.
A decisão de fazer um ajuste
fiscal maior tem como objetivo
reduzir o aperto que o Banco
Central fará na sua política monetária num ano de eleição presidencial, quando o presidente
Lula trabalha para eleger sua
ex-ministra Dilma Rousseff como sua sucessora.
Sem uma redução nos gastos
públicos, o que ajuda a diminuir a demanda por produtos e
serviços, a tarefa de conter a inflação fica mais a cargo do BC.
Seu principal instrumento para
isso é a elevação das taxas de juros para encarecer o crédito e
reduzir o consumo.
Na última reunião do Copom, a taxa foi elevada de
8,75% para 9,5%. No mercado,
a aposta é que os juros podem
subir para até 11,75% em 2010.
Lula e sua área política gostariam que o ajuste na taxa de juros se encerrasse no início do
segundo semestre, reduzindo
os efeitos negativos sobre a
campanha eleitoral.
Para chegar à "meta cheia", a
equipe econômica já vem trabalhando para definir o tamanho dos cortes a serem feitos
no Orçamento e delimitar as
áreas que serão afetadas.
No início do ano, já havia
anunciado retenção nos gastos
do Orçamento de R$ 21 bilhões.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem afirmando
que os programas sociais e os
investimentos do PAC serão
poupados.
Além do contingenciamento,
o Executivo trabalha com outro
fator para reduzir o ritmo de
gastos nos próximos meses, diminuindo seu consumo.
Por conta do calendário eleitoral, o governo não pode, por
exemplo, contratar novas obras
três meses antes e três meses
depois das eleições.
Manobra
Em 2009, o governo não só
reduziu a meta de economia do
setor público para o pagamento
de juros da dívida pública -de
3,3% para 2,5% do PIB- como
foi obrigado a descontar 0,44%
(R$ 13,9 bilhões) de gastos com
o PAC para cumpri-la.
Neste ano, a equipe econômica tem autorização para descontar até 0,97% do PIB com
investimentos do PAC (R$ 33,6
bilhões), mas decidiu não fazer
uso desse mecanismo como
forma de aumentar a economia
de gastos públicos.
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