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Embargo de informações é normal, diz presidente do órgão
DA SUCURSAL DO RIO
Ao longo de sua história, o
IBGE enfrentou pressões políticas de vários governos com a
divulgação de dados nem sempre favoráveis a interesses eleitorais. Em entrevista concedida à Folha, Eduardo Nunes,
presidente do IBGE, esclarece
polêmicas recentes que envolveram o instituto.
FOLHA - O que o IBGE precisa fazer
para retratar melhor o país?
EDUARDO NUNES - O IBGE precisa unir estatística com geografia num mesmo passo. Numa primeira fase, o principal papel
do instituto foi fornecer informações geográficas sobre o
país. Depois disso, ele se voltou
para a produção de informações sobre a nova realidade do
país. Em 2007, vamos fazer o
censo agropecuário e a contagem da população de todos os
municípios com menos de 170
mil habitantes. Tenho uma
contagem da população que diz
onde moram os brasileiros e a
idade de cada um deles. Se tiver
também onde se situam as escolas, por exemplo, poderemos
ter uma ferramenta útil para
ações no campo educacional.
FOLHA - Apesar dos elogios freqüentes ao corpo técnico do instituto, são comuns as reclamações
quanto aos salários...
NUNES - A remuneração baixa
faz com que muitos saiam num
curto intervalo de tempo. Isso
causa um problema futuro: a
idade média dos servidores do
IBGE é elevada. A perda de pessoal compromete a capacidade
futura da instituição de manter
o nível de excelência. Enviamos
ao Ministério do Planejamento
uma proposta de projeto de lei
de plano de carreira que ainda
precisa ser enviada à Casa Civil
e ao Congresso.
FOLHA - Como é o relacionamento
com o governo? Seria benéfico para
o instituto uma autonomia formal?
NUNES - Na maioria dos países
desenvolvidos, existe independência da instituição em relação ao governo, formal e institucional. No Brasil, essa independência institucional não
existe de direito, mas existe de
fato. O tom do discurso do IBGE não muda de uma situação
para outra, o que muda é a reação da sociedade. A independência seria o cenário ideal,
mas o real não é de intranqüilidade. Se no futuro houver dificuldade, é claro que uma instituição independente pode
atuar de maneira diferente,
mas esse não é o quadro atual e
não considero isso prioridade.
FOLHA - Causa desconforto o governo receber pesquisas com antecedência? Isso não facilita uma defesa prévia?
NUNES - Não trabalho com defesa prévia, mas com conhecimento. Nem tudo é negativo, e
o governo não precisa estar
sempre na defensiva. Antes da
portaria [que definiu prazo de
48 horas de antecedência para
pesquisas estruturais e 24 horas para as conjunturais], o governo já recebia as pesquisas,
mas de modo informal e esporádico. Já que era para o ministério receber 48 horas antes, fizemos uma portaria para que
toda a sociedade estivesse a
par. O embargo de publicações
é uma prática adotada no mundo inteiro.
FOLHA - Como o sr. avalia a polêmica com o Banco Central a respeito do
desempenho da economia no terceiro trimestre de 2005?
NUNES - A revisão da queda de
1,2% para 0,9% não é substancial. Não temos a pretensão de
dizer que o número é imutável
e que só nós sabemos a realidade, mas o sinal de tendência da
economia foi mantido.
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