São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2006

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Embargo de informações é normal, diz presidente do órgão

DA SUCURSAL DO RIO

Ao longo de sua história, o IBGE enfrentou pressões políticas de vários governos com a divulgação de dados nem sempre favoráveis a interesses eleitorais. Em entrevista concedida à Folha, Eduardo Nunes, presidente do IBGE, esclarece polêmicas recentes que envolveram o instituto.  

FOLHA - O que o IBGE precisa fazer para retratar melhor o país?
EDUARDO NUNES
- O IBGE precisa unir estatística com geografia num mesmo passo. Numa primeira fase, o principal papel do instituto foi fornecer informações geográficas sobre o país. Depois disso, ele se voltou para a produção de informações sobre a nova realidade do país. Em 2007, vamos fazer o censo agropecuário e a contagem da população de todos os municípios com menos de 170 mil habitantes. Tenho uma contagem da população que diz onde moram os brasileiros e a idade de cada um deles. Se tiver também onde se situam as escolas, por exemplo, poderemos ter uma ferramenta útil para ações no campo educacional.

FOLHA - Apesar dos elogios freqüentes ao corpo técnico do instituto, são comuns as reclamações quanto aos salários...
NUNES
- A remuneração baixa faz com que muitos saiam num curto intervalo de tempo. Isso causa um problema futuro: a idade média dos servidores do IBGE é elevada. A perda de pessoal compromete a capacidade futura da instituição de manter o nível de excelência. Enviamos ao Ministério do Planejamento uma proposta de projeto de lei de plano de carreira que ainda precisa ser enviada à Casa Civil e ao Congresso.

FOLHA - Como é o relacionamento com o governo? Seria benéfico para o instituto uma autonomia formal?
NUNES
- Na maioria dos países desenvolvidos, existe independência da instituição em relação ao governo, formal e institucional. No Brasil, essa independência institucional não existe de direito, mas existe de fato. O tom do discurso do IBGE não muda de uma situação para outra, o que muda é a reação da sociedade. A independência seria o cenário ideal, mas o real não é de intranqüilidade. Se no futuro houver dificuldade, é claro que uma instituição independente pode atuar de maneira diferente, mas esse não é o quadro atual e não considero isso prioridade.

FOLHA - Causa desconforto o governo receber pesquisas com antecedência? Isso não facilita uma defesa prévia?
NUNES
- Não trabalho com defesa prévia, mas com conhecimento. Nem tudo é negativo, e o governo não precisa estar sempre na defensiva. Antes da portaria [que definiu prazo de 48 horas de antecedência para pesquisas estruturais e 24 horas para as conjunturais], o governo já recebia as pesquisas, mas de modo informal e esporádico. Já que era para o ministério receber 48 horas antes, fizemos uma portaria para que toda a sociedade estivesse a par. O embargo de publicações é uma prática adotada no mundo inteiro.

FOLHA - Como o sr. avalia a polêmica com o Banco Central a respeito do desempenho da economia no terceiro trimestre de 2005?
NUNES
- A revisão da queda de 1,2% para 0,9% não é substancial. Não temos a pretensão de dizer que o número é imutável e que só nós sabemos a realidade, mas o sinal de tendência da economia foi mantido.


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