São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Câmbio suave no câmbio

Apesar da especulação teórica sobre normas do BC, alvo seria a especulação real e excessiva de alguns pequenos "players"

A LIGEIRA especulação (teórica) com o efeito das medidas cambiais do Banco Central desmilingüe-se diante da tranqüilidade de ontem no mercado. Outro indício, aliás, de como são precárias e precipitadas as avaliações sobre o emaranhado cada vez maior do mercado de moedas e de juros.
Ainda assim, resta a questão do motivo de o BC haver reduzido, na sexta-feira, a amplitude teórica das operações dos bancos com câmbio (quanto mais risco cambial, mais capital "próprio" é exigido do banco, que tende, assim, em tese, a se expor menos a operações com moedas).
Mais que todo o mundo do mercado, o BC pode ter mais noção do impacto real de suas normas, impacto que em parte depende do tamanho e da natureza da exposição cambial de cada banco (para não dizer de resto que o BC tem noção clara de que a especulação com moeda é agora um fator menor da alta do real).
Além do mais, vale considerar a evidência pontual, mas não irrelevante, de que desde abril o diretor de Política Monetária do BC é Mário Torós, que chegou ao topo da carreira de executivo financeiro como gestor de tesouraria e mercado em bancos. Torós em particular não deve ter ilusões (nem muito apreço) sobre o alcance da regulação do BC, mas sabe onde o calo aperta.
Por fim, é preciso lembrar que em dezembro do ano passado, quando o BC desapertou exatamente as mesmas cravelhas cambiais que aperta agora, o presidente do BC, Henrique Meirelles, observou que a medida era modernizadora por destravar o mercado cambial. Por que foi preciso dar uma travadinha, agora?
Isto posto, e daí? Grosso modo, exposição cambial significa o quanto do capital do banco está "aplicado" em operações que têm como objetivo lucrar com a variação do preço das moedas (da variação do preço à vista em relação ao preço futuro; da variação de uma moeda contra outra, por exemplo). Mas um banco também pode comprar moedas com o objetivo de ganhar com a diferença das taxas de juros em dois países, "casando" ou "protegendo" essas suas aplicações em moedas de modo a, em tese, não perder nem ganhar com variações cambiais, para ficar num exemplo simples.
Para começar a ter alguma noção do impacto das medidas do BC, seria preciso saber, pois, se os bancos estão expostos a risco de flutuação cambial e em quanto: se estão ou não dentro dos novos limites impostos pelo BC. Ainda ontem debatia-se também o efeito da circular que entra em vigor em julho, que em tese limita a "alavancagem" (aplicações financiadas com empréstimos) no câmbio, e em que medida grandes bancos teriam "apostas direcionais" (para ganhar com a variação do dólar contra o real; a "aposta" grossa hoje é de desvalorização do dólar).
Enfim, as medidas parecem dirigidas, a princípio, para pequenos bancos com aplicações grandes demais, e talvez alavancadas demais, na queda do dólar e que teriam problemas com uma variação abrupta contra a tendência de sua aposta (houve dois episódios do tipo neste ano mais volátil, sem mortos ou feridos graves, mas nunca se sabe). Em segundo lugar, avalia-se que as medidas atenuem variações cambiais, mas em nada afetam sua tendência. Avalia-se: é o pouco que dá para saber.


vinit@uol.com.br

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