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VINICIUS TORRES FREIRE
Câmbio suave no câmbio
Apesar da especulação teórica sobre normas do BC, alvo seria a especulação real e excessiva de alguns pequenos "players"
A LIGEIRA especulação (teórica)
com o efeito das medidas
cambiais do Banco Central
desmilingüe-se diante da tranqüilidade de ontem no mercado. Outro
indício, aliás, de como são precárias
e precipitadas as avaliações sobre o
emaranhado cada vez maior do
mercado de moedas e de juros.
Ainda assim, resta a questão do
motivo de o BC haver reduzido, na
sexta-feira, a amplitude teórica das
operações dos bancos com câmbio
(quanto mais risco cambial, mais capital "próprio" é exigido do banco,
que tende, assim, em tese, a se expor
menos a operações com moedas).
Mais que todo o mundo do mercado, o BC pode ter mais noção do impacto real de suas normas, impacto
que em parte depende do tamanho e
da natureza da exposição cambial de
cada banco (para não dizer de resto
que o BC tem noção clara de que a
especulação com moeda é agora um
fator menor da alta do real).
Além do mais, vale considerar a
evidência pontual, mas não irrelevante, de que desde abril o diretor de
Política Monetária do BC é Mário
Torós, que chegou ao topo da carreira de executivo financeiro como gestor de tesouraria e mercado em bancos. Torós em particular não deve
ter ilusões (nem muito apreço) sobre o alcance da regulação do BC,
mas sabe onde o calo aperta.
Por fim, é preciso lembrar que em
dezembro do ano passado, quando o
BC desapertou exatamente as mesmas cravelhas cambiais que aperta
agora, o presidente do BC, Henrique
Meirelles, observou que a medida
era modernizadora por destravar o
mercado cambial. Por que foi preciso dar uma travadinha, agora?
Isto posto, e daí? Grosso modo, exposição cambial significa o quanto
do capital do banco está "aplicado"
em operações que têm como objetivo lucrar com a variação do preço
das moedas (da variação do preço à
vista em relação ao preço futuro; da
variação de uma moeda contra outra, por exemplo). Mas um banco
também pode comprar moedas com
o objetivo de ganhar com a diferença
das taxas de juros em dois países,
"casando" ou "protegendo" essas
suas aplicações em moedas de modo
a, em tese, não perder nem ganhar
com variações cambiais, para ficar
num exemplo simples.
Para começar a ter alguma noção
do impacto das medidas do BC, seria
preciso saber, pois, se os bancos estão expostos a risco de flutuação
cambial e em quanto: se estão ou
não dentro dos novos limites impostos pelo BC. Ainda ontem debatia-se
também o efeito da circular que entra em vigor em julho, que em tese limita a "alavancagem" (aplicações financiadas com empréstimos) no
câmbio, e em que medida grandes
bancos teriam "apostas direcionais"
(para ganhar com a variação do dólar contra o real; a "aposta" grossa
hoje é de desvalorização do dólar).
Enfim, as medidas parecem dirigidas, a princípio, para pequenos bancos com aplicações grandes demais,
e talvez alavancadas demais, na queda do dólar e que teriam problemas
com uma variação abrupta contra a
tendência de sua aposta (houve dois
episódios do tipo neste ano mais volátil, sem mortos ou feridos graves,
mas nunca se sabe). Em segundo lugar, avalia-se que as medidas atenuem variações cambiais, mas em
nada afetam sua tendência. Avalia-se: é o pouco que dá para saber.
vinit@uol.com.br
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