São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Objetivo da mudança é prevenir especulação, diz Mantega

FERNANDO NAKAGAWA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A mudança de regras do mercado cambial anunciada na sexta-feira quer reduzir o espaço dos bancos para especulação. A informação foi dada à Folha pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). Segundo ele, a equipe econômica quer se prevenir contra distorções que podem ser geradas pelas crescentes operações no mercado futuro.
"São medidas que vêm no sentido de diminuir a capacidade especulativa", disse. Entre as medidas, o BC reduziu o limite de aplicações cambiais de 60% para 30% do patrimônio das instituições financeiras. Essas ações foram tomadas, segundo ele, após a observação de "abusos e distorções" no mercado futuro -onde contratos de compra e venda são fechados com base em preço e data predeterminada. "Detectamos exagero, excesso de operações e estamos tentando coibi-las."
As declarações de Mantega contradizem as justificativas técnicas apresentadas pelo BC. Para a autoridade monetária, as mudanças tiveram apenas caráter "prudencial", ou seja, pretendem dar mais solidez ao sistema financeiro.
Segundo o raciocínio do BC, momentos de grandes oscilações do dólar -para cima ou para baixo- aumentam os riscos das operações cambiais.
Assim, para evitar que uma queda ou uma alta muito brusca das cotações quebre uma instituição financeira, passa-se a exigir mais capital como garantia.
Técnicos do BC acrescentam que as posições cambiais de muitos bancos já estavam abaixo dos limites fixados antes da mudança. Isso explicaria a queda do dólar ontem, no primeiro dia de negócios após a divulgação das medidas. Os novos limites podem produzir efeitos mais concretos ao longo das próximas semanas, pois devem impedir que as operações de câmbio cresçam na mesma velocidade dos últimos meses.
Apesar da expectativa de efeito nas cotações, o impacto deverá ser reduzido. Para o professor Fernando de Holanda Barbosa, da FGV do Rio de Janeiro, as medidas podem diminuir o espaço de "um ou outro banco". "Mas as principais causas da queda do dólar, como o excesso de dólares no exterior e os juros altos no Brasil, continuam", diz.
Procurada para comentar a afirmação do ministro sobre os bancos, a Febraban (Federação dos Bancos Brasileiros) disse que não se pronunciaria.

Desoneração
Mantega também sinalizou que a desoneração da folha de pagamento para setores que sofreram com a valorização do real não deverá sair rapidamente. Apesar das promessas de que a medida seria anunciada em breve, o ministro disse que os testes mostram "que não será fácil" implementar a regra.
Diante desse cenário, a equipe econômica prepara nova desoneração para esses mesmos segmentos que sofreram com o dólar. Uma das propostas é oferecer crédito com juros mais baixos que a média do mercado. A diferença seria coberta pelo Tesouro Nacional.
Mantega disse que essas medidas poderiam sair ainda nesta semana. A Folha apurou que a linha de crédito, a ser oferecida por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), deverá chegar a R$ 3 bilhões.


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