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Inflação atinge 0,79% em maio, maior taxa em 3 anos
Sob pressão de alimentos, índice de 5,58% em 12 meses supera centro da meta em 1 ponto
Grupo alimentação e bebidas
responde por metade do IPCA
acumulado no ano; para
analistas, não há sinais de
alívio na pressão inflacionária
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) superou
até as expectativas mais pessimistas e subiu 0,79% em maio
-acima do 0,55% de abril. É a
maior alta desde abril de 2005
(0,87%) e a mais elevada variação para um mês de maio desde
1996. A taxa em 12 meses, de
5,58%, é a maior desde janeiro
de 2006 (5,70%).
Diante da persistente alta da
inflação, especialistas cogitam
a possibilidade de o índice ultrapassar o teto da meta para
2008 (6,5%). O próprio governo não descarta que a taxa em
12 meses supere 6%. O índice de maio se afastou
muito do previsto pelo mercado -de 0,55% a 0,60%- e deve
propiciar um aperto monetário
mais forte por parte do Banco
Central, avaliam os analistas.
Apesar das expectativas de
arrefecimento, os alimentos foram, mais uma vez, os vilões em
maio. Subiram 1,95%.
Com alta de 6,40% no ano, só
o grupo alimentação e bebidas
representou 1,34 ponto percentual da inflação de 2,88% acumulada no ano -48% do índice.
E a pressão dos alimentos já
transcendeu a fronteira de outros grupos de preços e se reflete em outros aumentos do custo de vida, especialmente os
serviços.
"A alta dos alimentos é generalizada e se acelerou. O consumidor passou a pagar mais,
apesar da previsão de aumento
da safra. Há uma pressão de
preços, em parte, por causa do
aumento das commodities no
mercado internacional e em razão do maior consumo doméstico e mundial de alimentos.
As pessoas nos países pobres
estão comendo mais", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preço do
IBGE.
O mais grave é que essa situação tende a se manter nos próximos meses. Segundo ela, não
existem sinais claros de queda
dos preços internacionais de
alimentos. A demanda deve
permanece aquecida. Tal cenário indica que os preços dos alimentos tendem a se manter
sob pressão, de acordo com Nunes dos Santos.
Entre as altas no mês passado, estão itens básicos, como
arroz (19,75%), batata
(19,39%), tomate (13,56%), macarrão (4,94%) e pão francês
(4,74%).
Surpresa
O resultado do IPCA surpreendeu analistas, que já previam uma desaceleração do
preço dos alimentos em maio.
"Havia muito tempo não acontecia um descompasso tão
grande entre as previsões e o
número divulgado. Todo mundo foi pego de surpresa", diz
Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-RJ.
Segundo ele, não há indicações de descompressão da inflação, o que deve levar o Banco
Central a definir altas mais expressivas dos juros. O que mais
assusta, diz, é que os aumentos
"vêm em ondas": os preços sobem rapidamente, alçam novos
patamares e não mais recuam.
"Eles, no máximo, estabilizam-se, diferentemente do que
ocorria no passado."
Com esse cenário, Cunha não
descarta a possibilidade de o
IPCA superar o teto da meta do
governo. Até porque o aumento
dos alimentos já começa a se
espalhar para outros grupos,
segundo ele.
A LCA diz, em relatório, que
os dados de maio obrigam a revisões de suas estimativas -a
consultoria projetava um IPCA
de 5,5% neste ano.
"A alta dos preços dos alimentos ganhou intensidade e
disseminação bem maiores do
que esperávamos e deve continuar com um foco de pressão
nos próximos meses."
Inflação dos mais pobres
A alta dos alimentos rebate
com força no bolso das famílias
mais pobres, e a variação de
0,96% do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)
em maio ilustra essa realidade.
É que o índice apura a inflação
para as de menor renda -de 1 a
6 salários mínimos. No ano, o
indicador acumulou alta de
3,32%. Em 12 meses, a taxa bateu em 6,64%.
O INPC adota a mesma metodologia empregada no IPCA.
As variações de preços são
iguais. Somente os pesos mudam. Enquanto no IPCA o grupo alimentação, por exemplo,
contribuiu com 22,1% do índice, o peso do grupo no INPC é
de 29,6%.
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