São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO
Lojistas de shoppings paulistas prevêem aumento mesmo com desemprego, queda dos salários e juros altos
Namorados podem elevar vendas em 8%

Adriana Zebrauskas/Folha Imagem
Consumidoras olham vitrine em shopping de São Paulo; venda dos Dia dos Namorados devem crescer 8% em relação ao ano passado


FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Apesar do elevado desemprego, da queda real dos salários e das altas taxas de juros, lojistas de shoppings de São Paulo e economistas da associação comercial paulista prevêem que, neste mês, as vendas, embaladas pelos namorados, devem crescer 8% sobre 98, em média.
O aumento no faturamento das lojas, segundo os shoppings, começou a ser verificado desde segunda-feira, com o pagamento dos salários. Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, associação que reúne lojistas de shoppings, diz que esse crescimento, que deve chegar a 8% no mês, na comparação com igual mês de 98, se deve ao frio e ao fato de, no ano passado, as vendas para o Dia dos Namorados terem sido prejudicadas por causa dos jogos da Copa do Mundo.
Os gastos com prêmios e promoções -11 shoppings paulistas estão gastando quase R$ 4 milhões em campanhas para o Dia dos Namorados - também são um estímulo às vendas, dizem os lojistas. O shopping Morumbi acha que, neste mês, as vendas devem crescer 5% sobre junho de 98. "Estamos faturando mais por causa do frio e da migração das vendas de lojas de rua para as de shoppings."
O shopping Tamboré prevê para faturamento 7% maior do que em junho de 98. O Morumbi, de 5%. O Jardim Sul, de 9%. O Iguatemi, de 9,7%.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) prevê que, na média dos seus dois serviços -SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), indicador das vendas a prazo, e Telecheque, termômetro das vendas à vista-, as consultas neste mês crescerão entre 5% e 6% sobre junho do ano passado.
Do dia 1º a 9 deste mês, as consultas ao SPC subiram 15,1% em relação a igual período de 98, mas as consultas ao Telecheque caíram 1,7%. "As vendas a prazo continuam em recuperação. É um indicador de que a recessão não está se aprofundando", diz Emílio Alfieri, economista da associação.
Na comparação com maio, tanto as consultas ao SPC quanto as ao Telecheque estão em queda -8,5% e 13,7%, respectivamente. Essa queda, segundo Alfieri, é considerada sazonal. "O Dia das Mães movimenta mais o comércio do que o Dia dos Namorados."
Fábio Silveira, economista da Tendências Consultoria, diz que não há sinais que possam indicar recuperação sustentada do consumo. "O que existe são aumentos nas vendas por razões sazonais."
Para ele, o que pode explicar o salto nas vendas em datas comemorativas é o fato de o consumidor empregado estar segurando os gastos justamente por temer o desemprego, mas acabar abrindo um pouco mais a carteira quando o apelo ao consumo é mais forte.
Silveira lembra que o desemprego é elevado. Em abril, segundo o Dieese, existiam cerca de 1,8 milhão de desempregados na região metropolitana de São Paulo, ou 20,3% da População Economicamente Ativa. "E o salário real dos trabalhadores nos primeiros meses deste ano caiu, em média, 5%."
Pode haver recuperação nas vendas, segundo o economista, em algumas regiões, motivada por alguma razão, como a colheita e venda da safra agrícola. "Mas, ainda assim, isso é muito mais reflexo do consumo adiado do que da expansão consistente da economia."
As taxas de juros, diz, continuam elevadíssimas para os consumidores, apesar de o governo ter reduzido várias vezes os juros básicos da economia desde o início do ano.
Há um ano, segundo levantamento da Tendências, o consumidor pagava, nas compras a prazo, juros de 110% ao ano, em média. Essa taxa caiu para 95% neste ano. "Mas ainda chega a ser um insulto cobrar isso do consumidor."
Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, diz que, apesar de o movimento de vendas para o Dia dos Namorados ser bom, é cedo para afirmar se existe apenas uma bolha de consumo ou se a recuperação nas vendas é consistente.


Texto Anterior: Preços voltam a cair nos supermercados de SP
Próximo Texto: Celulares têm procura maior
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.