São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Para instituição, governo será obrigado a aumentar meta de superávit primário se houver novo choque externo

País poderá ter de elevar aperto fiscal, diz Bird

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento do Bird (Banco Mundial) afirma que o governo brasileiro será obrigado a elevar o superávit primário -a parcela das receitas destinada ao pagamento da dívida pública- caso a economia do país seja abalada por choques externos, como a alta dos juros dos EUA e a elevação dos preços do petróleo.
"No futuro próximo, a resposta à deterioração do cenário externo que pode advir do aperto da liquidez internacional e de preços maiores do petróleo vai requerer novos ajustes das políticas macroeconômicas", diz o texto, de 24 de junho. Os "novos ajustes" são especificados: "Se o país for atingido por outro choque externo, o governo terá de estar preparado para aprofundar o ajuste fiscal por meio de cortes de gastos, em vez de elevar as receitas".
O Bird acrescenta que, como ocorreu nas crises de 2001 e 2002, um eventual choque externo pode resultar em uma elevação das metas de inflação, para que não seja necessária uma elevação excessiva dos juros destinada a combater o efeito da alta do dólar.
"O cenário mais provável consiste em o governo manter ou até aumentar os superávits primários e absorver choques externos por meio de abrandamento da política monetária e inflação mais alta."
A lógica é a seguinte: um mercado internacional desfavorável, como o que já se prenuncia, pode reduzir o fluxo de capital externo ao Brasil e provocar a disparada das cotações internas do dólar; nesse caso, haveria elevação da inflação e da dívida pública, porque boa parte dela é em dólar ou corrigida pela variação cambial.
Por razões semelhantes, o governo tem elevado os superávits primários desde 1999, quando iniciou, a partir de acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Bird, seu programa de ajuste fiscal. Hoje, a meta é de 4,25% do Produto Interno Bruto.
É claro que não se pode prever o efeito dos solavancos financeiros internacionais na economia brasileira. O governo argumenta que o impacto seria atenuado pelos resultados da balança comercial e pela redução da parcela da dívida interna indexada ao câmbio.

"Persistem dúvidas"
O documento do Bird, elaborado para avaliar os resultados do programa brasileiro, aponta avanços e elogia o governo. Mas menciona que os riscos são altos.
"Apesar das notáveis conquistas da política fiscal, persistem dúvidas [no mercado] acerca da sustentabilidade da dívida. Uma boa reputação freqüentemente leva tempo para ser estabelecida."
Pelos dados oficiais, a dívida pública subiu de 55,5%, em dezembro de 2002, para 56,8% do PIB no governo Lula, apesar da elevação do superávit primário -cuja meta anterior era de 3,75% do PIB. Esse ainda é tido pelos investidores como o principal indicador da vulnerabilidade a crises externas.
Em 2003, em estudo semelhante, o Bird considerou o patamar atual do superávit primário insuficiente para reduzir a dívida pública em casos de turbulência externa. O objetivo brasileiro é uma dívida de 50% do PIB até 2006.
À época, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) enviou carta ao organismo em que se comprometeu a, se necessário, elevar o superávit -o que é tecnicamente possível, mas um desastre político em potencial para Lula.


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