|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Para instituição, governo será obrigado a aumentar meta de superávit primário se houver novo choque externo
País poderá ter de elevar aperto fiscal, diz Bird
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documento do Bird (Banco
Mundial) afirma que o governo
brasileiro será obrigado a elevar o
superávit primário -a parcela
das receitas destinada ao pagamento da dívida pública- caso a
economia do país seja abalada por
choques externos, como a alta dos
juros dos EUA e a elevação dos
preços do petróleo.
"No futuro próximo, a resposta
à deterioração do cenário externo
que pode advir do aperto da liquidez internacional e de preços
maiores do petróleo vai requerer
novos ajustes das políticas macroeconômicas", diz o texto, de 24
de junho. Os "novos ajustes" são
especificados: "Se o país for atingido por outro choque externo, o
governo terá de estar preparado
para aprofundar o ajuste fiscal
por meio de cortes de gastos, em
vez de elevar as receitas".
O Bird acrescenta que, como
ocorreu nas crises de 2001 e 2002,
um eventual choque externo pode resultar em uma elevação das
metas de inflação, para que não
seja necessária uma elevação excessiva dos juros destinada a
combater o efeito da alta do dólar.
"O cenário mais provável consiste em o governo manter ou até
aumentar os superávits primários
e absorver choques externos por
meio de abrandamento da política monetária e inflação mais alta."
A lógica é a seguinte: um mercado internacional desfavorável, como o que já se prenuncia, pode reduzir o fluxo de capital externo ao
Brasil e provocar a disparada das
cotações internas do dólar; nesse
caso, haveria elevação da inflação
e da dívida pública, porque boa
parte dela é em dólar ou corrigida
pela variação cambial.
Por razões semelhantes, o governo tem elevado os superávits
primários desde 1999, quando iniciou, a partir de acordos com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Bird, seu programa de
ajuste fiscal. Hoje, a meta é de
4,25% do Produto Interno Bruto.
É claro que não se pode prever o
efeito dos solavancos financeiros
internacionais na economia brasileira. O governo argumenta que
o impacto seria atenuado pelos
resultados da balança comercial e
pela redução da parcela da dívida
interna indexada ao câmbio.
"Persistem dúvidas"
O documento do Bird, elaborado para avaliar os resultados do
programa brasileiro, aponta
avanços e elogia o governo. Mas
menciona que os riscos são altos.
"Apesar das notáveis conquistas da política fiscal, persistem dúvidas [no mercado] acerca da sustentabilidade da dívida. Uma boa
reputação freqüentemente leva
tempo para ser estabelecida."
Pelos dados oficiais, a dívida pública subiu de 55,5%, em dezembro de 2002, para 56,8% do PIB no
governo Lula, apesar da elevação
do superávit primário -cuja meta anterior era de 3,75% do PIB.
Esse ainda é tido pelos investidores como o principal indicador da
vulnerabilidade a crises externas.
Em 2003, em estudo semelhante, o Bird considerou o patamar
atual do superávit primário insuficiente para reduzir a dívida pública em casos de turbulência externa. O objetivo brasileiro é uma
dívida de 50% do PIB até 2006.
À época, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) enviou carta
ao organismo em que se comprometeu a, se necessário, elevar o
superávit -o que é tecnicamente
possível, mas um desastre político
em potencial para Lula.
Texto Anterior: Estranhos no ninho: Frio e comida são os maiores obstáculos Próximo Texto: Para diretor do banco, risco de abalo é mínimo Índice
|