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Pequenas petroleiras cortam produção e ameaçam fechar
Empresas relatam dificuldades na exploração e no refino de petróleo no país; falta de crédito acentua o problema
Produção caiu de 1.900 para 800 barris diários em um ano; em apenas uma área na bacia de Campos, Petrobras extrai 380 mil barris por dia
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
O sonho de perfurar um poço, encontrar petróleo e, ato
contínuo, fazer fortuna parecia
quase real para os sócios da Aurizônia. Depois de quatro anos
e R$ 50 milhões investidos para
produzir óleo em 26 áreas no
Rio Grande do Norte e em Sergipe, resta apenas decepção.
"Só produzimos 70 barris por
dia. As dificuldades são muitas
e reduziram nosso entusiasmo
e o ímpeto de investir", diz Oswaldo Pedrosa, presidente da
empresa de mineração.
Por todo o setor, o sentimento é parecido. Depois de investirem na obtenção de licenças e
aluguel de equipamentos para
explorar petróleo em terra, as
pequenas produtoras relatam
um rosário de problemas, boa
parte atribuída ao único cliente, a Petrobras, e ao regulador
do mercado, a ANP (Agência
Nacional do Petróleo).
O resultado é a queda na produção de petróleo nas minipetrolíferas. Em um ano, ela caiu
de 1.900 para 800 barris diários, calcula a Appom (Associação das Pequenas Produtoras
de Petróleo).
Como as empresas têm perdido dinheiro na venda do óleo,
optam por não produzir. Em
março e abril, 5 de 19 poços na
Bahia não jorraram uma gota
de óleo. "Não imaginávamos
que vender esse óleo seria tão
difícil", afirma Anabal Santos,
diretor da Appom.
"A criação de um setor de pequenas petrolíferas não decolou, infelizmente", diz Doneivan Ferreira, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. A
instituição faz pesquisas e forma profissionais em um campo-escola de petróleo em parceria com a ANP.
As primeiras minipetrolíferas foram criadas em 2001 para
entrar nos leilões de campos de
petróleo, da ANP. Hoje, são
quase 50 empresas. São empreendedores de outros setores
que viram oportunidade no
mercado, como nos EUA.
Disputam campos marginais,
que produzem até 500 barris
por dia (porém poucos chegam
a 40). A cifra é irrelevante para
gigantes como a Petrobras, que
produz 380 mil barris por dia
em campos como Roncador, na
bacia de Campos (RJ).
O óleo é vendido à Petrobras,
dona de quase todas as refinarias do país. Segundo as empresas, a gigante desconta US$ 23
por barril, para separar a água
do óleo. "Há seis anos, esse custo era de US$ 6", diz Pedrosa.
A água no óleo encarece ainda mais o transporte até as estações de tratamento. "Com
impostos e royalties, fechamos
no vermelho e não pagamos o
investimento", diz Wagner
Freire, presidente da Associação Brasileira de Produtores
Independentes de Petróleo.
"Algumas pensam em fechar", diz Normando Paes, presidente da Appom e da empresa
Panergy. Ele investiu R$ 11 milhões em dois campos de gás.
As pequenas queixam-se ainda de que desde 2006 a ANP
não leiloa campos marginais.
Estima-se que haja 60 campos
leiloáveis. "Se as rodadas fossem frequentes, aumentaríamos a produção, diluindo custo
e gerando receita", diz Freire.
A pequena receita impede o
acesso ao crédito, que piorou
com a crise. Os bancos não financiam uma atividade de tanto risco. "Nosso problema não é
apenas a crise. É estrutural do
setor", afirma Santos.
Especialistas acusam a Petrobras de não devolver à ANP
campos marginais, que interessam às pequenas. Estima-se
que haja 1.800 poços abandonados pela estatal na Bahia.
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