São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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Pequenas petroleiras cortam produção e ameaçam fechar

Empresas relatam dificuldades na exploração e no refino de petróleo no país; falta de crédito acentua o problema

Produção caiu de 1.900 para 800 barris diários em um ano; em apenas uma área na bacia de Campos, Petrobras extrai 380 mil barris por dia

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O sonho de perfurar um poço, encontrar petróleo e, ato contínuo, fazer fortuna parecia quase real para os sócios da Aurizônia. Depois de quatro anos e R$ 50 milhões investidos para produzir óleo em 26 áreas no Rio Grande do Norte e em Sergipe, resta apenas decepção.
"Só produzimos 70 barris por dia. As dificuldades são muitas e reduziram nosso entusiasmo e o ímpeto de investir", diz Oswaldo Pedrosa, presidente da empresa de mineração.
Por todo o setor, o sentimento é parecido. Depois de investirem na obtenção de licenças e aluguel de equipamentos para explorar petróleo em terra, as pequenas produtoras relatam um rosário de problemas, boa parte atribuída ao único cliente, a Petrobras, e ao regulador do mercado, a ANP (Agência Nacional do Petróleo).
O resultado é a queda na produção de petróleo nas minipetrolíferas. Em um ano, ela caiu de 1.900 para 800 barris diários, calcula a Appom (Associação das Pequenas Produtoras de Petróleo).
Como as empresas têm perdido dinheiro na venda do óleo, optam por não produzir. Em março e abril, 5 de 19 poços na Bahia não jorraram uma gota de óleo. "Não imaginávamos que vender esse óleo seria tão difícil", afirma Anabal Santos, diretor da Appom.
"A criação de um setor de pequenas petrolíferas não decolou, infelizmente", diz Doneivan Ferreira, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. A instituição faz pesquisas e forma profissionais em um campo-escola de petróleo em parceria com a ANP.
As primeiras minipetrolíferas foram criadas em 2001 para entrar nos leilões de campos de petróleo, da ANP. Hoje, são quase 50 empresas. São empreendedores de outros setores que viram oportunidade no mercado, como nos EUA.
Disputam campos marginais, que produzem até 500 barris por dia (porém poucos chegam a 40). A cifra é irrelevante para gigantes como a Petrobras, que produz 380 mil barris por dia em campos como Roncador, na bacia de Campos (RJ).
O óleo é vendido à Petrobras, dona de quase todas as refinarias do país. Segundo as empresas, a gigante desconta US$ 23 por barril, para separar a água do óleo. "Há seis anos, esse custo era de US$ 6", diz Pedrosa.
A água no óleo encarece ainda mais o transporte até as estações de tratamento. "Com impostos e royalties, fechamos no vermelho e não pagamos o investimento", diz Wagner Freire, presidente da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo.
"Algumas pensam em fechar", diz Normando Paes, presidente da Appom e da empresa Panergy. Ele investiu R$ 11 milhões em dois campos de gás.
As pequenas queixam-se ainda de que desde 2006 a ANP não leiloa campos marginais. Estima-se que haja 60 campos leiloáveis. "Se as rodadas fossem frequentes, aumentaríamos a produção, diluindo custo e gerando receita", diz Freire.
A pequena receita impede o acesso ao crédito, que piorou com a crise. Os bancos não financiam uma atividade de tanto risco. "Nosso problema não é apenas a crise. É estrutural do setor", afirma Santos.
Especialistas acusam a Petrobras de não devolver à ANP campos marginais, que interessam às pequenas. Estima-se que haja 1.800 poços abandonados pela estatal na Bahia.


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