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NEGÓCIOS
Editores e livreiros do exterior estão estudando vinda para o Brasil, considerado via de acesso ao Mercosul
Mercado editorial atrai grupos estrangeiros
JOSÉLIA AGUIAR
da Reportagem Local
As investidas recentes do grupo
francês Fnac e do investidor norte-americano Nicholas Brady no
mercado editorial brasileiro prometem ser apenas o primeiro capítulo de um alentado volume sobre
investimento estrangeiro no setor.
Editores e livreiros do exterior
nunca estiveram com os olhos tão
voltados para o Brasil. O país é um
mercado atraente não só pelo considerável potencial de expansão
como pela possibilidade de servir
de porta de entrada para os vizinhos do Mercosul e para o Chile.
Espera-se hoje uma leva de investimentos externos tanto de
grupos ligados à área editorial
quanto de fundos de investimento. A Fnac, que comprou o Shopping Ática Cultural, é subsidiária
do grupo Pinault-Printemps-Redoute, que faturou US$ 2,5 bilhões
em 97. Esse é seu primeiro passo
no continente. Nicholas Brady,
ex-secretário do Tesouro dos
EUA, dirige o fundo de investimento Darby Overseas, que adquiriu 35% das ações da Siciliano.
Levantamento feito pela Folha
junto a editores e livreiros identificou outros grupos que já começaram a sondar o mercado brasileiro. A rede de varejo norte-americana Barnes & Noble é uma das
que teriam assediado as livrarias
brasileiras. De Nova York (EUA),
o grupo não confirmou o plano.
As norte-americanas International Thomson Publishing e Addison Wesley, a francesa Larousse-Bordas, as espanholas Ediciones Nauta, Ediclube e Santillana
também estariam estudando atentamente o mercado brasileiro.
Editoras que estiveram aqui décadas atrás, mas saíram quando a
economia não ia bem, querem
voltar, como a norte-americana
McGraw Hill.
Há ainda casos como o da britânica Oxford, no país há 30 anos
por meio de distribuidores locais,
que investiu US$ 15 milhões para
abrir filial em São Paulo.
O assédio pode ser explicado por
vários motivos. A estabilidade
econômica atrai investimentos em
vários setores, do bancário ao de
supermercados, e não seria diferente com o ramo editorial. "O
Brasil, mal ou bem, se transformou num bom negócio em todas
as áreas", diz Pedro Paulo de Senna Madureira, editor da Siciliano.
Os números da indústria do livro
podem ser pífios, mas estão crescendo. O consumo per capita em
97 foi de 2,4 livros, incluindo os
didáticos -em 1990, era metade
disso, segundo Raul Wassermann,
vice-presidente da CBL (Câmara
Brasileira do Livro). Nos EUA, estima-se que o consumo anual passe de 10 livros por habitante.
De 90 a 97, o mercado editorial
praticamente dobrou de tamanho.
O faturamento em dólar cresceu
104,7%, e o número de títulos lançados aumentou 128,9%. "Os
grupos estrangeiros enxergam no
Brasil um mercado com tudo para
se expandir", diz Wassermann.
A seu favor, os estrangeiros têm
o que a maior parte dos empresários locais precisa: dinheiro para
investir e tempo suficiente para esperar pelos dividendos. "É um
negócio de longa maturação e suprimento contínuo de capital",
afirma Ari Benclowicz, presidente
da editora Nobel.
Empresários do setor dizem que
as editoras estrangeiras vão preferir entrar no país por meio de
aquisições ou associações com
empresas que atuam no segmento
de livros didáticos e paradidáticos.
As livrarias estrangeiras, após a
venda do Shopping Ática, teriam
ainda como alvo a Saraiva, que
instalou a primeira megastore do
Brasil em 1996 . "Acho difícil que
os estrangeiros entrem sem ser adquirindo alguém", avalia Alfredo
Schianca, diretor da editora Ática.
Apesar de ter sido procurada por
grupos de fora, a Saraiva reforça
que seu maior interesse hoje é adquirir uma editora, informa o diretor Wander Soares.
A chegada de capital externo pode significar crescimento e profissionalização. Ao mesmo tempo,
representa maior concorrência
para editores que adquirem direitos autorais de estrangeiros. Os
proprietários dos copyrights podem simplesmente passar a editar
eles mesmos seu autores.
Para o leitor, a oferta de títulos
será maior, mas, a princípio, não
há perspectiva de queda nos preços -isso só ocorreria com o aumento das tiragens. "Isso não depende só de esforço editorial. Está
relacionado ao problema educacional brasileiro", diz Sena Madureira, da Siciliano.
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