São Paulo, domingo, 12 de julho de 1998

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NEGÓCIOS
Editores e livreiros do exterior estão estudando vinda para o Brasil, considerado via de acesso ao Mercosul
Mercado editorial atrai grupos estrangeiros

JOSÉLIA AGUIAR
da Reportagem Local

As investidas recentes do grupo francês Fnac e do investidor norte-americano Nicholas Brady no mercado editorial brasileiro prometem ser apenas o primeiro capítulo de um alentado volume sobre investimento estrangeiro no setor.
Editores e livreiros do exterior nunca estiveram com os olhos tão voltados para o Brasil. O país é um mercado atraente não só pelo considerável potencial de expansão como pela possibilidade de servir de porta de entrada para os vizinhos do Mercosul e para o Chile.
Espera-se hoje uma leva de investimentos externos tanto de grupos ligados à área editorial quanto de fundos de investimento. A Fnac, que comprou o Shopping Ática Cultural, é subsidiária do grupo Pinault-Printemps-Redoute, que faturou US$ 2,5 bilhões em 97. Esse é seu primeiro passo no continente. Nicholas Brady, ex-secretário do Tesouro dos EUA, dirige o fundo de investimento Darby Overseas, que adquiriu 35% das ações da Siciliano.
Levantamento feito pela Folha junto a editores e livreiros identificou outros grupos que já começaram a sondar o mercado brasileiro. A rede de varejo norte-americana Barnes & Noble é uma das que teriam assediado as livrarias brasileiras. De Nova York (EUA), o grupo não confirmou o plano.
As norte-americanas International Thomson Publishing e Addison Wesley, a francesa Larousse-Bordas, as espanholas Ediciones Nauta, Ediclube e Santillana também estariam estudando atentamente o mercado brasileiro.
Editoras que estiveram aqui décadas atrás, mas saíram quando a economia não ia bem, querem voltar, como a norte-americana McGraw Hill.
Há ainda casos como o da britânica Oxford, no país há 30 anos por meio de distribuidores locais, que investiu US$ 15 milhões para abrir filial em São Paulo.
O assédio pode ser explicado por vários motivos. A estabilidade econômica atrai investimentos em vários setores, do bancário ao de supermercados, e não seria diferente com o ramo editorial. "O Brasil, mal ou bem, se transformou num bom negócio em todas as áreas", diz Pedro Paulo de Senna Madureira, editor da Siciliano.
Os números da indústria do livro podem ser pífios, mas estão crescendo. O consumo per capita em 97 foi de 2,4 livros, incluindo os didáticos -em 1990, era metade disso, segundo Raul Wassermann, vice-presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Nos EUA, estima-se que o consumo anual passe de 10 livros por habitante.
De 90 a 97, o mercado editorial praticamente dobrou de tamanho. O faturamento em dólar cresceu 104,7%, e o número de títulos lançados aumentou 128,9%. "Os grupos estrangeiros enxergam no Brasil um mercado com tudo para se expandir", diz Wassermann.
A seu favor, os estrangeiros têm o que a maior parte dos empresários locais precisa: dinheiro para investir e tempo suficiente para esperar pelos dividendos. "É um negócio de longa maturação e suprimento contínuo de capital", afirma Ari Benclowicz, presidente da editora Nobel.
Empresários do setor dizem que as editoras estrangeiras vão preferir entrar no país por meio de aquisições ou associações com empresas que atuam no segmento de livros didáticos e paradidáticos.
As livrarias estrangeiras, após a venda do Shopping Ática, teriam ainda como alvo a Saraiva, que instalou a primeira megastore do Brasil em 1996 . "Acho difícil que os estrangeiros entrem sem ser adquirindo alguém", avalia Alfredo Schianca, diretor da editora Ática.
Apesar de ter sido procurada por grupos de fora, a Saraiva reforça que seu maior interesse hoje é adquirir uma editora, informa o diretor Wander Soares.
A chegada de capital externo pode significar crescimento e profissionalização. Ao mesmo tempo, representa maior concorrência para editores que adquirem direitos autorais de estrangeiros. Os proprietários dos copyrights podem simplesmente passar a editar eles mesmos seu autores.
Para o leitor, a oferta de títulos será maior, mas, a princípio, não há perspectiva de queda nos preços -isso só ocorreria com o aumento das tiragens. "Isso não depende só de esforço editorial. Está relacionado ao problema educacional brasileiro", diz Sena Madureira, da Siciliano.



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