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AGRICULTURA
Projeto de lei vai ao Congresso na sexta-feira para ser votado em 45 dias, mas tema deve provocar polêmica
Governo quer urgência para transgênicos
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O governo deve enfrentar uma
nova batalha no Congresso: a
aprovação da Lei de Biossegurança, que estabelecerá as regras sobre os alimentos transgênicos (geneticamente modificados).
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou ontem,
em Porto Alegre, que o governo
enviará o projeto até sexta-feira,
para ser votado em regime de urgência (no máximo em 45 dias).
A exemplo do que ocorre com
as reformas previdenciária e tributária, na discussão sobre transgênicos há posições divergentes
dentro do próprio governo federal e entre governadores, ruralistas e sem-terra.
""O assunto é tão polêmico, tão
difícil e árduo para termos consenso no governo que as discussões se prolongaram além do previsto", disse o ministro Roberto
Rodrigues, que participou em
Porto Alegre da reunião do Conselho do Agronegócio.
O estabelecimento de regras sobre a transgenia, por meio da Lei
de Biossegurança, abordará de aspectos comerciais e socioeconômicos até ecologia e saúde.
Na última sexta-feira, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), pediu ao
ministro José Dirceu (Casa Civil)
a edição de medida provisória para tratar do tema com urgência.
Recentemente, o governador
gaúcho discordou do ministro da
Agricultura, que havia estimado a
apresentação ao Congresso da Lei
de Biossegurança apenas em setembro. Rigotto reagiu na hora,
dizendo que isso teria de ser feito
ainda em agosto, pois os produtores gaúchos terminaram praticamente toda a colheita da safra
2002/3 de soja no final de julho,
devendo já começar o preparo da
terra e do plantio para a safra
2003/4. Rodrigues e Rigotto são
favoráveis aos transgênicos.
Entre os produtores, suspeita-se
de que o fato de a União não ter
enviado o projeto ao Congresso
-o prazo previsto era 21 de julho- se deve justamente à pauta
carregada. Em meio a discussões
das reformas e aos conflitos sociais, não valeria a pena abrir um
novo flanco de controvérsias.
Se o assunto é polêmico no próprio PT, há organizações de trabalhadores, como a Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul),
que são a favor dos transgênicos.
Já outro segmento de trabalhadores, como o próprio MST e demais entidades ligadas à Via Campesina, é contra.
Nesse campo -dos transgênicos-, a Fetag se une à Farsul (Federação da Agricultura do Rio
Grande do Sul) em apoio aos
transgênicos. O tom do radicalismo que o tema pode suscitar foi
exposto pelo presidente da Farsul,
Carlos Sperotto. ""Nem Jesus Cristo será capaz de impedir a continuidade do uso de transgênicos",
chegou a dizer recentemente.
De um lado, estão, por exemplo,
o MST e o Greenpeace, que defendem o consumo de alimentos
não-modificados. Do outro, produtores rurais, a multinacional
Monsanto (que detém a patente
da técnica para a soja transgênica)
e ONGs como a autodenominada
Amigos da Terra.
Argumentos contra os transgênicos: o mercado europeu é resistente aos alimentos geneticamente modificados, o que representa
uma vantagem comercial ao país
que os proíbe; há dúvida sobre
eventuais danos à saúde provocados pelas alterações genéticas; e a
Monsanto, tendo a patente do gene que resiste ao herbicida Roundup Ready, monopolizaria a comercialização -o herbicida, de
uso possível com a soja transgênica, erradica ervas daninhas.
Argumentos pró: a tecnologia
poderia enriquecer alimentos e
aumentaria a produtividade; nada se comprovou a respeito de
eventuais danos à saúde (o mesmo argumento utilizado em outra
perspectiva); e os alimentos transgênicos poderiam ser uma boa
fonte para o combate à fome.
No Brasil, até janeiro de 2004, o
plantio está proibido, mas a comercialização está liberada com o
rótulo que indica se o alimento é
ou não transgênico.
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