São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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BENJAMIN STEINBRUCH

Não abortar o crescimento


Não é hora de insuflar a ortodoxia, com louvores a cortes de investimento público e a maior aperto monetário

DURANTE A Olimpíada, dependendo do desempenho dos atletas do país, costuma renascer algum espírito nacionalista entre os brasileiros. Nada a contestar. O Brasil precisa comemorar suas conquistas, no esporte ou em qualquer outra área.
Merecem comemoração, por exemplo, alguns dados divulgados na semana passada que mostram o desenvolvimento socioeconômico brasileiro.
Nos últimos seis anos, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cerca de 3 milhões de brasileiros que vivem em seis regiões metropolitanas do país saíram da pobreza. Em 2002, havia 14,3 milhões de pessoas vivendo com renda familiar de até R$ 207 nessas seis cidades. Em 2008, o número caiu para 11,3 milhões. O índice de pobreza diminuiu de 32,9% da população para 24,1% em seis anos.
Outra informação relevante nessa área, que confirma a melhoria das condições de vida dos brasileiros, foi divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). A classe média, com renda familiar entre R$ 1.064 e R$ 4.591 mensais, já representa mais da metade da população. Cerca de 52% dos brasileiros se encontram nessa faixa de renda, em comparação com 44% em 2002.
Em ano eleitoral, não é desprezível a hipótese de que essas estatísticas sejam usadas com objetivos políticos. De qualquer forma, é relevante para o país avaliar as razões desses avanços. Por que, afinal, diminuiu o número de brasileiros pobres e aumentou o de pessoas da classe média?
Quase não há divergências sobre isso. As principais causas são o crescimento da atividade econômica e do emprego, além dos programas sociais de transferência de renda. O Bolsa Família, por exemplo, explica a queda do número indigentes de 12,7% para 7,3% no período.
Essas constatações servem para reflexão num momento em que, assustados pela crise econômica internacional, alguns brasileiros influentes defendem a adoção de medidas que podem estancar o processo de crescimento econômico.
Tanto quanto o uso político dessas estatísticas positivas merece repulsa a atitude de gente que perde o humor diante de conquistas brasileiras. A despeito de todo o baixo-astral que emana do cenário internacional, o Brasil continua em bom ritmo de crescimento econômico. A produção da indústria cresce 6,7% em 12 meses, a venda de veículos bate recordes e o mercado imobiliário mantém-se aquecido. De janeiro a junho, por exemplo, o financiamento de imóveis com recursos de poupança quebrou recorde histórico, com 128 mil unidades, 58% acima do nível do primeiro semestre do ano passado.
Ao mesmo tempo, a inflação dá sinais de queda. O ritmo mensal de alta dos alimentos, principal propulsor dos preços, que havia chegado a 3% em maio, caiu para 1% no mês passado. Na área internacional, as commodities também estão em queda.
Esse quadro atual, em plena Olimpíada de Pequim, quando muitos brasileiros certamente voltarão a vestir camisetas verde-amarelas, torna obrigatório o exercício do bom senso. Não é hora de insuflar a ortodoxia, com louvores a cortes de investimentos públicos e a maior aperto monetário.
Seria uma sandice tomar medidas para abortar o crescimento sob qualquer pretexto, diante dos resultados indiscutíveis que essa tendência vem trazendo à população em geral, com aumento de renda e diminuição de pobreza. A expansão econômica, com oferta ampla de empregos, está mudando a cara do Brasil. O que importa é preservar essa expansão. O resto, que me desculpem os leitores, é conversa mole pra boi dormir.

BENJAMIN STEINBRUCH, 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br



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