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Leilão de biomassa tem baixa adesão de usinas
Após receber oferta de 7.800 MW, pregão negociará apenas 1.100 MW
Usineiros dizem que preço
inicial oferecido por energia
não é compensador; para EPE, governo foi ao limite das ofertas nas negociações
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerado um marco para
o setor de energia, o primeiro
leilão de energia de biomassa
para reserva, previsto para
acontecer depois de amanhã,
terá proporções muito menores do que as esperadas.
O volume de energia firme
(que recebe o nome de garantia
física no jargão da área) colocado para negociação é de cerca
de 1.100 MW (megawatts), produzidos por 44 usinas em todo
o Brasil. O governo, no entanto,
tinha habilitado na semana anterior 96 usinas que garantiam
2.100 MW de energia produzida por bagaço e palha de cana-de-açúcar, capim-elefante e rejeitos avícolas. Porém, apenas
44 fizeram o depósito para participar do pregão.
Em fevereiro, 118 usinas ofereceram 7.800 MW durante a
inscrição de interessados em
fazer parte do leilão.
Esse volume de energia é superior ao que será gerado pelas
usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira.
"A Cosan poderia ter colocado três vezes mais energia para
ser leiloada", diz Pedro Mizutani, vice-presidente do grupo
Cosan. "Mas o preço inicial não
é atraente a todas as usinas. Como os investimentos são altos e
há multas a serem pagas em caso de não-cumprimento da entrega, muita gente preferiu não
se arriscar."
Segundo a Unica, que representa o setor em São Paulo, os
usineiros esperavam incentivos maiores, nos moldes do
Pro-Álcool. "Como energia não
é o negócio principal das usinas, qualquer obstáculo afasta
o investidor", diz Onório Kitayama, responsável pela área de
bioeletricidade na Unica. "Os
custos dos projetos praticamente dobraram pela alta do
aço e deixaram de ser compensadores, a não ser para "greenfields" [projetos iniciais]."
Matriz energética
A energia de reserva por biomassa, entretanto, é considerada estratégica para a diversificação da matriz energética do
país. Entre outros motivos,
porque o período da safra de cana ocorre exatamente na época
da seca dos reservatórios das
usinas hidrelétricas na região
Sudeste. Além disso, biomassa
é mais barata e menos poluente
do que a energia gerada por outras termelétricas.
Segundo a EPE (Empresa de
Pesquisa Energética), a expectativa é que, no longo prazo, as
usinas de biomassa produzam
de 7.000 a 9.000 MW, o equivalente a 1,5 Madeira.
"Todo leilão é assim mesmo:
mais empresas se inscrevem e
um número menor deposita as
garantias", afirma Maurício
Tomalsquim, presidente da
EPE. "Temos um bom número
de participantes para um primeiro leilão."
De acordo com Tomalsquim,
o governo foi até o limite das
negociações com os usineiros e
não quer que a população pague pelos investimentos na melhoria das usinas privadas.
"Estamos levando redes de
transmissão e estações coletoras até as usinas, criamos uma
via rápida para licenças ambientais e possibilitamos o fornecimento escalonado", diz
Tomalsquim. "Porém, se tivermos de pagar muito caro, as
vantagens desse tipo de energia
não compensarão."
O governo espera aumento
gradativo na oferta, já que, segundo a EPE, o fornecimento é
compensador também para as
usinas. "Como o contrato é de
15 anos, a venda de energia acaba sendo um hedge [proteção]
contra oscilações no preço internacional dos combustíveis",
afirma Tomalsquim.
A Cosan, por exemplo, estima que a venda de energia poderá representar de 15% a 20%
de seu faturamento total e vir a
fazer parte de seu negócio principal. Maior produtora de álcool do país, a empresa foi a que
colocou maior volume de energia em oferta no leilão, num total de 360 MW firmes.
Apesar de reconhecer os esforços do governo para retirar
os entraves à realização do leilão, os usineiros ressaltam ainda que a produção de energia
concorre com a produção de álcool de segunda geração, que
usará o bagaço da cana e com a
importação do bagaço por usinas européias, que têm programas de incentivo à biomassa.
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