DA REPORTAGEM LOCAL

Produtos acusados de "maquiagem" continuam nas prateleiras com a embalagem alterada. Um ano após a constatação das mudanças -que levou o governo a processar algumas marcas-, ainda existem papéis higiênicos com metragem reduzida, enlatados com tamanho menor e biscoitos de 170 gramas, e não de 200 gramas. Fabricantes negam que a "maquiagem" ainda exista.
O Procon/SP informa que já repassou ao Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) dados a respeito das alterações e que, na prática, devido à impossibilidade de acompanhar todos os itens das prateleiras, tem fiscalizado os produtos da cesta básica.
Levantamento da Folha realizado em três supermercados e dois sites de venda do varejo ao consumidor mostra que, por exemplo, não há nas prateleiras papéis higiênicos com a metragem antiga (40 m x 10 cm), mas só o modelo menor (30 m x 10 cm). As companhias Santher, Klabin e Melhoramentos afirmam que ainda vendem o produto. "Nós temos. São os supermercados que não se interessam em comprar", afirma Marina Gelman, advogada da Melhoramentos.
Há outro problema: não há até hoje acordo entre as empresas e os órgãos de defesa do consumidor. Na segunda-feira, a Melhoramentos entrou com recurso na SDE (Secretaria de Direito Econômico) contra a decisão do DPDC (Departamento de Proteção aos Direitos do Consumidor). O órgão multou as empresas do setor em R$ 2 milhões por "maquiagem" de produtos. Até o momento, o caso está sem solução.
O DPDC quer que as companhias coloquem um aviso na embalagem informando que houve alteração no conteúdo. As companhias dizem que não podem fazer isso, já que ainda existe o modelo antigo, de 40 metros.
Nos últimos 12 meses, ou seja, desde que as empresas foram acusadas de "maquiagem", o papel higiênico subiu bem acima da inflação: a alta foi de 12,38%, e a inflação no período (IPC/Fipe) atingiu 5,17%.

Baunilha e amêndoas
Os itens com a embalagem menor ganharam "cara" nova após a blitz do governo que investigou os casos de maquiagem de produtos. Isso aconteceu com vários itens.
Neste ano foram lançados, por exemplo, enlatados de sardinha -também acusados de "maquiagem"- em molho temperado e legumes. Há diversos tamanhos, de 130 gramas a 140 gramas.
Os modelos menores de papel higiênico (30 m x 10 cm) também apareceram nas prateleiras com vitamina E (caso do Neve) e óleo de amêndoas ou com fragrâncias de maçã-verde, pêssego, baunilha e leite de aveia (caso do Personal). O Procon condena, em parte, essa medida. Diz que confunde o consumidor, que perde o padrão de comparação.
Além desse produto, ainda existem nas prateleiras cremes de beleza com tamanho menor do que o exigido pelo DPDC. A Unilever reduziu o conteúdo do creme Seda Ceramidas de 500 ml para 450 ml em 2001. E não voltou ao tamanho antigo. Ela informa que o design era "inovador" e por isso foi feita a alteração, com redução no preço também -de 15% em julho de 2001. A tabela de preços da Fipe não aponta a redução no preço ao consumidor.
(ADRIANA MATTOS)


Texto Anterior: Menos por mais: Indústria continua a "maquiar" produtos
Próximo Texto: Loja diz não conseguir comprar item antigo
Índice