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Governo "libera" Paraguai a negociar acordo com EUA
Celso Amorim, porém, diz que eventuais arranjos não devem abranger produtos cobertos pela tarifa comum do Mercosul
Sinal verde é semelhante ao dado por Lula ao Uruguai; sócios menores do bloco
estão descontentes com acesso a Brasil e Argentina
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro deu sinal verde para que o Paraguai
faça arranjos comerciais com
os EUA, "desde que não lesem o
coração do Mercosul", disse
ontem o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, ao
chanceler paraguaio, Rubén
Ramírez Lezcano, que esteve
em Brasília em visita oficial.
Na semana passada, em Canoas (RS), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse o
mesmo ao presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez, que negocia com os americanos.
"O Paraguai e o Uruguai podem fazer acordos que não lesem o coração do Mercosul,
que é a TEC [Tarifa Externa
Comum]. É absolutamente legítimo que o Paraguai materialize suas possibilidades de exportar para os EUA", disse
Amorim, que reconheceu que o
bloco "é uma promessa que não
se concretizou de maneira plena para os sócios menores".
Não ferir a TEC significa não
oferecer acesso a produtos
americanos que estão cobertos
pela tarifa no Mercosul, pois
tais bens poderiam entrar no
Brasil e na Argentina sem pagar
impostos. Os sócios menores
buscam acordos porque estão
descontentes com o acesso que
possuem aos mercados brasileiro e argentino.
Lezcano disse que vai conversar com o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, para
conhecer o modelo de negociação do país com os EUA. "Nós
queremos acesso ao mercado
americano, mas tem que ser
dentro das regras do Mercosul.
Já formamos um conselho para
discutir um acordo de investimentos", afirmou.
Lezcano contou que está tentando obter melhor acesso ao
mercado americano para 31
produtos paraguaios prejudicados por causa dos acordo de livre comércio que os EUA fizeram com países da Comunidade Andina. Os americanos ofereceram acesso a uma lista de
produtos para Peru, Equador e
Colômbia, o que reduziu a competitividade de mercadorias
paraguaias, principalmente de
têxteis e confecções.
Para negociar com os EUA, o
Paraguai invoca a Cláusula de
Habilitação, acertada na Rodada Tóquio de liberalização de
comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio),
concluída em 1979.
Essa cláusula prevê que um
benefício oferecido a um país
em desenvolvimento deve ser
estendido a outros, se houver
perdas. O Paraguai já ganhou
um processo contra a União
Européia, na OMC, porque o
bloco europeu ofereceu vantagens comerciais à Índia, que
prejudicavam seus produtos.
Amorim disse a Lezcano que
negociar acordos que ainda não
são regras no Mercosul, como
normas para investimentos e
serviços, na prática não fere o
bloco. Afirmou ainda que o Brasil não está contente com a decisão dos sócios menores de negociar com os EUA.
As regras do Mercosul não
permitem negociar áreas de livre comércio separadamente.
O problema é que os EUA não
querem negociar com o bloco
como um todo, porque o Brasil
não concorda em incluir no
acordo normas para propriedade intelectual, por julgar que limitaria a liberdade do Brasil
para adotar políticas públicas,
em especial na área de saúde.
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