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Mappin e Mesbla devem R$ 1,2 bilhão
da Reportagem Local
O rombo do Crefisul pode ser
apenas uma amostra do que está
escondido nas outras empresas
de Ricardo Mansur.
Juntos, Mappin e Mesbla devem
cerca de R$ 1,2 bilhão a fornecedores, bancos, funcionários, investidores, Receita Federal e governos estaduais. O cálculo é do
executivo José Paulo Amaral,
contratado por
Mansur no início do ano para
tentar salvar
suas empresas.
"Muitos credores vão ficar
a ver navios.
No Mappin, os
indícios de
fraude são gritantes", afirma
o advogado
Alexandre
Carmona, síndico da massa
falida.
Nas três últimas semanas,
a Folha entrevistou advogados, diretores
de bancos, ex-executivos das
empresas de
Mansur, ex-sócios do empresário e pessoas
que estão
acompanhando o processo de falência do Mappin, decretada no
final de julho, e a liquidação do
Crefisul.
As investigações estão mais
avançadas no caso do Crefisul.
Uma das principais incoerências
levantadas pelo BC na contabilidade do banco diz respeito a aplicações no exterior. A instituição
tinha uma empresa, a United Negócios, que exibia na contabilidade aplicações no valor de R$ 180
milhões. Desse total, R$ 120 milhões deveriam estar no exterior.
Só que, até agora, o BC não localizou a maior parte desse dinheiro. Deve dar como perdidos R$
170 milhões das aplicações que a
United Negócios afirmava ter.
Entre as operações que apareceram na carcaça do banco, uma
das que mais chamou a atenção
envolve uma transação no exterior, feita por meio da United Europe, outra subsidiária do Crefisul, com sede na Ilha da Madeira,
um paraíso fiscal.
Em janeiro deste ano, a United
Europe usou seu patrimônio de
cerca de US$ 50 milhões para
comprar participação em uma
outra empresa, a Ross Investments, com sede em Delaware,
nos Estados Unidos. O problema
é que o BC não sabe onde está o
dinheiro aplicado na Ross -algo
que o advogado do Crefisul também não consegue explicar.
"Estou tentando descobrir", diz
o advogado Nelson Felmanas.
"Esse dinheiro foi aplicado em
projetos de longo prazo, como
uma usina hidrelétrica no Panamá, por exemplo. Não dá para
trazer o dinheiro de volta rápido."
O advogado de Mansur também não sabe explicar por que o
seu cliente resolveu expandir os
negócios fora do Brasil em janeiro, já em plena crise Mappin-Mesbla. "Acho que o negócio da
United Europe com a Ross foi antes disso. Talvez em 98", afirma.
Raspando o tacho
Desde o final do ano passado,
quando o Crefisul passou a sofrer
saques em massa, Mansur lançou
mão de tudo o que estava ao seu
alcance na tentativa de melhorar
sua situação financeira.
Em dezembro, para não divulgar um balanço ruim, transferiu
para o Crefisul ações do Mappin e
da Mesbla no valor aproximado
de R$ 110 milhões.
Essas ações, compradas da Casa
Anglo (a empresa que controla o
Mappin), foram pagas com créditos de difícil recebimento do Crefisul. Para reforçar o banco, Mansur enfraqueceu o Mappin.
Hoje, esses
"créditos podres" estão na
massa falida da
loja de departamentos. E as
ações do Mappin e da Mesbla que foram
para o Crefisul
não valem
mais nada.
O empresário prejudicou
também os
clientes do
consórcio de
carros M (de
Mesbla) e o
fundo de previdência dos
funcionários
do Mappin.
Ele sacou de
outros bancos
cerca de R$ 70
milhões que
pertenciam ao consócio M e mais
de R$ 6 milhões do fundo de previdência e aplicou tudo no Crefisul. Resultado: o dinheiro dos
consorciados e dos empregados
do Mappin ficou preso, até segunda ordem, no banco liquidado.
Entre as operações esquisitas
feitas pelo Crefisul há pelo menos
três vendas de ativos feitas a prazo, mas sem a exigência de garantias. São dois imóveis e uma empresa, a United World (vendida
por US$ 14 milhões), negociadas
com firmas sediadas em paraísos
fiscais do Caribe.
Liquidado o Crefisul, os compradores deixaram de pagar. Segundo Felmanas, as duas empresas que compraram os imóveis já
se dispuseram a desmanchar os
negócios, devolvendo-os ao Crefisul. E diz não saber quem são os
donos das empresas.
(CGF e DF)
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