São Paulo, Domingo, 12 de Setembro de 1999
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Mappin e Mesbla devem R$ 1,2 bilhão

da Reportagem Local

O rombo do Crefisul pode ser apenas uma amostra do que está escondido nas outras empresas de Ricardo Mansur.
Juntos, Mappin e Mesbla devem cerca de R$ 1,2 bilhão a fornecedores, bancos, funcionários, investidores, Receita Federal e governos estaduais. O cálculo é do executivo José Paulo Amaral, contratado por Mansur no início do ano para tentar salvar suas empresas.
"Muitos credores vão ficar a ver navios. No Mappin, os indícios de fraude são gritantes", afirma o advogado Alexandre Carmona, síndico da massa falida.
Nas três últimas semanas, a Folha entrevistou advogados, diretores de bancos, ex-executivos das empresas de Mansur, ex-sócios do empresário e pessoas que estão acompanhando o processo de falência do Mappin, decretada no final de julho, e a liquidação do Crefisul.
As investigações estão mais avançadas no caso do Crefisul. Uma das principais incoerências levantadas pelo BC na contabilidade do banco diz respeito a aplicações no exterior. A instituição tinha uma empresa, a United Negócios, que exibia na contabilidade aplicações no valor de R$ 180 milhões. Desse total, R$ 120 milhões deveriam estar no exterior.
Só que, até agora, o BC não localizou a maior parte desse dinheiro. Deve dar como perdidos R$ 170 milhões das aplicações que a United Negócios afirmava ter.
Entre as operações que apareceram na carcaça do banco, uma das que mais chamou a atenção envolve uma transação no exterior, feita por meio da United Europe, outra subsidiária do Crefisul, com sede na Ilha da Madeira, um paraíso fiscal.
Em janeiro deste ano, a United Europe usou seu patrimônio de cerca de US$ 50 milhões para comprar participação em uma outra empresa, a Ross Investments, com sede em Delaware, nos Estados Unidos. O problema é que o BC não sabe onde está o dinheiro aplicado na Ross -algo que o advogado do Crefisul também não consegue explicar.
"Estou tentando descobrir", diz o advogado Nelson Felmanas. "Esse dinheiro foi aplicado em projetos de longo prazo, como uma usina hidrelétrica no Panamá, por exemplo. Não dá para trazer o dinheiro de volta rápido."
O advogado de Mansur também não sabe explicar por que o seu cliente resolveu expandir os negócios fora do Brasil em janeiro, já em plena crise Mappin-Mesbla. "Acho que o negócio da United Europe com a Ross foi antes disso. Talvez em 98", afirma.

Raspando o tacho
Desde o final do ano passado, quando o Crefisul passou a sofrer saques em massa, Mansur lançou mão de tudo o que estava ao seu alcance na tentativa de melhorar sua situação financeira.
Em dezembro, para não divulgar um balanço ruim, transferiu para o Crefisul ações do Mappin e da Mesbla no valor aproximado de R$ 110 milhões.
Essas ações, compradas da Casa Anglo (a empresa que controla o Mappin), foram pagas com créditos de difícil recebimento do Crefisul. Para reforçar o banco, Mansur enfraqueceu o Mappin.
Hoje, esses "créditos podres" estão na massa falida da loja de departamentos. E as ações do Mappin e da Mesbla que foram para o Crefisul não valem mais nada.
O empresário prejudicou também os clientes do consórcio de carros M (de Mesbla) e o fundo de previdência dos funcionários do Mappin.
Ele sacou de outros bancos cerca de R$ 70 milhões que pertenciam ao consócio M e mais de R$ 6 milhões do fundo de previdência e aplicou tudo no Crefisul. Resultado: o dinheiro dos consorciados e dos empregados do Mappin ficou preso, até segunda ordem, no banco liquidado.
Entre as operações esquisitas feitas pelo Crefisul há pelo menos três vendas de ativos feitas a prazo, mas sem a exigência de garantias. São dois imóveis e uma empresa, a United World (vendida por US$ 14 milhões), negociadas com firmas sediadas em paraísos fiscais do Caribe.
Liquidado o Crefisul, os compradores deixaram de pagar. Segundo Felmanas, as duas empresas que compraram os imóveis já se dispuseram a desmanchar os negócios, devolvendo-os ao Crefisul. E diz não saber quem são os donos das empresas. (CGF e DF)

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