São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2001

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MANOBRAS RADICAIS

Medidas devem sair hoje e conter apelo eleitoral; risco-país cai, mas ainda é o maior do mundo

Argentina lança pacote na véspera da eleição


ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

A dois dias das eleições legislativas nas quais deve ser derrotado, o governo argentino deve lançar hoje um novo pacote para incentivar o consumo e tentar reativar a economia do país, após mais de três anos de recessão.
O pacote em estudo incluiria medidas populares e que poderiam ter algum efeito eleitoral, como corte de impostos, redução dos aportes aos fundos privados de aposentadoria e a criação de um cartão de débito para ser usado em compras de até US$ 150 mensais por desempregados.
Além disso, o governo trabalha para concluir o mais rapidamente possível parte da operação de reestruturação de sua dívida, para tentar reduzir a desconfiança sobre uma possível moratória. Também são esperadas mudanças no gabinete de ministros.
Algumas dessas medidas foram antecipadas em declarações públicas de membros do governo nos últimos dias, que não quiseram estabelecer uma data para seu anúncio formal. Ontem, o governo preferiu o silêncio, o que aumentou os rumores sobre um possível pacote pré-eleitoral.
Alguns sinais nesse sentido foram passados pelo porta-voz da Presidência Juan Pablo Baylac. "Pode haver algumas novidades entre sexta e segunda", afirmou.
"Não poderia dar detalhes, porque o presidente se mantém hermético, mas creio que está prestes a tomar decisões dessa natureza", disse. Ele afirmou ainda que o ministro da Economia, Domingo Cavallo, cuja permanência no governo vinha sendo colocada em dúvida, permanecerá no cargo. Baylac adiantou ainda que a atual ministra do Trabalho, Patricia Bullrich, também permanecerá no governo.
As eleições de domingo vão renovar todo o Senado e metade da Câmara dos Deputados. As pesquisas indicam que a Aliança, a coalizão governista, deve perder a maioria na Câmara para o oposicionista Partido Justicialista, que já controla hoje o Senado.
Para muitos analistas, porém, essa derrota poderá não trazer grandes mudanças práticas, já que a maioria da Aliança hoje na Câmara não é absoluta e a autoridade do presidente Fernando de la Rúa já está muito desgastada.
Um exemplo dessa debilidade são as declarações recentes do ex-ministro Rodolfo Terragno, candidato a senador pela Aliança na capital, a quem De la Rúa pediu votos. Terragno, que já disse que pedirá a cabeça de Cavallo se for eleito, disse que a atual política econômica está "fracassada".

Risco-país
A Argentina continua a ser vista como o país emergente mais arriscado do mundo para investir, segundo o índice do JP Morgan.
O risco argentino caiu ontem de 1.859 para 1.825 pontos, mas permanece à frente do risco da Nigéria, cujo índice ontem estava em 1.819 pontos. A Bolsa de Buenos Aires subiu 3,9%.


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