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LUÍS NASSIF
Os ciclos tecnológicos e a economia
Não conheço os trabalhos do norueguês Finn E.
Kydland e do americano Edward C. Prescott, vencedores
do Nobel de Economia.
As agências informam que
eles receberam o prêmio pela
contribuição ao desenvolvimento de novas teorias relativas aos ciclos e à política econômica, às flutuações cíclicas e
suas conseqüências sobre as
teorias econômicas.
Mais não disseram. Mas presumo que tenha algo a ver com
as semelhanças entre o momento atual e o período mais
comumente conhecido como
República Velha -tema sobre
o qual venho escrevendo nas
últimas semanas.
A maneira como os fatos internacionais se interligam explica muito o que ocorreu tanto no início quanto no fim do
século 20, nos períodos denominados liberal e neoliberal.
Nesses períodos, o mundo
atravessara fase de grandes
descobertas científicas, que
evoluíram para inovações tecnológicas e o surgimento de novos setores na economia.
Os avanços provocam enorme liqüidez no mundo, e mudanças no sistema financeiro
mundial, para reciclar esses
ativos. É um movimento especulativo que se dá em torno de
bolhas específicas, se esparrama para outros ativos e transborda a outros países. Em ambos os períodos, as bolhas surgem pela impossibilidade de
estimar o potencial de crescimento das novas tecnologias.
Criado o efeito manada, gera-se uma liqüidez endógena e a
busca de ativos capazes de remunerar as expectativas crescentes dos investidores.
Esse movimento abre as defesas do sistema financeiro internacional, que passa a abrigar
indiscriminadamente capitais
sem pátria e sem nome, que
migram para esses países centrais e, a partir daí, são distribuídos para os diversos ativos
financiáveis, até a seus países
de origem.
Provavelmente os dois economistas devem ter se concentrado apenas nos efeitos sobre os
países centrais. No caso dos
emergentes, essa enorme liqüidez, a possibilidade dos investidores locais se associarem a esses fundos, provoca mudanças
semelhantes nos dois períodos.
No final do Império e início
da República, há uma enorme
expansão das companhias que
se dedicam a explorar serviços
públicos, especialmente devido
ao novo papel assumido pelas
cidades, com a urbanização
acelerada. No final do século,
são as privatizações.
Em ambos os casos, é necessário o livre fluxo de capitais,
para permitir a maximização
dos lucros dos investidores. Essa ideologia é espalhada a partir dos países centrais e se dissemina pelos emergentes. A volatilidade cambial acaba provocando uma apreciação do
câmbio, com três efeitos. O primeiro, o de liqüidar boa parte
das empresas brasileiras que
tentavam substituir importações. O segundo, o de baratear
a compra de bens de capital
para os grupos maiores, ajudando a alavancar o período
seguinte. O terceiro, um aumento substantivo do endividamento externo.
Há muito mais semelhanças
nesses períodos. Até 1850, a Inglaterra aceitava capital de escravagistas. Até pouco tempo
atrás, as legislações nacionais
dos países centrais permitiam o
livre fluxo de capitais, até de
paraísos fiscais, impedindo
uma diferenciação entre capital do crime organizado e de
outras formas lícitas.
Em ambos os períodos, deve
ter ocorrido um enorme fluxo
de capital ilícito para os bancos
internacionais. E um sem-número de operações suspeitas
envolvendo os grandes bancos.
A partir de um certo momento,
ocorre uma depuração desses
capitais, com os ingleses proibindo negócios com empresas
que tivessem qualquer ligação
com tráfico de escravos, e, agora, o enorme cerco ao dinheiro
do narcoterrorismo.
Tudo reforça a sensação de
que o país, dia a dia, se prepara
para o grande salto similar,
mas mais intenso, ao da Revolução de 30. Está tudo pronto
para um reformador.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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