São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

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BANCOS
Apesar de alto, prejuízo não significa que a instituição voltará a enfrentar dificuldades financeiras, como em 94
Crise faz Banespa perder R$ 624,9 mi

ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília

A crise internacional deu prejuízo de R$ 624,907 milhões ao Banespa em agosto, segundo balancete da instituição divulgado pelo Banco Central.
O banco, que é controlado pela União desde o final de 97, sofreu essa perda porque tem uma carteira concentrada em ativos que foram dos mais prejudicados pela instabilidade no mercado.
Boa parte de sua carteira é formada por ações da Cesp, uma das companhias de energia de São Paulo Äas cotações sofreram grandes baixas em agosto, junto com as Bolsas.
O Banespa também possui volume expressivo de títulos da dívida externa brasileira, outro ativo que sofreu grandes baixas.
Apesar de alto, esse prejuízo não significa que o Banespa voltará a enfrentar dificuldades financeiras, como as que levaram à intervenção federal no fim de 1994.
O patrimônio líquido do Banespa, no fechamento do primeiro semestre deste ano, estava em R$ 3,986 bilhões. Ou seja, o banco tem capital suficiente para absorver perdas no segundo semestre.
O Banespa acumulou patrimônio líquido considerável graças ao desempenho surpreendente registrado em 97, quando o lucro líquido atingiu R$ 2,037 bilhões.
Carteira concentrada
Essa carteira fortemente concentrada fez com que o Banespa, entre todos os bancos múltiplos, sentisse de forma especial as turbulências internacionais.
O conjunto dos bancos múltiplos privados também registrou resultado menos favorável em agosto, mas as perdas foram menores devido à diversificação de investimentos.
Segundo o BC, os 158 bancos múltiplos que divulgaram balanço em agosto tiveram, juntos, perda de R$ 686,729 milhões.
Como o Banespa, sozinho, teve prejuízo de R$ 624,907 milhões, todas as outras 157 instituições tiveram perda de R$ 61,822 milhões.
Notas do balancete do Banespa mostram a dimensão das perdas das ações da Cesp. Enquanto o valor contábil desses papéis é de R$ 1,122 bilhão, seu valor de mercado atinge apenas R$ 283 milhões.
O balancete mostra que os títulos da dívida externa em poder do banco têm valor contábil de R$ 1,228 bilhão, mas valor de mercado de R$ 669 milhões.
O prejuízo de agosto reverteu o lucro de R$ 124,971 milhões que a instituição havia registrado em julho. No semestre, o prejuízo acumulado é de R$ 499,936 milhões.
No primeiro semestre deste ano, as baixas no mercado acionário já vinham trazendo perdas ao Banespa. No período, a instituição registrou perda de R$ 49,4 milhões, devido ao provisionamento (dinheiro separado para compensar perdas) de R$ 779,3 milhões para cobrir desvalorizações de sua carteira de ações, de títulos da dívida externa e de outros papéis.
Assim, o resultado negativo acumulado neste ano, de janeiro a agosto, é de R$ 549,296 milhões.
Atraso na privatização
O governo está arcando com as perdas do Banespa porque não cumpriu seu cronograma para a privatização da instituição -o banco deveria ter sido vendido em junho passado, antes da crise.
A privatização começou a sofrer adiamentos a partir de janeiro, quando o presidente do BC, Gustavo Franco, afirmou que a venda poderia ser postergada. Segundo ele, talvez fosse melhor vender o Banespa após as eleições, para evitar questionamentos judiciais que surgiriam durante a campanha.



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