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PROTECIONISMO
EUA podem cair em descrédito com parceiros de bloco se não eliminarem sobretaxas do aço, avalia governo
OMC ameaça credibilidade dos EUA na Alca
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os Estados Unidos perderão
credibilidade com os parceiros da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) caso não cumpram a
recomendação da OMC que determina a eliminação das sobretaxas para a importação de aço, disse o chefe da Coordenação Geral
de Contenciosos do Itamaraty,
Roberto Carvalho Azevedo.
"É claro que um país que não
obedece às recomendações do
Órgão de Soluções de Controvérsias da OMC (Organização Mundial do Comércio) perde credibilidade. Se não obedece, o que fará
os outros parceiros acreditarem
que ele vai cumprir os mecanismos da Alca?", afirmou Azevedo
em entrevista à Folha.
Ele disse acreditar, porém, que
os EUA aceitarão eliminar as salvaguardas que impuseram ao aço
importado do Brasil e de parceiros como China, Japão e União
Européia. "É uma situação muito
desconfortável exigir que os outros cumpram suas obrigações,
mas não cumprir as suas. Portanto, não acreditamos que os EUA
irão simplesmente desconsiderar
a recomendação", afirmou.
Anteontem, a OMC considerou
irregulares as sobretaxas norte-americanas ao aço importado.
Caso os EUA não eliminem as tarifas, os países reclamantes poderão impor restrições à importação
de produtos norte-americanos.
Segundo Azevedo, o Brasil ainda aguarda a resposta norte-americana à decisão da OMC para traçar a sua estratégia de ação. A partir da adoção oficial do relatório
do Órgão de Solução de Controvérsias, que deve acontecer no início de dezembro, os EUA terão 30
dias para comunicar à OMC qual
será sua decisão.
Em março de 2002, os EUA adotaram sobretaxas de até 30% sobre a compra externa de vários
produtos de aço. O governo Bush
argumenta que a medida foi tomada porque a indústria nacional
sofria uma competição injusta do
exterior e precisava de uma salvaguarda para se reestruturar.
A decisão de anteontem já é a
segunda da OMC neste ano que
condena medidas norte-americanas para proteger suas siderúrgicas e favorece o Brasil.
No início do ano, a OMC também julgou irregular a "Emenda
Byrd", que autorizou o repasse,
para as indústrias do setor, do dinheiro arrecadado com as medidas antidumping contra a importação de produtos siderúrgicos. A
medida antidumping impõe uma
sobretaxa na importação de um
bem, sob a alegação de que ele é
vendido abaixo do preço de custo.
Os norte-americanos, de acordo
com os acertos na OMC, têm até
meados de dezembro para eliminar a "Emenda Byrd". Como no
caso da decisão sobre as salvaguardas, o Brasil poderá retaliar
as importações dos EUA caso a
emenda não seja eliminada.
Azevedo afirma que a retaliação
é sempre um recurso de última
instância. "Tradicionalmente, o
Brasil tem preferido negociar
compensações e evitar a retaliação", diz o diplomata. A retaliação
pode causar prejuízos ao próprio
país, pois pode encarecer a importação de insumos para a indústria. A compensação, por sua
vez, abre mercado para produtos
do país, pois é feita com base em
concessões comerciais.
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