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País investiga cartel de mangueiras marítimas
Além do Brasil, investigação ocorre nos EUA, Inglaterra e União Européia
Ação de grupo internacional teria causado prejuízo a empresas pretrolíferas;
no Brasil, maior vítima do cartel seria a Petrobras
VALDO CRUZ
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A SDE (Secretaria de Direito
Econômico), do Ministério da
Justiça, abriu um processo formal para investigar a atuação
de um cartel que fixava preços e
dividia o milionário mercado
mundial de mangueiras marítimas, utilizadas principalmente
por empresas petrolíferas. No
Brasil, a grande vítima do cartel
teria sido a Petrobras.
Segundo investigações praticamente simultâneas nos Estados Unidos, Inglaterra, União
Européia e Brasil, o cartel seria
formado por 11 empresas multinacionais e gerenciado por
um ex-executivo do setor, o britânico Peter Whittle.
As suspeitas recaem sobre
multinacionais como Pirelli,
Goodyear, Bridgestone, Sumitomo e Dunlop. No Brasil, as informações apontam como suspeitas de serem "donas" do
mercado a Goodyear e a Flexomarine. As outras empresas só
disputariam contratos quando
as duas não tinham capacidade
de atender ao pedido.
Ainda não é possível calcular
o prejuízo causado pelo cartel.
Dados levantados pelos investigadores apontam que o setor
faturou no mundo, entre 2000
e 2005, US$ 594 milhões. No
Brasil, o faturamento chegou a
US$ 48 milhões, a maior parte
com vendas para a Petrobras.
A investigação no Brasil começou há quatro meses, quando uma das empresas integrantes do suposto cartel procurou
a SDE oferecendo sua colaboração em troca de imunidade
na Justiça. Entre os dados fornecidos pela companhia delatora estão mais de mil páginas
de documentos, com minúcias
sobre a atuação do cartel. Os
detalhes do acordo foram combinados pela secretária de Direito Econômico, Mariana Tavares, nos Estados Unidos.
O nome da companhia, que
também deu informações às
autoridades internacionais, é
mantido sob sigilo, para proteger a apuração durante as investigações. Com base nos papéis enviados pela empresa, a
SDE conseguiu autorização para uma operação de busca e
apreensão no Brasil. O processo corre sob sigilo judicial.
Por causa das ramificações
do cartel, foram realizadas buscas simultâneas nos EUA, Reino Unido, França, Itália e Japão. Em um flagrante combinado com a empresa delatora, investigadores norte-americanos
detiveram oito executivos estrangeiros durante reunião do
cartel num hotel de Houston
(Texas) em maio deste ano.
Para escapar do processo na
Justiça, dois executivos franceses fizeram um acordo no dia 6
deste mês com o governo americano, declarando-se culpados. Com a combinação, Christian Caleca e Jacques Cognard
cumprirão 14 meses de prisão e
pagarão multas de US$ 75 mil e
US$ 100 mil, respectivamente.
Documentos obtidos pelo
Departamento de Defesa dos
EUA indicam que os preços do
cartel prejudicaram também
compras feitas por bases militares norte-americanas na Turquia e no Japão. As mangueiras
marítimas são utilizadas, entre
outras finalidades, para transportar petróleo das plataformas oceânicas para navios.
No Brasil, o processo administrativo permitirá que as empresas apresentem sua defesa.
Procuradas pela Folha na sexta-feira, a Goodyear e a Flexomarine não se manifestaram.
Se concluir que há prática de
cartel, a SDE encaminha o processo ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que
julgará o caso. De acordo com a
legislação, é preciso haver fortes indícios da prática de cartel
para a abertura do processo administrativo.
"Campeões do clube"
Segundo as investigações, o
cartel funcionaria desde o início dos anos 80 e ficou operante
até meados deste ano. O britânico Peter Whittle, chamado de
"consultor", definia quem deveria ser o "campeão" das licitações ou pedidos de compra
das mangueiras marítimas.
Segundo suas regras de funcionamento, cada licitação ou
pedido de compra devia ser informado pelas empresas do
cartel à consultoria de Whittle.
Ele repassava os dados aos
membros do esquema, chamado entre eles de "clube" ou "comitê técnico", e definia o preço
da oferta que deveria ganhar a
disputa. O consultor atuava
ainda como mediador, quando
havia divergências dentro do
"clube". Pelo seu trabalho, ganhava US$ 50 mil por ano de
cada membro do cartel.
Essas informações foram colhidas em depoimentos e retiradas de mensagens eletrônicas apreendidas nas empresas.
Nas mensagens, para evitar a
identificação das companhias,
elas eram identificadas por códigos, assim como as pessoas
que comandavam os negócios.
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