São Paulo, quinta-feira, 12 de novembro de 2009

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IOF faz saída de dólares superar entrada

De 19 de outubro a 6 deste mês, fluxo cambial estava negativo em US$ 1,39 bi; período coincide com a cobrança de 2% do imposto

Inversão do fluxo no país está diretamente ligada ao menor volume de ingresso de moeda nas aplicações em Bolsa e em renda fixa

EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fluxo cambial brasileiro ficou negativo na primeira semana do mês, após ter atingido o segundo maior resultado da história em outubro, de acordo com dados do Banco Central.
A conta, que registra a entrada e a saída de dólares do país nas operações comerciais e financeiras, não encerra um mês em deficit desde março, quando os efeitos da crise ainda eram fortemente sentidos.
Até o dia 6, o fluxo cambial estava negativo em US$ 1,388 bilhão. Pela conta comercial, a saída é de US$ 569 milhões. Pelo lado financeiro, o saldo é negativo em US$ 818 milhões.
A inversão do fluxo está diretamente ligada ao menor volume de ingresso de moeda estrangeira nas aplicações em Bolsa e em renda fixa nas últimas três semanas, período que coincide com a cobrança de 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre a entrada de capital externo.
A medida é um dos instrumentos adotados pela equipe econômica do governo para tentar conter a valorização do real. Até o dia 19 de outubro, quando a taxação foi anunciada pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), a média diária de ingressos de divisas nessas operações naquele mês chegava a US$ 2,137 bilhões. Mas, desde então, o desempenho caiu quase pela metade, para US$ 1,279 bilhão por dia útil.
Para Homero Guizzo, economista da LCA Consultores, a taxação do IOF foi fundamental para a queda do fluxo, pois dificilmente flutuação dessa magnitude ocorreria por um movimento normal do mercado. "As entradas vinham crescendo desde quando o pior da crise passou. A queda agora é forte demais para ser por acaso."
No entanto, segundo Guizzo, outros fatores como o aumento da aversão global ao risco também podem ter influenciado o resultado. Além disso, afirma, o efeito do IOF pode arrefecer com o passar do tempo. "Ainda é cedo para dizer se a taxação será eficiente para mudar a dinâmica do fluxo."
Já o estrategista-sênior do banco WestLB, Roberto Padovani, estima que a participação do IOF na retração dos ingressos nessas operações foi pequena. Para ele, a acomodação dos investidores é normal após um intervalo de crescimento. "Enquanto o mercado realiza os lucros, os agentes seguem em um período de cautela", explica.
Segundo Padovani, o peso do IOF se restringe à parcela do fluxo que foi redirecionada para a Bolsa de Nova York, onde também são negociadas ações de empresas brasileiras. Padovani diz que a taxação, por outro lado, elevou a percepção de risco em relação ao Brasil.
"A tributação não é significativa para conter o fluxo, mas afeta a imagem do país, que de repente mudou as regras do jogo. Assim, o imposto até funciona, mas pela razão errada."


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