São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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TRABALHO
Montadora também quer criar semana de quatro dias e suspender participação nos lucros e abono de férias
Volks propõe cortar 13º em troca de emprego

ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

A Volkswagen propôs ontem aos sindicatos a suspensão do pagamento do 13º salário, do abono de férias e da participação nos resultados da empresa em troca da garantia de emprego.
A meta da montadora, que conta com cerca de 30 mil funcionários em todo o país, é reduzir em 20% os custos para enfrentar a redução prevista nas vendas.
"A Volkswagen tem a necessidade de diminuir os gastos em cerca de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões em 99", disse o vice-presidente de Recursos Humanos da empresa, Fernando Tadeu Perez. A empresa deve registrar este ano um faturamento de US$ 9,8 bilhões.

Redução de jornada
A proposta da montadora prevê também redução de 20% na semana de trabalho -que passaria de cinco para quatro dias- sem cortar o salário mensal recebido pelos funcionários. "O que propomos é apenas suspender os pagamentos anuais extraordinários", explica Perez.
Ele calcula que o não-pagamento dessas parcelas representará um corte de 20% na folha de pagamento da empresa.
"Precisamos adequar os custos à realidade presente da nossa receita", diz. Segundo Perez, se o acordo for fechado não haverá necessidade de efetuar dispensas.
Apesar disso, Perez anunciou que a empresa pretende abrir um novo programa de demissões voluntárias nos próximos dias. Não será fixada uma meta de adesões.
Não é a primeira vez que a Volkswagen adota o sistema de redução de jornada com corte do salário anual. A experiência já foi feita em outros países, como Alemanha e Espanha, onde é conhecida como a "Semana Volkswagen".
Segundo Perez, as vendas mensais da Volkswagen caíram de 52 mil unidades para 31 mil, o mesmo nível de novembro de 97, quando houve a crise asiática. Com isso, o estoque da marca já atinge 50 mil unidades -20 mil nas fábricas e 30 mil nas revendas. A indústria mantém hoje estoque superior a 200 mil veículos.
Perez definiu a proposta apresentada aos sindicatos como "uma ponte" para enfrentar o atual período de crise que, segundo ele, deve durar mais que a anterior". Com base nessa estimativa, o vice-presidente da montadora prevê que a semana de apenas quatro dias deve continuar no mínimo até o final do primeiro trimestre de 99.
A proposta da Volkswagen foi apresentada a Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e Antonio Eduardo de Oliveira, do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. As duas entidades são filiadas à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
O objetivo da empresa é obter uma resposta o mais rapidamente possível. "Queremos fechar o acordo até o final do mês. Não temos tanto tempo para negociar como no ano passado", diz Perez.
No final de 97, a Volkswagen anunciou a intenção de demitir 10 mil funcionários para cortar o excedente de mão-de-obra. Após longas negociações, foi aberto um programa de demissões voluntárias que resultou na dispensa de 4.200 pessoas.

Consulta
Marinho diz que só vai dar uma resposta após se reunir com os trabalhadores da Volkswagen, que estão atualmente em férias coletivas. Eles voltam ao trabalho no dia 18.
"Se os trabalhadores aceitarem a abertura de negociações nessas bases, vamos tentar o melhor acordo possível", disse Marinho.
O sindicalista elogiou a decisão da Volkswagen de procurar evitar o recurso às demissões, mas disse que a alternativa apresentada representa uma perda de receita muito grande para os trabalhadores. "Esses benefícios têm peso muito grande na renda".
Para Marinho, é necessário pressionar o governo a negociar e fazer a economia retomar o crescimento.



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