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TRABALHO
Montadora também quer criar semana de quatro dias e suspender participação nos lucros e abono de férias
Volks propõe cortar 13º em troca de emprego
ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local
A Volkswagen propôs ontem aos
sindicatos a suspensão do pagamento do 13º salário, do abono de
férias e da participação nos resultados da empresa em troca da garantia de emprego.
A meta da montadora, que conta
com cerca de 30 mil funcionários
em todo o país, é reduzir em 20%
os custos para enfrentar a redução
prevista nas vendas.
"A Volkswagen tem a necessidade de diminuir os gastos em cerca
de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões em 99", disse o vice-presidente de Recursos Humanos da
empresa, Fernando Tadeu Perez.
A empresa deve registrar este ano
um faturamento de US$ 9,8 bilhões.
Redução de jornada
A proposta da montadora prevê
também redução de 20% na semana de trabalho -que passaria de
cinco para quatro dias- sem cortar o salário mensal recebido pelos
funcionários. "O que propomos é
apenas suspender os pagamentos
anuais extraordinários", explica
Perez.
Ele calcula que o não-pagamento
dessas parcelas representará um
corte de 20% na folha de pagamento da empresa.
"Precisamos adequar os custos à
realidade presente da nossa receita", diz. Segundo Perez, se o acordo for fechado não haverá necessidade de efetuar dispensas.
Apesar disso, Perez anunciou
que a empresa pretende abrir um
novo programa de demissões voluntárias nos próximos dias. Não
será fixada uma meta de adesões.
Não é a primeira vez que a Volkswagen adota o sistema de redução
de jornada com corte do salário
anual. A experiência já foi feita em
outros países, como Alemanha e
Espanha, onde é conhecida como a
"Semana Volkswagen".
Segundo Perez, as vendas mensais da Volkswagen caíram de 52
mil unidades para 31 mil, o mesmo
nível de novembro de 97, quando
houve a crise asiática. Com isso, o
estoque da marca já atinge 50 mil
unidades -20 mil nas fábricas e 30
mil nas revendas. A indústria mantém hoje estoque superior a 200
mil veículos.
Perez definiu a proposta apresentada aos sindicatos como "uma
ponte" para enfrentar o atual período de crise que, segundo ele, deve durar mais que a anterior". Com
base nessa estimativa, o vice-presidente da montadora prevê que a
semana de apenas quatro dias deve
continuar no mínimo até o final do
primeiro trimestre de 99.
A proposta da Volkswagen foi
apresentada a Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e Antonio Eduardo de
Oliveira, do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. As duas entidades são filiadas à CUT (Central
Única dos Trabalhadores).
O objetivo da empresa é obter
uma resposta o mais rapidamente
possível. "Queremos fechar o
acordo até o final do mês. Não temos tanto tempo para negociar como no ano passado", diz Perez.
No final de 97, a Volkswagen
anunciou a intenção de demitir 10
mil funcionários para cortar o excedente de mão-de-obra. Após
longas negociações, foi aberto um
programa de demissões voluntárias que resultou na dispensa de
4.200 pessoas.
Consulta
Marinho diz que só vai dar uma
resposta após se reunir com os trabalhadores da Volkswagen, que estão atualmente em férias coletivas.
Eles voltam ao trabalho no dia 18.
"Se os trabalhadores aceitarem a
abertura de negociações nessas bases, vamos tentar o melhor acordo
possível", disse Marinho.
O sindicalista elogiou a decisão
da Volkswagen de procurar evitar
o recurso às demissões, mas disse
que a alternativa apresentada representa uma perda de receita
muito grande para os trabalhadores. "Esses benefícios têm peso
muito grande na renda".
Para Marinho, é necessário pressionar o governo a negociar e fazer
a economia retomar o crescimento.
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