São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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VAREJO

Para analistas, empresário não deixará de "dar ordens" no Pão de Açúcar

Nova gestão pede Abilio "controlado"

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não acredito em companhias familiares, com tios, sobrinhos, primos zanzando pelos corredores. Por isso deixo a presidência. E não vou mais dar ordens." A frase, dita ontem por Abilio dos Santos Diniz, que em março de 2003 abandona a presidência do grupo Pão de Açúcar, após nove anos, reflete o atual momento da empresa. A rede de varejo inicia agora uma profunda reestruturação administrativa.
Analistas, porém, não acreditam que Abilio deixará de "dar ordens". Nos bastidores, comenta-se que as mudanças foram alvo de divergências. "O maior desafio desse novo modelo de gestão, com Abilio fora da direção, é ele se controlar", diz Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria. "Ele tem voz, opinião. Então, de um dia para outro, ele deixa de decidir certos assuntos?", diz.
"Vai ser difícil ele se afastar assim", diz Antonio Ascar, da Ascar & Associados. "Continuarei indo trabalhar todos os dias, mas sem a função anterior. Afinal, sem modéstia, sou a pessoa que mais entende de varejo no mundo", afirmou ontem o executivo.
Conforme a Folha antecipou, a rede anunciou ontem uma das mais amplas reestruturações administrativas de sua história. A partir de março, o executivo de 65 anos será o presidente do conselho de administração do grupo e presidente de um comitê executivo, que deve aprovar investimentos e o orçamento. Augusto Marques da Cruz, vice-presidente financeiro, será o presidente do grupo Pão de Açúcar.
Ana Maria Diniz, a filha de Abílio, pedirá demissão da empresa e abandonará o cargo de vice-presidente de operações. Deixa de cuidar da área de relações públicas e, numa mudança drástica, passa a ser a presidente do comitê de finanças, também ligado ao conselho de administração. Não ocupará mais a mesa que tinha ao lado do pai, no escritório da loja.
Diz que "foi uma das mais afetadas" com as medidas, que está "muito triste" e, após 12 anos na rede, irá fazer parte de um novo projeto em uma companhia americana. Meses atrás, rumores apontavam divergências internas no grupo, como consequência da reestruturação.
Teria sido oferecido a Ana Maria a chance de ocupar a vaga de presidente. Mas ela não aceitou, segundo a Folha apurou.
Na avaliação dela, a possibilidade de permanecer na empresa impediria que a cadeia fosse administrada só por profissionais. Ontem, ela disse que, "na família, somos muito espaçosos, e eles [os executivos" precisam de espaço para trabalhar". Com a entrada de Augusto Marques na presidência da rede, serão contratados dois profissionais para ocupar a sua vaga na vice-presidência.
A rede ainda criou, ao lado do comitê de finanças e do comitê executivo, um comitê de auditoria -para reavaliar os relatórios de auditoria em seus balanços. João Paulo, filho de Abilio, ficará no comitê de marketing "que deve preservar o DNA da família Diniz no grupo", diz Abílio.
Tudo feito com uma meta: deixar o grupo mais transparente, aos olhos do mercado, para atrair investidores.
Esse modelo de vários conselhos dentro do conselho de administração -que atuará de forma mais ativa- faz parte do conceito de "governança corporativa". Algo adotado no exterior e bem visto no mercado. Isso porque o presidente do conselho (que apóia ou não as medidas da direção) deixa de ser o presidente da empresa. Não há choques entre as funções.

Casino fora da jogada
Com a mudança, a empresa fica afinada para dar um próximo passo. Em agosto, o Casino -rede francesa dona de 25,5% do Pão de Açúcar- tem o direito, previsto em contrato, de comprar mais 8% das ações da empresa. E, em agosto de 2004, mais 8%. Com isso, mais dinheiro será injetado na companhia. Essa opção só será executada se o Casino se interessar pelo negócio. Com a empresa administrada de forma ajustada, isso pode acontecer.
Não existe a possibilidade de o Casino vender os 25% de participação pra outras redes, como era especulado. Está definido, em contrato, que a cadeia francesa está impedida de vender sua parte, e isso por tempo indeterminado.


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