São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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EM TRANSE

Captação de US$ 175 mi pelo Bradesco, a maior feita bancos locais desde setembro, sinaliza melhora do cenário

Crédito externo começa a voltar ao país

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A captação de US$ 175 milhões concluída ontem pelo Bradesco, com a colocação de eurobônus no exterior, sinalizou para o mercado que o fluxo de recursos começa a voltar ao país. "Com certeza, é o começo da inversão da secura do crédito internacional", diz José Guilherme Lembi de Faria, diretor-executivo do banco.
Essa foi a maior operação feita por bancos locais desde o final de setembro, quando secou o financiamento externo, às vésperas do segundo turno eleitoral.
O resultado da operação foi três vezes e meia superior ao valor inicial pretendido pelo banco, de US$ 50 milhões, e será destinado ao financiamento do capital de giro de empresas locais. "Há duas semanas não conseguiríamos captar esse montante; o mercado melhorou muito para o Brasil nos últimos dez dias", diz Faria.
Para o presidente do ABN-Amro, Fábio Barbosa, "o fluxo [de investimentos] começa a voltar, não é só uma "janela" temporária". Antes do Bradesco, o banco Votorantim havia fechado, na segunda-feira, uma operação com eurobônus no valor de US$ 115 milhões. No último dia 26, o ING Barings do Brasil captou US$ 50 milhões também em eurobônus.
O ABN, segundo Barbosa, também "está testando o apetite do mercado internacional" e prepara uma captação de US$ 50 milhões. "Parece que há demanda por papéis brasileiros com vencimentos de seis a nove meses."

Cenário otimista
Executivos de importantes bancos ouvidos pela Folha acreditam que a partir de janeiro o fluxo de recursos externos para o país aumentará se não houver mudanças nos cenários interno e externo. "A aversão ao risco está caindo no mundo todo, desde o final de setembro", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN-Amro Asset Management.
O retorno dos financiamentos, segundo Faria, também estaria sendo estimulado pelo discurso moderado do governo eleito e pela boa aceitação que estão tendo no mercado os nomes que vêm sendo cogitados para compor seu ministério.
A volta de recursos estrangeiros vale tanto para as captações de bancos locais destinadas a financiar empresas brasileiras como para o comércio exterior.
"De 35 bancos estrangeiros que consultei, que não têm base no país, metade está pedindo autorização às suas áreas de análise de risco para voltar a financiar o comércio exterior brasileiro no próximo ano", diz Lúcio Moura, gerente-principal da divisão internacional do Lloyds TSB.
Segundo ele, os bancos estrangeiros ainda estão um pouco reticentes pois querem fechar seus balanços com exposição pequena no Brasil. Isso porque os acionistas e analistas internacionais não vêem com bons olhos bancos muito expostos nos mercados emergentes, o que desvaloriza suas ações em Bolsa. "Mas a partir de janeiro esses bancos voltarão ao mercado", diz Moura.
Os eurobônus emitidos pelos bancos brasileiros nos últimos dias foram adquiridos por investidores pessoas físicas. No caso do Bradesco, 70% dos papéis foram para as carteiras de "private banking" e 30% para fundos de renda fixa, segundo Faria.
O banco pagará taxa de 6,75% ao ano, que chegará a 6,81% devido ao desconto dado no valor dos títulos. "É muito superior ao que esses investidores conseguem lá fora, em torno de 1% ao ano", diz Moura.


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