São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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Mercado de trabalho reage com demanda interna maior

Pressão inflacionária menor favoreceu consumo, e formalidade conteve cortes, dizem analistas

Aumento da participação de serviços e construção civil no total de ocupados contribuiu para certa rotatividade, afirma Fábio Romão, da LCA


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O professor de relações do trabalho da USP José Pastore diz que a crise não conseguiu reverter a tendência de redução do tempo gasto para o trabalhador se recolocar no mercado -ou seja, continuou havendo geração de postos- devido à ativação do consumo e à expansão do crédito e da renda (via salários e programas sociais de transferência).
A demanda interna continuou sustentada -quando ocorre o inverso, as empresas demitem e não recontratam.
Fábio Romão, da LCA, ressalta que o poder de compra ainda foi preservado por uma "descompressão inflacionária": o INPC acumulado nos 12 meses estava próximo dos 7% ao fim de 2008, passando para 4,5% em meados deste ano.
Ele acrescenta que o aumento da formalidade -que desencoraja demissões em massa, devido ao custo com direitos trabalhistas- pode ter contribuído. Quanto menor a concorrência, menor o tempo de procura.
"O que os dados me ajudaram a entender é que a crise realmente foi antecipada, inclusive por mim, como muito mais dramática para o mercado de trabalho do que realmente foi. Não quer dizer que não foi nada -o Brasil vai gerar muito menos empregos do que em 2008. Mas o que se antecipava é que haveria um quadro inverso, de destruição dos empregos existentes. E isso não ocorreu", afirma José Pastore.
O aumento da participação dos setores de serviços e construção civil no total da mão de obra também contribuiu para certa rotatividade, diz Romão.
O trabalhador desligado da indústria, setor mais afetado pela crise e com perspectivas ruins no primeiro semestre, pôde migrar para construção civil ou serviços, aceitando um salário mais baixo. O desempregado havia mais de um ano também pôde se incorporar a esses setores, que exigem conhecimento técnico menor.

"Mercado azeitado"
Para o secretário municipal do Trabalho de São Paulo, Marcos Cintra, os dados mostram que "o mercado de trabalho está mais azeitado".
"A demanda continua robusta e, por outro lado, os mecanismos de oferta de mão de obra, capacitação e troca de informação estão fazendo com que o mercado esteja mais ágil."
O secretário se refere aos CATs (Centros de Amparo ao Trabalhador), criados em 2005. Economista da FGV, Cintra relaciona a melhora, ao longo dos anos, ao crescimento econômico, medido pelo PIB.
Menos otimista, Bernardo Wjuniski, da Tendências, diz que a queda neste ano não reflete maior facilidade em achar emprego, mas a estabilização da PEA (População Economicamente Ativa, soma de ocupados e desempregados).
Em 2008, quando o PIB brasileiro cresceu 5,1%, a PEA da região aumentou 2,9%. Como o nível de ocupação cresceu acima, 4,6%, significa que mais gente entrou no mercado e que mais gente conseguiu vaga -o que redundou na queda abrupta do tempo de procura.
"O tempo continua caindo, mas agora não é necessariamente positivo." Isso porque a PEA não está crescendo -o que "indica que tem muita gente para entrar, no próximo ano".
Se a economia brasileira continuar crescendo em ritmo forte, afirma Wjuniski, e o mercado de trabalho continuar aquecido, a tendência é que esse tempo médio suba em um primeiro momento e, depois, volte a cair, convergindo para um patamar mais baixo. (NATÁLIA PAIVA)


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