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Mercado de trabalho reage com demanda interna maior
Pressão inflacionária menor favoreceu consumo, e formalidade conteve cortes, dizem analistas
Aumento da participação de serviços e construção civil no total de ocupados contribuiu para certa rotatividade, afirma Fábio Romão, da LCA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O professor de relações do
trabalho da USP José Pastore
diz que a crise não conseguiu
reverter a tendência de redução do tempo gasto para o trabalhador se recolocar no mercado -ou seja, continuou havendo geração de postos- devido à ativação do consumo e à
expansão do crédito e da renda
(via salários e programas sociais de transferência).
A demanda interna continuou sustentada -quando
ocorre o inverso, as empresas
demitem e não recontratam.
Fábio Romão, da LCA, ressalta que o poder de compra ainda
foi preservado por uma "descompressão inflacionária": o
INPC acumulado nos 12 meses
estava próximo dos 7% ao fim
de 2008, passando para 4,5%
em meados deste ano.
Ele acrescenta que o aumento da formalidade -que desencoraja demissões em massa, devido ao custo com direitos trabalhistas- pode ter contribuído. Quanto menor a concorrência, menor o tempo de procura.
"O que os dados me ajudaram a entender é que a crise
realmente foi antecipada, inclusive por mim, como muito
mais dramática para o mercado
de trabalho do que realmente
foi. Não quer dizer que não foi
nada -o Brasil vai gerar muito
menos empregos do que em
2008. Mas o que se antecipava é
que haveria um quadro inverso,
de destruição dos empregos
existentes. E isso não ocorreu",
afirma José Pastore.
O aumento da participação
dos setores de serviços e construção civil no total da mão de
obra também contribuiu para
certa rotatividade, diz Romão.
O trabalhador desligado da
indústria, setor mais afetado
pela crise e com perspectivas
ruins no primeiro semestre,
pôde migrar para construção
civil ou serviços, aceitando um
salário mais baixo. O desempregado havia mais de um ano
também pôde se incorporar a
esses setores, que exigem conhecimento técnico menor.
"Mercado azeitado"
Para o secretário municipal
do Trabalho de São Paulo, Marcos Cintra, os dados mostram
que "o mercado de trabalho está mais azeitado".
"A demanda continua robusta e, por outro lado, os mecanismos de oferta de mão de obra,
capacitação e troca de informação estão fazendo com que o
mercado esteja mais ágil."
O secretário se refere aos
CATs (Centros de Amparo ao
Trabalhador), criados em
2005. Economista da FGV,
Cintra relaciona a melhora, ao
longo dos anos, ao crescimento
econômico, medido pelo PIB.
Menos otimista, Bernardo
Wjuniski, da Tendências, diz
que a queda neste ano não reflete maior facilidade em achar
emprego, mas a estabilização
da PEA (População Economicamente Ativa, soma de ocupados e desempregados).
Em 2008, quando o PIB brasileiro cresceu 5,1%, a PEA da
região aumentou 2,9%. Como o
nível de ocupação cresceu acima, 4,6%, significa que mais
gente entrou no mercado e que
mais gente conseguiu vaga -o
que redundou na queda abrupta do tempo de procura.
"O tempo continua caindo,
mas agora não é necessariamente positivo." Isso porque a
PEA não está crescendo -o que
"indica que tem muita gente
para entrar, no próximo ano".
Se a economia brasileira continuar crescendo em ritmo forte, afirma Wjuniski, e o mercado de trabalho continuar aquecido, a tendência é que esse
tempo médio suba em um primeiro momento e, depois, volte
a cair, convergindo para um patamar mais baixo.
(NATÁLIA PAIVA)
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