São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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BELEZA BRASILEIRA

Pesquisa do setor revela aumento do uso de cosméticos por homens e mulheres e aumento do mercado de trabalho

Vaidade move indústria que cresce 5% ao ano

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

A vaidade do brasileiro aquece a indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, setor que cresceu em média 5% ao ano nos últimos dez anos. O faturamento do setor, em 2004, foi de 6,5% do total obtido pela indústria química, cerca de US$ 3,9 bilhões. O Brasil é considerado hoje o quinto maior mercado de cosméticos do mundo.
A expansão do mercado se deve -segundo a pesquisa "O impacto socioeconômico da Beleza 1995-2004", da UFF (Universidade Federal Fluminense)- à maior presença da mulher no mercado de trabalho e à beleza ter se tornado uma variável econômica: é fator de discriminação no mercado de trabalho. A partir da década de 1980, segundo a pesquisa, a aparência física passou a ser um fator importante e influir até nos salários das pessoas.
Pesquisa realizada nos EUA e no Canadá, no início dos anos 1990, concluiu que as pessoas que cuidam da aparência ganham entre 5% e 10% a mais do que os que não têm boa aparência. Segundo a coordenadora da pesquisa da UFF (feita para a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), Ruth Dweck, no Brasil a média é semelhante.
"A inserção da mulher no mercado de trabalho, a partir da década de 1970, e o aumento do poder aquisitivo delas faz com que o mercado da beleza cresça. Agora, também os homens estão dando importância à aparência física para galgar posições melhores no mercado de trabalho", afirma.
Além disso, o medo de parecer velho, agregado à longevidade da população, não é mais uma preocupação só das mulheres. A moda, como não poderia deixar de ser, também é fator explicativo para o bom desempenho das atividades relativas à beleza.
A preocupação com a beleza tem impulsionado ainda o setor de serviços, com a sofisticação dos salões e clínicas de estética e o quase desaparecimento das barbearias, com seus serviços mais simples, baseados apenas no corte de cabelos.
"Hoje, os homens procuram os salões para terem cortes personalizados. Não é mais: passar a navalha e cortar o cabelo. Agora, a gente analisa qual o corte se adapta mais ao formato de rosto dele. Eles também não usam mais gel no cabelo e preferem os finalizantes, como mousse e pastas de finalização", disse o cabeleireiro Eduardo Castro, 42.
Entre os homens, o público alvo das atividades de beleza, segundo a pesquisa, estão na faixa entre 25 e 34 anos, com alto poder aquisitivos e que consomem cerca de 17 produtos de beleza regularmente. A faixa etária das mulheres é de 35 a 54 anos. Os produtos mais vendidos são cosméticos, principalmente os produtos para cabelos: tinturas, alisantes, fixadores e modeladores.
De acordo com a pesquisa, o setor atribui o aumento do consumo de cosméticos e serviços de beleza à maior produtividade e utilização de novas técnicas.
Há também um estímulo ao incremento da produção das indústrias farmacêuticas e de material elétrico, como secadores de cabelo menores e mais leves, que permitem maior liberdade de movimento aos profissionais de beleza.
Com o crescimento do mercado, mudou um pouco a estrutura de emprego para os profissionais da beleza. Dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2003 mostra que há 1.042.748 pessoas nas funções de profissionais de higiene pessoal no Brasil.
Entre cabeleireiros, manicures, massagistas e outros profissionais, o que mais aumentou foi o número de "técnico esportista", ou "personal trainner": subiu 2.300%. Há dez anos no mercado, Tércio Martin, 39, percebe a mudança. "No início, eu tinha um ou dois alunos, agora chego a ter dez. Mas como é um serviço caro, é o primeiro a ser cortado quando o orçamento do aluno aperta."
Ele disse perceber que os alunos não buscam saúde quando vão se exercitar. "As pessoas pensam na estética, não pensam na saúde. Elas estão preocupados com o que vão mostrar na praia. A febre do personal aqui no Rio é maior do que em São Paulo, por exemplo, porque a cobrança pelo corpo bonito é maior", disse.
O mercado da beleza ainda emprega mais mulheres (cerca de 80% dos trabalhadores) que homens e, como de praxe em quase todas as profissões, eles ganham mais. Devido à pouca qualificação exigida, a maior parte (30%) dos empregados no setor ganha entre 1 e 4 salários mínimos.
A média salarial de homens que terminaram o ensino fundamental é de 3,3 mínimos, enquanto a das mulheres com o mesmo nível de escolaridade é de 2,6 mínimos.
Com a sofisticação dos serviços, vem crescendo o número de profissionais com nível universitário. Em 2001, 10% dos empregados haviam concluído o terceiro grau.


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